Uma vida dedicada ao taekwondo: o mestre Volnei Zago e o seu primeiro aluno, Leandro Pereira, que desde então pratica o esporte, levando o nome de Bento Gonçalves consigo em competições nacionais, têm suas trajetórias associadas diretamente à história da Academia Zago. Com 21 anos de atuação no município, a equipe já graduou 15 atletas faixas pretas e contou com um total de quatro atletas competindo no mais alto nível do taekwondo brasileiro.
A arte marcial coreana, cujo nome significa "o caminho dos pés e das mãos", entrou para o quadro de esportes olímpicos em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona. Desde 2001, a modalidade é fomentada pela Academia Zago em Bento Gonçalves. O mestre Volnei Zago foi o responsável por abrir a academia para a formação de atletas de todas as idades. Hoje, por conta da pandemia, o número de alunos decaiu consideravelmente. No entanto, a partir de 2022, o objetivo da academia é retomar os trabalhos com maior intensidade, sobretudo com crianças e adolescentes do município.
A paixão de Volnei pelas lutas foi motivada pelos filmes e campeonatos que passavam na televisão na década de 1990. Em sua cidade natal, a convite de um professor em sua escola, o mestre começou a praticar o esporte. Após inúmeras conquistas na modalidade, desde estaduais até em nível internacional, Volnei passou se dedicar a ensinar e fomentar a modalidade.
Atualmente, Volnei Zago é faixa preta 5º DAN, sendo um dos poucos mestres de taekwondo na Serra Gaúcha. “Comecei a dar aula em 1994 e, em Bento, a partir de 2001. Ministrei aulas em várias cidades do interior do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, relata.
A Academia Zago teve como sua primeira sede o Clube Botafogo e a Escola Bento Gonçalves, no Centro. E foi na instituição de ensino que o bento-gonçalvense Leandro Pereira iniciou sua trajetória na modalidade, com apenas 14 anos de idade. “Parece que foi ontem que começamos. Hoje sou faixa preta, competindo nacionalmente em alto nível e tenho toda uma história com o mestre Volnei Zago, que sempre nos apoiou e esteve disposto a renunciar a muitas coisas da vida dele para nos treinar. É uma trajetória bem legal que construímos juntos na academia”, pondera.
Com 21 anos de taekwondo, Leandro é um dos atletas da Academia que mais obteve êxito em competições de nível nacional. Em 2021, o taekwondista foi medalhista de bronze no Super Campeonato Brasileiro, se mantendo entre os três melhores atletas da sua categoria por mais um ano. Nesta temporada, o bento-gonçalvense havia conquistado a vaga para disputar o Campeonato Sul-Americano, o qual não foi realizado por conta da pandemia.
Além de Leandro, outros três atletas da Academia Zago já atuaram em competições de nível nacional. Dentre eles o jovem bento-gonçalvense Victor Bruckmann, de 15 anos, o qual já competiu no Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e no Grand Slam. O lutador pratica a modalidade desde os 4 anos de idade. “Quando era criança o taekwondo foi me apresentado na minha escola. Eu gostava muito de lutas, me interessei e comecei a fazer o esporte”, explica.
O irmão e a mãe de Victor também já praticaram a modalidade. Por dois anos, o jovem atleta esteve presente na Seleção Gaúcha. Por conta da pandemia, o taekwondista, que é faixa preta na modalidade, não conseguiu manter os treinamentos para voltar a competir já em 2021. “Em minha trajetória já competi em Campeonato Brasileiro, Super Brasileiro, Copa do Brasil, Grand Slam, além das seletivas estaduais”, relata.
2022: objetivo é a retomada dos treinos com crianças e adolescentes
Atualmente, a academia Zago realiza os seus treinamentos na EBD Combate, no bairro Santa Marta, atendendo cerca de 20 alunos das mais diversas idades. No entanto, para o próximo ano, o objetivo é retomar as turmas juvenis com a inserção e formação de crianças e adolescentes no taekwondo, assim como era realizado anterior ao advento da pandemia.
