Com a manutenção da suspensão das aulas no Rio Grande do Sul, que já foi anunciada pelo governador Eduardo Leite, muitos pais cujos filhos estão matriculados em escolas particulares têm levantado questionamentos sobre os valores pagos nas mensalidades. A perda de renda em meio à pandemia de Coronavírus, ou o simples entendimento de que a rotina virtual de estudos não é tão abrangente quanto à presencial, levam inúmeras famílias a cobrar descontos por parte dos educandários.
O debate fez com que a Defensoria Pública (DPE-RS), por meio do seu Núcleo de Defesa do Consumidor e Tutelas Coletivas, sugerisse às instituições que considerassem a possibilidade de um abatimento proporcional nos custos mensais, além de não cobrar multa e juros moratórios de inadimplentes, facilitar o pagamento parcelado e estabelecer um canal de comunicação direta com os responsáveis sobre o assunto. Na outra ponta, o Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS) orienta – e já defendeu essa posição junto ao Ministério Público – que os colégios não adotem descontos lineares (para todos os alunos), pois isso poderia comprometer a qualidade do serviço prestado a curto e médio prazo.
Ainda em março, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) já havia publicado uma nota na qual recomendava "que consumidores evitem o pedido de desconto de mensalidades a fim de não causar um desarranjo nas escolas que já fizeram sua programação anual, o que poderia até impactar o pagamento de salário de professores, aluguel, entre outros". Na ocasião, a Senacon pontuou que era preciso que os órgãos de defesa do consumidor auxiliassem na conciliação em busca de alternativas que minimizassem os problemas, como as aulas on-line e a recuperação de dias letivos, por exemplo – tudo na tentativa de evitar que o impasse pudesse parar na Justiça.
Estrutura e diálogo
Inevitavelmente, a discussão também chegou a Bento Gonçalves, que conta com cinco escolas particulares. Nesta semana, o NB Notícias entrou em contato com todas as direções dos colégios privados do município, a fim de buscar informações a respeito das negociações de mensalidades e com relação à estrutura disponibilizada neste período de paralisação das atividades presenciais. Apenas um deles não respondeu ou retornou as ligações ou e-mails, mesmo com insistência por parte da reportagem.
Confira abaixo o posicionamento de cada um:
Colégio Mutirão Objetivo: De acordo com a diretora Adriana Bettinelli Postingher, todos os alunos terão, a partir das mensalidades pagas em maio (referentes a abril), 10% de desconto. Além disso, alguns pais também têm solicitado parcelamentos ou adiamentos dos pagamentos, o que é negociado individualmente. Para garantir a continuidade do aprendizado, as classes agora à distância seguem o horário tradicional, das 7h30 às 11h55, mas exploram diferentes ferramentas para chamar a atenção dos alunos, como videoaulas, slides comentados, plantões de dúvidas e chats com os professores. "A escola não fechou as portas. Estamos mantendo a rotina dos alunos e o tempo deles está sendo muito bem aproveitado. O retorno que estamos recebendo é extremamente positivo", afirma Adriana.
Uma das estratégias para avaliar constantemente o desempenho do novo formato de ensino é o diálogo com os líderes de turma sobre as experiências vivenciadas, através de reuniões virtuais e grupos de WhatsApp. Os professores elaboram todo o material em homeoffice, com o suporte da escola. Na agenda on-line, disponibilizada através de um aplicativo, tanto os estudantes como os responsáveis têm acesso a todas as atividades semanais.
Colério Marista Aparecida: Conforme a diretora Silvia Pagot Marodin, a rede optou por não conceder um desconto linear, mas permanece aberta para discutir as necessidades apresentadas por cada família, mantendo um canal de comunicação para receber e debater estas demandas individualmente. Nesse período, o colégio ampliou o uso de plataformas que já eram empregadas de maneira complementar no processo de aprendizagem, explorando de maneira mais ampla a postagem de atividades, a publicação de vídeos produzidos pelos educadores e transmissões ao vivo que, em algumas situações, até reúnem dois ou mais professores para explanar conjuntamente sobre determinados conteúdos.
