Uma pergunta que não quer calar entre eleitores e candidatos e candidatas nas eleições municipais deste ano é muito intrigante. Por qual motivo Bento Gonçalves não tem vereadoras mulheres? A Capital do Vinho está desde 2012 sem uma representante do sexo feminino. Será que esta história irá mudar em 2024 e as mulheres passarão a votar em uma mulher?
Diversos fatores podem impedir as mulheres de votar em candidatas femininas, mesmo quando elas constituem a maioria do eleitorado. Esses obstáculos podem ser culturais, sociais, políticos ou baseados em percepções específicas sobre as candidatas. Conversamos com algumas mulheres sobre essa questão.
A ex-vereadora Elisabeth Stefenon foi vereadora na legislatura 2000/2004 e foi a única mulher a ser vice-presidente do Legislativo e presidente em exercício da Casa do Povo. Para ela, muitas mulheres veem no espaço político um terreno agressivo e que combina mais com a figura masculina. Por isso votam mais em homens. Porém, quando a mulher adentra ao campo político, ela tem duas expectativas e conhece o seu potencial. Da mesma forma que em seu lar, argumenta, negocia, ouve seus familiares, pondera e busca o melhor. Na Câmara se dá da mesma maneira.
Assim sendo, por vezes, a mulher na Câmara tem um olhar para a resolução dos problemas, ainda mais humano e emocional do que o homem. "O voto é uma projeção do sentimento e da forma de criação de cada pessoa. Então entra a psicologia. A mulher que não foi respeitada dentro do lar é acanhada e sofrida e vê as demais mulheres da mesma forma. A mulher que vê na política algo desnecessário, fútil, não tendo consciência do poder da política e de eleger pessoas honestas, sinceras e comprometidas com o bem para todos, também não irá votar em mulheres", destaca Elisabeth.
Para a ex-vereadora Neilene Lunelli, são muitas as variantes para este questionamento, no entanto, a que mais se destaca seria o machismo estrutural, o qual impõe uma série de obstáculos para as mulheres. "Nós mulheres enfrentamos preconceitos e estereótipos que questionam nossa capacidade de liderança e decisão. Eu fui vereadora por dois mandatos e muitas vezes enfrentei barreiras no próprio parlamento para levantar e defender causas das mulheres. Quando ocupamos cargos precisamos sempre ser bem melhores que os homens", destaca Neilene.
Segundo ela, a sociedade patriarcal infelizmente subjugou às mulheres o papel de senhora “do lar” e isso, por mais que tenha sido superado pela luta das próprias mulheres, ainda carrega intrinsicamente este padrão em boa parcela da sociedade. "Isso não é só na política, está presente no mundo corporativo, e em várias profissões. Ainda ouvimos a expressão “isso não é coisa para mulher”. É preciso muita afirmação positiva das mulheres e dos homens também, para que este “padrão” seja quebrado", destacou a ex-vereadora.
Para a ex-presidente do CIC-BG, Marijane Paese, as mulheres disputam entre elas. Na sua maioria, não andam lado a lado. Dificilmente apoiam causas ou ideias que não se identificam. Ela acredita que a falta de clareza nas propostas e apresentação de projetos factíveis sejam motivos que dificultam a identificação de representantes que realmente possam fazer a diferença. "Não acredito que seja preconceito, talvez a falta de experiência e engajamento comunitário. Um legado de realizações por parte das candidatas. Para nós mulheres é mais difícil, precisamos sempre provar que somos capazes", revelou Marijane.
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