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Covid-19: O que dizem defensores do tratamento imediato na região

Tema ainda é polêmico, mas campanhas recentes têm intensificado a cobrança pela maior oferta dos kits de medicamentos para cuidados precoces contra o coronavírus na rede pública de Bento e da Serra

Jorge Bronzato Jr.
Por: Jorge Bronzato Jr.
19/03/2021 às 16h59 Atualizada em 19/03/2021 às 20h43
Covid-19: O que dizem defensores do tratamento imediato na região

A discussão a respeito da aplicação do tratamento imediato, ou precoce, contra a Covid-19 tem se intensificado na Serra Gaúcha nesta últimas semanas. Embora ainda haja muita divergência sobre a eficácia e até os possíveis efeitos colaterais deste protocolo, que prevê a utilização de medicamentos como a ivermectina ao primeiro sinal de sintomas que possam estar associados à doença – antes mesmo de um resultado positivo –, a prática tem pautado muitas manifestações de lideranças da região.

Como já noticiado pelo NB, o grupo "Unidos por Bento", liderado pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), lançou nesta quinta-feira, dia 18, uma campanha que tem como o principal foco a arrecadação de recursos que serão utilizados na aquisição destes remédios. Os itens, depois, serão doados à rede pública de saúde do município, para que a faça a distribuição aos pacientes que, mediante prescrição médica, aceitem fazer uso dos kits que, de uma forma geral, também contam com vitaminas C e D, zinco, azitromicina e, por vezes, até o corticóide prednisolona.

Em Bento, inclusive, muitos pacientes têm relatado que, mesmo se mostrando a favor de usar o tratamento inicial, têm enfrentado dificuldades para conseguir o aval dos médicos que atendem casos suspeitos de Covid na UPA 24h e no Hospital Tacchini. Para aqueles que têm condições, a saída tem sido buscar a prescrição junto a alguns profissionais da rede particular.

"O que estamos colocando à disposição da população é a possibilidade", diz ex-presidente da Amesne
Em termos regionais, um dos mais engajados na defesa do tratamento imediato é o ex-prefeito de Cotiporã, José Carlos Breda, que até a última quarta-feira, dia 17, ocupava a presidência da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne). Foi na gestão de Breda, nas últimas semanas, que a entidade lançou um movimento em prol da iniciativa – uma medida que, na visão dele, tem potencial para reduzir significativamente as internações e desafogar o sistema de saúde.

Para embasar seu posicionamento, Breda destaca que após a adoção do tratamento precoce, a partir de meados de 2020, cidades como Cotiporã e Veranópolis começaram a perceber aquele que seria o principal efeito positivo do método: a diminuição do número de pacientes internados, sobretudo na terapia intensiva. "Alguns municípios fizeram totalmente, outros parcialmente. E, depois de uns três meses, começamos a fazer um comparativo de qual era a evolução que tivemos entre os municípios que fizeram o tratamento com relação aos demais da região. E aí ficamos impactados com a grande diferença. Na região, na época, 75 a cada 100 mil iam para o leito de UTI. Em Cotiporã e Veranópolis, era em torno de 25, ou seja, um terço. Então, o impacto foi grande, porque a gente sabe que, dos que vão para o leito de UTI, cerca de 50% não se salvam", afirma.

No entendimento dele, é chegado o momento de oferecer "uma alternativa a essa questão do feche tudo, fique em casa e espere a doença se agravar para depois voltar a procurar atendimento". "Na verdade, o que nós estamos colocando à disposição da população é a possibilidade. Se quiser se contaminar e depois procurar um tubo ou um leito de UTI, se ainda tiver, é também uma escolha da pessoa", completa.

Breda relata ainda que a análise de dados promovida pelo comitê técnico regional indica que, se todos os municípios da Serra estivessem usando o tratamento imediato, pelo menos 20 vidas teriam sido salvas nos últimos 14 dias. "Contra fatos não há argumentos. Como se explica que os municípios que fizeram tiveram uma incidência muito menor de necessidade de internação em leitos de UTI do que aqueles que não fizeram? E até mesmo dentro do município, entre as pessoas que fizeram e não fizeram. Quantas outras vidas já poderíamos ter poupado?", questiona.



"Eu acho que estou fazendo a coisa certa", diz médico que defende o tratamento precoce na região

Ao lado de Breda, está o médico Rui Steglich, que atua em Veranópolis, mas que também fez um trabalho em Cotiporã no ano passado, contratado pela prefeitura. Ele salienta que o objetivo do tratamento precoce não é "acabar com o coronavírus", mas sim reduzir a carga viral e, dessa forma, diminuir a necessidade de internação.

Para isso, entretanto, é necessário que o paciente esteja atento à presença dos primeiros sintomas, mesmo leves, e que procure atendimento rapidamente. "Não adianta depois de 12 ou 13 dias querer usar esses medicamentos. A gente usa no início, no primeiro sintoma, antes mesmo de saber até o resultado do exame. Não tomando em excesso, esses medicamentos não fazem mal para o organismo. Sentiu dor de garganta, procura atendimento e começa o tratamento, porque isso vai fazer a diferença e, se agravar, com certeza a carga viral vai ser bem menor. Tivemos muitas mortes porque, principalmente no início, foi muito mal informado. Diziam: 'procure orientação médica só quando começar a sentir falta de ar'. Daí não adianta mais, o pulmão já está totalmente comprometido e já chegou na fase três do vírus", lamenta o profissional.

