A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu nesta sexta-feira, 20, exigir apresentação de receita médica em farmácias para liberação de medicamentos com hidroxicloroquina, substância estudada como possível remédio para o novo coronavírus. O órgão afirma que a medida vai evitar que pacientes que já utilizam o medicamento corram o risco de ficar sem tratamento.
A Anvisa informa que a falta do produto pode deixar os pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados. em nota a gência afirma ter recebido relatos de aumento da procura pelo produto após pesquisas indicarem que ele pode ajudar a tratar a nova doença. "Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus", diz a Anvisa, que não recomenda uso do produto no momento.
A ação da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus se dá bloqueando o início da infecção no organismo. Para entender como ela funciona exatamente, é preciso saber como o novo coronavírus se reproduz no corpo humano, conforme explica o virologista Jônatas Santos Abrahão, pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG):
Uma vez que a pessoa tenha se contaminado com o vírus, ele precisa achar formas de se multiplicar e sobreviver nesse ambiente novo que é o organismo do paciente. Assim, o vírus funde a própria membrana com a membrana de vesículas presentes nas nossas células. Nisso, consegue "jogar" para dentro das células todas as informações necessárias para se reproduzir, ou a sua carga genética. Assim, dá-se início a multiplicação do vírus.
O que a hidroxicloroquina faz é modificar o pH dessas vesículas, impedindo que o vírus consiga fundir a sua membrana com a das vesículas das células e repassando a carga genética. "O medicamento impede que o vírus jogue o genoma para a célula e não inicia o ciclo. Ele bloqueia o início da infecção", explica.
Riscos e efeitos colaterais
Os resultados dos estudos podem se apresentar positivos, mas é preciso que a sociedade olhe para esses números ainda com cautela, conforme explica o virologista Jônatas Santos Abrahão. "Temos que tratar com muito cuidado, porque até o momento o número de pacientes com a Covid-19 que foram analisados sob a ótica desse medicamento ainda é muito pequeno", explica o pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo o virologista, é preciso ter em mente os efeitos colaterais e os riscos associados à essa medicação, que também são bastante conhecidos dos especialistas. "A hidroxicloroquina já é usada para outras doenças, como pacientes com lúpus, artrite reumatoide. Para a malária, por exemplo, é utilizada há 70 anos. E sabemos de alguns efeitos colaterais baseados nesse uso, como danos no coração, gerando arritmia e miopatia. Pacientes com problema cardíaco deve ser avaliado com mais cuidado. E pessoas com problemas de coagulação também, porque [o medicamento] pode aumentar o risco de sangramentos", explica o virologista.
Abrahão lembra ainda que o Brasil vive outro momento que exige atenção: os casos crescentes de dengue. Essa doença aumenta o risco de hemorragias, e a hidroxicloroquina pode favorecer esse quadro.