De acordo com Volnei, o objetivo da Academia vai muito além da formação de atletas. “O principal de tudo isso não são as medalhas, os troféus, e sim formar cidadãos e dar uma direção positiva para as pessoas que praticam o esporte. Quando comecei a treinar, entre meus 15 e 16 anos, o taekwondo sempre foi uma válvula de escape para as dificuldades do dia a dia”, poderá o mestre, que complementa:
“O que nos motiva é isso: ver que conseguimos dar um aporte não só emocional, como educacional às crianças, vê-las progredindo, indo bem na escola, com bom comportamento e, além de tudo, se desenvolvendo na academia. Além de você ser campeão ou não, o que vale muito é a preparação, o foco. Ensinando-os a focar numa competição, num objetivo, aprendem que qualquer dificuldade na vida pode ser vencida, assim como se vence na competição”, explica Volnei.
Leandro ressalta sobretudo, que não há idade para praticar o taekwondo. “Estamos há tanto tempo na modalidade que esquecemos da essência de ver uma criança ou uma pessoa com mais idade lutando, de ver o sorriso de uma criança no tatame aprendendo a chutar, se desenvolvendo, sendo disciplinado. Vi muitas crianças treinando e se tornando competidores de grande potencial, como o Victor. Queremos formar essas crianças, pois o esporte engrandece muito, pois ensina a ser uma pessoa melhor, ser um bom profissional na sua empresa, um bom pai, um bom filho”, explica.
Referência na Serra Gaúcha e no estado
Na região da Serra Gaúcha, Volnei Zago promove um trabalho que se tornou referência na formação de atletas para a Seleção Gaúcha, sobretudo na última década. “O mestre Volnei Zago é uma referência muito grande no esporte. Sempre tivemos bons atletas, mesmo a maioria competindo só em estaduais”, comenta Leandro.
Conforme Leandro Pereira, o Estado, antigamente, era uma potência no esporte, e agora está voltando a crescer para se tornar novamente protagonista no país. “São vários os atletas gaúchos que disputaram o Campeonato Brasileiro. Temos uma expectativa muito boa para o ano que vem, com vários campeonatos, e acredito que em 2022 teremos coisas boas para somar no taekwondo do Estado”, analisa.
Como o atleta de taekwondo alcança a seleção brasileira?
O atleta de taekwondo necessita disputar primeiramente as seletivas estaduais para buscar uma vaga no Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. Ambas as competições nacionais computam pontos no ranking nacional, cujos os dois primeiros lutadores de cada categoria têm a primeira oportunidade de disputar a seletiva fechada, conhecida também como Grand Slam, que define os taekwondistas que integram a Seleção Brasileira. Já para alcançar a vaga nas Olimpíadas, os atletas necessitam adquirir pontos por meio das competições de nível mundial.
Taekwondo brasileiro nas Olímpiadas Tóquio 2020:
Nesta edição dos Jogos Olímpicos, o Brasil contou com três atletas na disputa do taekwondo. Nas categorias masculinas, Edival Pontes, mais conhecido como Netinho, representou o Brasil no até 68kg, e Ícaro Miguel lutou pela classificação no até 80kg. Pelo lado das mulheres, Milena Titoneli buscou classificação e pódio na categoria de até 67kg, e foi a que chegou mais perto da medalha, mas foi derrotada na disputa pelo bronze.
“O Brasil tem atletas de muito potencial, e faz alguns anos que o Brasil coloca entre dois a três atletas nas Olimpíadas. O Brasil está crescendo a cada ano e tenho certeza que nas próximas vão vir mais medalhas para o país na modalidade”, opina Leandro Pereira.
Na história do taekwondo brasileiro, dois atletas do país já conquistaram medalhas em Jogos Olímpicos. Nas Olimpíadas de Pequim 2008, Natália Falavigna foi a primeira atleta da modalidade a trazer para casa uma medalha, conquistando o bronze. Na Rio 2016, Maicon de Andrade também obteve a medalha de bronze.
Como fazer parte da Academia Zago:
Para quem inicia na modalidade, conforme explica Volnei Zago, aprende tanto a parte olímpica do esporte como a parte marcial da modalidade, que é voltada à defesa pessoal. Posteriormente, pode-se optar por seguir por uma dessas ramificações, ou por ambas. Para conhecer a academia e o esporte e fazer parte dos treinos, basta entrar em contato com a EBD Combate pelo fone (54) 99119-0799.
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