Steglich acrescenta que essa redução da carga viral é o fator que pode ser determinante na evolução do quadro do paciente.  "Diminuindo a carga viral, a gente percebeu, nitidamente, que vários pacientes não precisaram internar, fazer oxigenação, de repente até ir para uma UTI, para uma intubação, uma ventilação mecânica. Os pacientes que realmente tiveram esse problema eram pacientes que tinham outros tipos de comorbidades. Inclusive em pacientes de 100 anos, a gente entrou com o tratamento precoce e não teve problema nenhum. Ninguém obrigou ninguém a usar, a gente mostra, a pessoa assina um termo que aceita, e a gente tem medicado. Alguns recebem bem a medicação. Em outros, não funciona legal. Mas tenho certeza que 90% dos que usaram ficaram contentes porque deu resultado. Para aqueles que procuram atendimento o quanto antes, o poder de resolutividade é bem maior. Outros, que demoram para procurar ajuda, demoram também para melhorar e acabam internando", complementa.

O médico revela que, inclusive, tem atendido muitas pessoas de Bento Gonçalves que o procuram em Veranópolis para fazer o tratamento precoce. "Eu defendo o meu lado, porque acho que estou fazendo a coisa certa. Temos medicado essas pessoas e visto os resultados. Mas não se pode interferir na cultura de outro médico, temos que respeitar o entendimento de cada um. O que o paciente pode fazer, caso não concorde, é justamente procurar outro profissional que aceite prescrever esse tratamento", pondera.

O kit, segundo Steglich:
"Usamos a vitamina D, que aumenta a imunidade e, assim, diminui a carga viral. É nosso 'soldadinho' de defesa.  O zinco, que nós sabemos que entra na cápsula do vírus e ajuda a destrui-lo. A ivermectina, que é um remédio que usamos para piolho, para carrapato, para sarna, para escabiose, funciona também, porque diminui a carga viral. A gente usa a hidroxicloroquina. A dose tóxica da hidroxicloroquina é cinco gramas diárias, e a gente usa 400 miligramas diárias por cinco dias, então são duas gramas nesses cinco dias. Usamos também enoxaparina, que é um anticoagulante, porque a gente tem comprovação que o vírus com o passar do tempo pode formar um trombo. Além disso, nós temos usado um complexo de vitamina C e magnésio. Agora, com essa mutação, nós temos usado bastante anti-inflamatório, o prednisona, que é o corticóide e que funciona muito bem", detalha, por fim, Steglich.

"Sou totalmente favorável", diz o prefeito de Monte Belo do Sul
Em Monte Belo do Sul, o prefeito Adenir José Dallé se diz "totalmente favorável" ao tratamento imediato. O chefe do Executivo afirma que, nos próximos dias, a prefeitura pretende viabilizar alternativas para que o próprio setor de saúde pública tenha condições de prescrever as medicações aos pacientes que apresentem sintomas iniciais e estejam dispostos a aderir ao tratamento.

Dallé aponta que a secretaria já tem distribuído os kits ao longo dos últimos meses  para a população – desde a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com o Ministério Público –, mas que isso tem ocorrido somente para os moradores que apresentem receitas de médicos particulares. "Acredito que estamos em uma situação de guerra, em que não podemos ficar mais esperando. É uma arma que temos na mão contra o vírus e precisamos usá-la. Na próxima semana, já vamos buscar meios legais para que isso seja ampliado, sempre respeitando a iniciativa do paciente e a indicação médica", argumenta.

O que diz a prefeitura de Bento
Em meio a críticas de que a prefeitura de Bento Gonçalves estaria distribuindo o tratamento precoce de maneira "incompleta", sem ivermectina e azitromicina, a secretária de Saúde, Tatiane Fiorio, diz que, desde julho de 2020, já foram entregues mais de nove mil kits na cidade. "O protocolo clínico farmacológico adotado considera para uso, independente de faixa etária, pacientes com sintomas respiratórios e alguma comorbidade. Em todos os casos, a prescrição médica considera a gravidade e o tempo de evolução do quadro do paciente. O tratamento desde o início foi disponibilizado conforme o entendimento médico e, em nenhum momento, foi paralisado. Os kits de tratamento preventivo contam com ivermectina, zinco, vitaminas C e D e azitromicina se houver a necessidade clínica", explica.

Questionada sobre a realização de alguma avaliação do resultado do tratamento prococe nos pacientes que o utilizaram em Bento, Tatiane diz que houve uma análise dos dados relacionados aos usuários, mas que essas informações não serão tornadas públicas. "Realizamos uma avalição interna dos pacientes que utilizaram a medicação, entretanto, não é um estudo científico que possamos divulgá-lo", justifica.

O que diz o Hospital Tacchini
Em recente entrevista coletiva, o superintendente do Hospital Tacchini, Hilton Mancio, reforçou novamente que, em momento algum, a instituição proibiu a prescrição de tratamento precoce, liberando os médicos a adotarem ou não este protocolo de acordo com a sua avaliação. "Nós temos bons médicos prescrevendo e temos bons médicos não prescrevendo. Nós nunca assumimos uma posição proibindo. Obviamente, estamos falando de tratamento precoce e nós cuidamos principalmente de uma fase do tratamento que não é precoce, que é depois que a pessoa ingressa dentro da estrutura hospitalar. E o tratamento dentro da estrutura hospitalar não usa este tipo de droga para a recuperação do paciente", salienta, ressaltando que o mesmo critério de autonomia profissional é empregado nas consultas realizadas na barraca fast-track instalada na entrada do hospital.

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