Os casos de envenenamento de cães e gatos em Bento Gonçalves, já abordados em matéria publicada pelo NB Notícias na última sexta-feira, dia 15, voltaram a chocar a comunidade local no fim de semana. Com a confirmação do assassinato de pelo menos mais três cães no Universitário, que estavam desaparecidos e foram encontrados mortos pelos seus tutores – além de pelo menos cinco cachorros comunitários alimentados por moradores e mais dois gatos –, as famílias que residem na rua Presidente João Goulart e nos arredores estão apavoradas.
Mas a crueldade não ficou restrita somente a este bairro. No Licorsul, além da morte de um cachorro que tinha donos, dois gatos filhotes que eram alimentados por uma voluntária em uma empresa desativada, desde o ano passado, sumiram nos últimos dias e foram localizados neste domingo, 17, também envenenados. No local, há outros dois felinos adultos que também são cuidados por ela, há praticamente dois anos. Como eles são muito ariscos, não foi possível resgatá-los, mas agora a protetora tentará novamente retirá-los daquela área, para evitar que tenham o mesmo fim trágico. Pessoas dispostas a ajudar, tanto no resgate como oferecendo lar temporário, podem entrar em contato pelo telefone (54) 9.8433.0800, com Ketlin.
Infelizmente, por mais tristes que sejam, os casos do bairros Universitário e Licorsul, não são novidade nem mesmo neste ano na cidade. Em março, por exemplo, vários gatos que eram alimentados por voluntários em um terreno no Santa Helena foram assassinados, em uma área bem próxima a uma escola, onde alguns deles foram encontrados mortos pelas próprias crianças, que ficaram horrorizadas com a situação. Em uma rápida pesquisa em um dos principais grupos do Facebook ligados à causa animal em Bento, o "Help Pet – Bento Gonçalves", é possível identificar uma série de relatos deste tipo.
O que diz a prefeitura
A prefeitura afirma que a fiscalização dos casos de maus-tratos está a cargo da secretaria municipal de Meio Ambiente (Smmam), mas que, em 2020, nenhuma denúncia relacionada a envenenamentos foi repassada ao Poder Público (nesta segunda-feira, 18, à tarde, depois da entrevista, o caso dos gatinhos do Licorsul acabou sendo notificado). Em situações desse tipo, além de informar o fato à Smmam, a orientação é que também seja registrado um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia, para que o crime seja investigado. "A fiscalização do Meio Ambiente, quando possível identificar o autor da ação, pode autuá-lo em esfera administrativa, com penalidade de multa que pode chegar a 10 URMs, no valor de R$ 1.388,10", explica o secretário Claudiomiro Dias. O telefone para denúncias é o do "Fala Cidadão", através do número 0800.979.6866.
A importância de denunciar
Com relação aos venenos que possam estar sendo comercializados em casas agrapecuárias, o controle, conforme a administração, é feito pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. Mesmo assim, o Conselho Municipal do Bem-Estar dos Animais (Combea), já nesta semana, pretende cobrar do Executivo local que interceda junto ao Estado para ampliar a verificação quanto à venda destes produtos na cidade. "A prefeitura tem essa responsabilidade e terá que nos dar uma posição a respeito", adianta a presidente do colegiado, Daiane de Mattos. Mesmo com as reuniões suspensas em virtude da pandemia, o grupo deve se encontrar virtualmente em breve para debater o assunto.
Segundo Daiane, o próximo passo será reunir o máximo de informações sobre todos os casos de envenenamentos recentes, para identificar os locais onde há uma maior incidência desse tipo de crime e que veneno está sendo usado. "A gente tem que ter dados, estabelecer um perímetro para tentar responsabilizar quem está fazendo uma maldade dessas. Mas, para isso, precisamos que as pessoas denunciem, o que nem sempre acontece. Muitas vezes, o caso chega ao Conselho, às ONGs, é exposto nas redes sociais, mas não é registrado formalmente. Esse protocolo no Fala Cidadão, junto com o Boletim de Ocorrência, é muito importante. Precisamos dessas informações para poder cobrar as medidas necessárias", salienta. Para quem quiser contribuir com alguma informação, o contato do Conselho é [email protected].
Na avaliação dela, por medo ou até pela decepção em ver muitos desses casos terminarem sem punição, as pessoas acabam desistindo no meio do caminho, o que aumenta a impunidade. "Quando a gente denuncia de forma correta, as coisas acontecem. Pode não ser sempre, mas é possível salvar muitos animais desse sofrimento e fazer com que os envolvido respondam judicialmente. Às vezes, infelizmente, as pessoas não querem se incomodar e acabam se omitindo. Só que os animais precisam disso, eles precisam de nós, precisam que as denúncias sejam feitas. Sem elas, tudo fica mais difícil", acrescenta. A delegacia online permite o registro de B.O. de maus-tratos por meio do site https://www.delegaciaonline.rs.gov.br/.