A prefeitura de Bento Gonçalves apresentou na tarde desta terça-feira, 24, no auditório da Famurs em Porto Alegre, os detalhes do edital que vai selecionar a empresa responsável pela construção da usina de resíduos sólidos no município. Pioneiro no país, o projeto da usina de tratamento e eliminação dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) será implementado no formato de Parceria Público-Privada (PPP). A proposta de transformar os resíduos em energia alternativa é exclusiva neste modelo e também será a primeira no Rio Grande do Sul, e deve gerar uma economia de até R$ 4 milhões aos cofres públicos.
Elaborado pela PLANEX S/A, o documento é resultado de um período de consulta pública, a partir de apresentações e debates com a população. Segundo o consultor independente de engenharia da empresa, João de Almeida Coelho, a energia gerada neste processo será suficiente para cumprir a necessidade de todo o município. Até o primeiro semestre de 2019, todo o lixo orgânico produzido pela população deverá ser destinado para a usina. Bento Gonçalves produz, em média, 110 toneladas de lixo por dia. Hoje, os materiais orgânicos são transportados por caminhões até o aterro sanitário de Minas do Leão, que fica a cerca de 180 quilômetros da cidade.
O prefeito Guilherme Pasin destacou que a função do poder público é garantir a entrega de serviços com menor valor e com a maior qualidade, e cabe à iniciativa privada executá-los. “Existem alternativas viáveis para conduzir o desenvolvimento econômico e social de uma região, de forma muito equilibrada com as tecnologias ambientais e o conceito de sustentabilidade das nossas cidades. Nós estamos muito felizes em desenvolver esse caminho pioneiro”, destacou.
Modelo para outras cidades
Além da economia de R$ 250 mil por mês em transporte e destinação do lixo, o empreendimento ampliará o cuidado e o desenvolvimento de tecnologias eficientes na área ambiental. Em operação, a usina criará novas oportunidades de trabalho e aumentará a receita municipal com a comercialização da energia gerada através da transformação dos resíduos em gás, combustível ou outras substâncias industrializadas.
Na oportunidade, o presidente da Famurs, Antonio Cettolin, cumprimentou o projeto inovador. “É preciso coragem para ir em frente e transformar uma ideia em algo concreto. Apoiamos imensamente esta iniciativa que abre portas para os 497 municípios gaúchos”, resumiu o presidente.
O sistema da usina ainda aumentará o percentual de reciclagem na cidade. A separação do lixo feita pelas recicladoras contará com auxílio de uma esteira com sensores que identificarão o que é plástico, papel, metal, vidro e lixo orgânico. Estiveram presentes na cerimônia de assinatura de lançamento do edital o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Evandro Fontana, e o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Parcerias Estratégicas da Prefeitura de Porto Alegre, Fernando Freire Dutra.
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Como vai funcionar
A Usina de Resíduos Sólidos será construída onde hoje funciona o Transbordo Municipal, no bairro Pomarosa. O município de Bento Gonçalves vai ceder o terreno para que os empreendedores construam e administrem o local pelo prazo de até 35 anos. Após esse período, o patrimônio será incorporado aos bens da prefeitura. As empresas interessadas na execução do projeto terão 45 dias para apresentar suas propostas e o prazo para conclusão da obra é de um ano. A usina utilizará o sistema de pirólise para o funcionamento.
Saiba mais sobre o sistema de Pirólise
A pirólise é uma reação de decomposição térmica, ou seja, que ocorre por meio da exposição a altas temperaturas. A palavra vem do grego pyrós (fogo) + lýsis (dissolução), e num sentido amplo é caracterizado como a ruptura de uma estrutura molecular original, a decomposição ou a alteração de um composto pela ação do calor em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio.
O uso da pirólise na indústria é amplo, como para produção de carvão vegetal, reprocessamento de pneus para obtenção de óleos e gases combustíveis e na fabricação de fibra de carbono. O processo também é utilizado no tratamento do lixo antes do descarte e para a obtenção de biocombustíveis.
Sob o ponto de vista energético, o processo de pirólise para o lixo é autossustentável, pois a decomposição química causada pelas altas temperaturas na ausência de oxigênio produz mais energia do que consome, e pode ser utilizado com o lixo doméstico selecionado e moído, lixo de processamento de plásticos e lixo industrial. Para que o processo ocorra é necessário fornecer calor ao reator pirolítico, o principal elemento dos processos químicos. Ele é composto por três zonas específicas por onde passa toda a matéria orgânica: zona de secagem, de pirólise e de resfriamento.
Estudos indicam que a pirólise é um dos meios mais eficientes e ecologicamente corretos para o tratamento do lixo, pois além da possibilidade da extração de diversos subprodutos como sulfato amônia, alcatrão, álcoois e óleo combustível, os equipamentos impedem a liberação de substâncias nocivas na atmosfera, diminuem a geração de poluentes como o metano e gás carbônico – principais agentes do efeito estufa – e podem representar futuramente uma alternativa aos aterros sanitários e à incineração do lixo.
O processo é realizado em três etapas:
Na primeira etapa - Zona de secagem – é fornecido calor externo ao reator e as altas temperaturas alteram as propriedades moleculares da matéria depositada.
A segunda etapa - é a zona de pirólise, onde ocorrem reações químicas como a fusão, volatilização e oxidação – a passagem de uma substância do estado líquido ou sólido para o estado de gás ou vapor, também chamado de plasma. Desta etapa podem ser retirados alguns subprodutos.
O processo é finalizado na terceira etapa – Zona de resfriamento – onde são recolhidas cinzas residuais e também são coletados outros subprodutos, como o bio-óleo.