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Como a Câmara de Bento Gonçalves se tornou um jogo de um só jogador?

Presidente Anderson Zanella decidiu mudar o Regimento Interno, definiu o que vai ser mudado e quem fará parte da comissão que fará as mudanças.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio
24/10/2025 às 13h34 Atualizada em 25/10/2025 às 09h18
Como a Câmara de Bento Gonçalves se tornou um jogo de um só jogador?
Sem dar chances para opiniões contrárias, presidente Zanella vai fazendo o que bem entende no Legislativo - Foto: Reprodução/Especial

A Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves vive dias de ironia institucional. O presidente do Legislativo, Anderson Zanella (PP), que tantas vezes se apresentou como defensor rigoroso do Regimento Interno, acaba de dar uma interpretação bastante pessoal do que é “cumprir as regras da Casa”.

Em 13 de outubro de 2025, Zanella protocolou o Requerimento nº CMBG-RQO-2025/00016, pedindo a criação de uma Comissão Especial para apresentar proposta de alteração do Regimento Interno. No pedido, ele mesmo delimitou os artigos que deveriam ser alterados — 3º, 10, 11, 12, 13, 24, 29, 60, 101, 111, 121, 128, 146, 152 e 162 — alegando inconsistências jurídicas e necessidade de adequação à Lei Orgânica do Município.

Nada de errado até aí. O problema começou logo depois.

No dia 23 de outubro, o presidente promulgou a Resolução nº CMBG-RES-2025/00447, criando a referida comissão. E fez isso sem seguir o próprio artigo 64 do Regimento Interno, que é claríssimo ao determinar que as comissões temporárias — como a especial — devem respeitar o critério da proporcionalidade partidária, garantindo a participação de todas as bancadas com representação na Câmara.

Em vez disso, Zanella montou a comissão apenas com aliados da base governista, ignorando completamente os líderes das bancadas do MDB e dos Republicanos, que sequer foram consultados. A lista de integrantes confirma o viés político: Thiago Fabris (PP), José Antônio Gava (PSDB), Gilmar Pessutto (União), Letícia Bonassina (PL), Lúcio Lanes (PDT) e até Marlene Pelicioli (Cidadania) — suplente e aliada da base — ocupam as cadeiras da nova comissão. Nenhum vereador de oposição foi incluído.

O resultado prático é que a Comissão Especial criada para “harmonizar a legislação” nasce sem harmonia política e, ao que tudo indica, com pauta definida de antemão pelo próprio presidente.

O presidente e seu tabuleiro

A movimentação de Zanella revela algo mais profundo do que uma mera disputa interna: mostra um Legislativo concentrado em uma só mão. Ele atua como presidente, articulador e árbitro do jogo, definindo as regras conforme o tabuleiro lhe convém.

A Resolução assinada no dia 23 dá à comissão prazo de apenas 30 dias, prorrogáveis por mais 20, para concluir o trabalho — tempo curto o bastante para impedir qualquer debate mais amplo. O que se espera, realisticamente, é um texto pronto e aprovado com celeridade, sem espaço para divergências.

O discurso da “modernização do Regimento” soa bem, mas o método lembra os tempos em que o poder se confundia com a vontade de quem empunhava a caneta.

O dono do campinho

Na prática, a Câmara de Bento Gonçalves funciona hoje como um campo de jogo com dono definido. E o dono é Anderson Zanella.

Ele define o que deve ser mudado, quem deve mudar e em quanto tempo deve mudar. Os demais, mesmo que eleitos para representar a pluralidade política da cidade, têm papel coadjuvante.

A ironia maior é que essa mudança nasce sob o pretexto de “corrigir inseguranças jurídicas” — e termina, justamente, criando uma insegurança política ainda maior: a de um Legislativo que abandona o debate e se curva à conveniência.

Se o novo Regimento incluir uma regra que limite o tempo de presidência da Câmara a dois anos, talvez haja um sopro de coerência, em um vendaval de atrocidades. Mas, sinceramente, é pouco provável. Afinal, quem dita as regras, dificilmente escreve uma que o obrigue a deixar o trono.

Bento Gonçalves vive um tempo em que o Regimento é invocado, mas não seguido; citado, mas não respeitado.
E, como se diz nos bastidores, por lá “a banda toca do jeito que o maestro quer”.

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Indio Oliveira Há 2 semanas Bento Gonçalves Todo mundo de bico bem fechado. Nas últimas eleições só os amigos do rei foram eleitos. Não tem ninguém de oposição ali na câmara. Não tem ninguém de esquerda. Só os amiguinhos. Agora querem reclamar? Porque? Porque agora viram como a banda toca. É o clube do eu sozinho. Aguentem. Não tem voz discordante no plenário. Então, aguentem. E a população? Aguentem. Elegeram só os amiguinhos. Agora Aguentem.
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Coluna de opinião sobre Bento Gonçalves e região assinada pelo jornalista Marcelo Dargelio.
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