As conversas on-line entre docentes e estudantes são constantes, tanto em chats como por e-mail, para evitar que as dúvidas a respeito das disciplinas se acumulem. No caso da educação infantil, além do envio de materiais através dos pais, os professores também sugerem atividades para a família, cujos resultados são depois compartilhados com a escola. "A ideia é que a gente possa seguir avançando, mesmo que seja em um ritmo diferenciado. E os professores estão sendo 100% profissionais, porque eles têm se desafiado a modificar a forma como vinham fazendo o seu trabalho e o seu planejamento até então. Estamos muito orgulhosos de nossa equipe", salienta Silvia. Segundo ela, em virtude de as aulas seguirem suspensas por mais um tempo, a forma de avaliação também está sendo revista, para contemplar tanto os trabalhos à distância como os presenciais, de modo equilibrado.
Colégio Scalabriniano Medianeira: A diretora Isaura Paviani ressalta que o educandário também pretende priorizar, neste momento de pandemia, as famílias que realmente necessitem de auxílio em termos financeiros. "Não vamos dar descontos para todos porque não são todos que estão na mesma situação. Isso não significa que não estejamos conversando com os pais que nos procuram em busca de uma solução. Há cerca de 20 dias, já estamos garantindo este atendimento particular, ouvindo a todos e negociando", explica.
Ao longo dos últimos dias, o Medianeira passou a reforçar ainda mais a utilização de ferramentas virtuais, incluindo o site e também algumas redes sociais nas quais o colégio está inserido, a exemplo do Facebook. Além da publicação de vídeos gravados, também são organizadas lives e, no caso dos pequenos, materiais são encaminhados aos pais de forma mais prática, utilizando aplicativos de mensagem como o WhatsApp. O objetivo é tentar direcionar ao máximo o interesse dos educandos para a nova modalidade educacional. "Está sendo uma experiência bastante positiva. Estamos descobrindo muitas coisas que, sem dúvida, nos ajudarão também quando as aulas presenciais retornarem", aponta Isaura.
Colégio Cenecista: Segundo o diretor Fernando Malheiros, por enquanto não haverá a oferta de descontos nos valores mensais pagos pelas famílias atendidas na instituição. "Neste primeiro momento, as mensalidades estão mantidas, eis que há continuidade na prestação de serviços e todo um investimento para tais ajustes. Mas acompanhamos diariamente o cenário mundial e seus impactos", justifica.
O diretor detalha que, para atender ao atual contexto, foram adaptadas plataformas para que os professores mantenham a relação com seus alunos de forma remota, por meio de diferentes instrumentos pedagógicos. "Há disponibilização de aulas ao vivo e atemporais, material de apoio desenvolvido por nossos professores, chats e diversas outras estratégias. Todas as empresas dos diversos setores estão passando por adaptações a este momento e, dentro deste escopo, o retorno tem sido muito satisfatório", conclui Malheiros.
Colégio Sagrado Coração de Jesus: A reportagem tentou contato telefônico com o educandário em várias oportunidades, mas não foi atendida pela direção e tampouco recebeu o retorno a respeito das medidas adotadas pelo colégio. No site da instituição, um comunicado aos pais datado deste mês de abril e emitido pela rede informa que o trabalho de educação on-line "já foi iniciado na primeira semana de isolamento social, por meio das atividades disponibilizadas durante todo o período de quarentena, organizadas semanalmente". Na mesma nota, a instituição também destaca que "o corpo docente está gravando vídeos curtos com as explicações necessárias dos objetos de estudo que os educandos perderam, bem como daqueles que irão perder neste tempo de isolamento social". No portal, também são apresentados vídeos de revisão dos conteúdos. Não há na página, contudo, qualquer menção a respeito de descontos ou de negociações de mensalidades com as famílias atendidas.