Ler a matéria publicada em um jornal de Cachoeira do Sul do qual sou articulista sobre o projeto “Devolvendo Campinhos”, apresentado por um vereador que pede a implantação de campinhos de futebol em terrenos baldios, me fez viajar em minhas lembranças, de volta aos tempos de guri.
Lá pelo fim da década de 1970 e início da 1980, eu tinha entre 12 e 15 anos e integrava o grupo de guris que jogava bolita “a ganhis”, colecionava os cards de jogadores que vinham no chiclete Ping Pong, juntava tampinhas de Coca-Cola para trocar por ioiôs, jogava bola no campinho de terra batida e com traves de taquaras que ficava algumas quadras de distância da residência de meus pais, e onde hoje está instalada uma revenda de automóveis, e usava Kichute. O compositor Léo Nogueira, escreveu: “O Kichute era uma espécie de rebento pardo, filho de pai tênis com mãe chuteira, um animal híbrido, imponente como uma pantera, que atuava igualmente em jogos em campos ou quadras”.
Se você é homem, faz parte da Geração “enta” (a dos com mais de quarenta anos de idade) e jogou bola em campinho de pelada, talvez se lembre das regras: depois de escolhido os times, dois dos jogadores disputavam no par ou ímpar para ver quem jogaria sem camisa; geralmente o mais ruinzinho de cada time era escalado como goleiro ou adotava-se o rodízio: cada guri atacava até sofrer um gol; as faltas eram marcadas no grito; quem chutava a bola para longe tinha que ir buscá-la; e mesmo que estivesse 10 a 0, a partida acabava com “quem faz, ganha”.
Com o passar do tempo, as cidades foram se transformando e os campinhos – lugares de entretenimento, principalmente dos meninos mais pobres –, foram dando lugar a prédios e casas. Restou para a criançada as jogadas, os gols e a vibração da torcida no Playstation. E agora o projeto “Devolvendo campinhos” quer resgatar as boas lembranças de uma galerinha que sonhava em ser Zico e Pelé e que marcou uma geração: os guris que usavam Kichute.
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