No final da tarde desta terça-feira, dia 31, na tradicional transmissão ao vivo diária para apresentar o panorama do novo Coronavírus (Covid-19) em Bento Gonçalves, a infectologista do Hospital Tacchini, Nicole Golin, adotou um discurso mais pesado para tentar, mais uma vez, alertar a comunidade quanto à gravidade da situação. A médica iniciou a live no Facebook apresentando dados daquele que foi o dia mais intenso na instituição ao longo das últimas duas semanas: somente nesta segunda, o Tacchini realizou 75 atendimentos e 26 internações de possíveis infectados.
Entre as seis pessoas que estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – cinco homens e uma mulher –, as idades variam de 42 a 84 anos. Na enfermaria, onde estão outros sete homens e uma mulher, vão de 25 a 88 anos. “Começa a cair por terra a ideia de que só os idosos vão adoecer e ter o quadro agravado. Todo mundo está sob risco e, infelizmente, é isso que muitas pessoas não estão conseguindo entender. Que fique bem claro: ninguém está livre. A ideia de isolamento vertical, protegendo só um determinado grupo de risco, é extremamente temerária", afirma a profissional.
Nicole falou a respeito de uma reunião realizada com representantes de hospitais privados de outras partes do país, da qual participou durante esta tarde por videoconferência. O principal assunto levantado no encontro virtual foi a situação caótica registrada em São Paulo, onde todos os óbitos passaram a ser considerados suspeitos de contágio e os velórios, bem como eventuais traslados de corpos, foram proibidos pelo governo. "A perspectiva é que isso vai acabar chegando aqui. É um cenário que não gostaríamos de ver chegar, mas vamos. O não isolamento social adequado vai nos levar para o nível de São Paulo mais rápido do que estamos esperando”, alerta, sobre a resistência de muitos moradores do município em respeitar as restrições de circulação impostas nos últimos dias.
Outro ponto muito importante abordado pela infectologista foi a transmissão intradomiciliar, ou seja, entre indivíduos que convivem uma mesma residência. Mesmo com as orientações, muitas pessoas com os sintomas relacionados ao Covid-19 não estão tendo o cuidado de se distanciar dos demais. “A família tem que ficar isolada, essa transmissão intradomiciliar é muito evidente”, aponta.
Classificando o atual momento como uma “catástrofe social”, a especialista ressaltou que, em função da baixa testagem, o total de contaminados na cidade, que hoje oficialmente chega a nove, deva ser muito maior. Há, pelo menos, outros 23 exames em andamento, mas os resultados têm demorado significativamente. "Está ficando bem pesado e só o início. A gente realmente vai ter que ter mortes aqui para entender o que está acontecendo. Eu gostaria que fosse antes, acho que não precisaríamos passar por isso. Ou todos se ajudam agora, na parte econômica, na parte emocional, na parte de saúde, ou realmente só vai nos sobrar contar corpos", conclui a médica.