Renato Portaluppi, ou simplesmente Renato Gaúcho, nasceu em Guaporé, mas foi em Bento Gonçalves que aprendeu o valor do esforço. Ainda menino, ajudava na padaria, entregava móveis em uma fábrica da cidade e disputava peladas entre os colegas de trabalho. Foi ali, no meio da poeira e da simplicidade, que seu talento apareceu pela primeira vez.
Antes de sonhar com estádios lotados, Renato calçou chuteiras gastas e fez seu nome nas categorias de base do Esportivo. Estreou como profissional aos 16 anos, no dia 12 de agosto de 1979, em um jogo contra o Grêmio, válido pelo Campeonato Gaúcho. O time perdeu por 3 a 0, mas o destino estava só começando a escrever sua história.
Em 1983, Renato foi protagonista na maior glória do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Marcou dois gols na final e foi campeão do mundo diante do Hamburgo, em Tóquio. O nome de Renato Portaluppi campeão mundial ficou gravado para sempre na memória do torcedor tricolor e nos livros da história do futebol.
Agora, mais de 40 anos depois, Renato volta ao cenário global — não mais como atacante veloz, mas como estrategista. Ele terá, talvez, o maior desafio de sua carreira como treinador: comandar uma equipe brasileira na semifinal do novo Mundial de Clubes da FIFA. Com 32 clubes e um modelo que já é considerado o mais importante da história do torneio, o Fluminense, time de Renato, já é um dos quatro melhores.
Pela primeira vez, o Mundial de Clubes com 32 times reuniu os maiores campeões de cada continente em uma competição com estrutura e visibilidade comparável à Copa do Mundo. Além do prestígio, os clubes disputam premiações milionárias, atraindo olhares de todo o planeta.
Renato, que já conquistou títulos como jogador e técnico — inclusive a Libertadores da América —, agora tenta entrar em uma seleta galeria: a dos treinadores que levaram seus clubes a um título mundial em novo formato. O caminho é bem difícil. Tem o Chelsea pela frente numa histórica semifinal que acontece nesta terça-feira, 8 de julho. Mas ele, Renato, conhece bem os atalhos da superação e como chegar a uma conquista.
Para Bento Gonçalves, cidade que o acolheu na infância, Renato tem que ser motivo de orgulho. Independente de sua relação com a cidade não ter sido das melhores, foi aqui, na Capital do Vinho, que seu talento foi forjado. Está caindo de maduro para algum vereador indicar uma homenagem para Renato como cidadão bento-gonçalvense. Gostem, ou não, ele levou o nome de nossa cidade mudo afora. E nada como homenageá-li dessa forma para que haja uma redenção dos dois lados da trincheira. Ele carrega no semblante a mistura de ousadia, trabalho duro, intuição e senso de busca incessante pela conquista, algo que marca quem passa pela nossa Bento. Representa a identidade bento-gonçalvense no futebol mundial, a coragem de quem veio do interior e enfrentou o mundo sem perder suas raízes.
Se chegar à final — ou mesmo conquistar o título —, Renato fará mais do que história: concluirá um ciclo de vida. Da padaria ao comando técnico de um time que foi subestimado em um torneio global. Do pão sovado de madrugada ao aperto de mão na beira do gramado diante de gigantes europeus.
Renato já venceu. Independentemente do resultado no Mundial, seu nome continuará ecoando entre os grandes. Renato Portaluppi no Mundial de Clubes da FIFA é mais do que uma manchete: é a crônica viva de um brasileiro que nunca se curvou às dificuldades. Um menino da Serra que ousou sonhar — e conseguiu.