O Festival Bento em Dança de 2017 reuniu mais de seis mil bailarinos de diversos estados do país e de países da América Latina e da Europa pela 25ª e última vez. Um dos eventos mais importantes do município, que colocou Bento Gonçalves no mapa das artes da dança chega ao seu fim, noticiado pela presidente Erci Grapiglia no início do evento. Segundo ela, A falta de incentivo por parte da prefeitura foi o principal fator motivador que obrigou a extinção do Bento em Dança.

Neste ano, bailarinos diversos estados do Brasil e de países como Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Itália estiveram participando do evento e entraram no palco do Bento em Dança para proporcionar aos bento-gonçalvenses mais de 600 espetáculos de diversos gêneros musicais. O evento contou com nomes renomados das artes da dança, que estiveram como jurados avaliando as coreografias e ministrando oficinas de dança, a exemplo da bailarina e coreógrafa Cassi Abranches, que participou do corpo diretivo da abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Com crianças de 7 anos à bailarinos experientes com anos de carreira, o Bento em Dança contou com uma diversidade de culturas, línguas, e gostos musicais. No palco, gêneros como Ballet, Jazz, Dança Contemporânea, Sapateado, Danças Urbanas e Populares agitaram o público entre os dias 7 e 14 de outubro, no Parque de Eventos de Bento Gonçalves.

Segundo a presidente do Bento em Dança, Erci Grapiglia, que está à frente do evento nestes 25 anos de realização, o festival colocou o município de Bento Gonçalves no mapa das artes da dança. “O objetivo principal foi fazer algo que mostrasse Bento Gonçalves culturalmente. Culturalmente ela é uma cidade escondida, e o Bento em Dança a colocou no cenário da cultura”, ressalta Erci. 

Com a falta de investimentos e de incentivo por parte do poder público municipal, a presidente, na abertura do evento deste ano, noticiou que a 25ª edição do Bento em Dança seria a última a ser realizada, pegando a todos de surpresa. Segundo Erci, Bento Gonçalves não se deu conta da importância do evento para o município. “É lamentável porque se qualquer bento-gonçalvense atentar para a importância, este evento tem uma semana aonde as pessoas vêm para Bento Gonçalves, consomem, usam a hotelaria, usam restaurantes, fazem compras, mostram produtos de nossa cidade para o mundo. Fizemos com amor, com paixão pela arte, mas acho que Bento Gonçalves não se apercebeu do tamanho e o resultado deste trabalho”, afirma a presidente do Bento em Dança. 

Sem verbas provenientes do município e dependendo apenas do setor privado e do financiamento da Lei Rouanet, as dificuldades enfrentadas para concretizar mais uma edição do Bento em Dança foi um dos fatores que fizeram com que Erci decretasse o fim do festival. “Quando a gente se depara com a falta de valorização, as pessoas parecem não aperceber da importância disso. A falta de recursos para poder manter, é um evento que tem um custo altíssimo, e isso tudo fica inviável na medida de que o evento não é olhado com um investimento de importância”, afirma a presidente. 

De acordo com o Secretário Municipal da Cultura, Evandro Soares, a Lei do Marco Regulatório do Terceiro Setor, que estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil em vigor desde janeiro deste ano não permite mais o simples repasse de verbas através de auxílio financeiro como acontecia nos anos anteriores. Por esse motivo, o repasse de verbas para o Bento em Dança foi impossibilitado. Apesar disso, Evandro ressalta que a prefeitura não deixou de apoiar o evento de outras formas. “Ao contrário de outros municípios, que simplesmente cancelaram eventos, Bento Gonçalves entende a importância do Bento em Dança e sempre apoiará e defenderá que o evento aconteça. Por isso, neste ano, foi o principal agente na liderança de captação de recursos junto aos parceiros Corsan e Banrisul, através do Ministério da Cultura, Lei Rouanet. Além disso, intercedeu na negociação para reduzir o valor de locação da Fundaparque e ainda auxilia com transporte de bailarinos e divulgação”, explica o secretário. 

Evandro ressalta que a Secretaria da Cultura não participa da construção do Bento em Dança, já que é um evento de caráter privado e, portanto, não faz parte das decisões da gestão do evento. “Entendemos que existem dificuldades e desafios que devem ser superados. Estamos vivendo uma realidade na administração municipal onde é preciso eleger prioridades. Um evento de tanta importância no cenário artístico, cultural e turístico não pode parar. Entendemos que devemos nos reunir, conversar e buscar soluções. O Bento em Dança não pode parar”, conclama Evandro Soares. 

Bailarinos lamentam o fim do Bento em Dança

O público, que esteve presente na abertura do evento, ficou surpreso com o anúncio da presidente Erci Grapiglia, ao noticiar o fim do evento. Não só o público como também diversos bailarinos foram pegos de surpresa com o anúncio. Em especial, bailarinos de Bento Gonçalves lamentaram o fim do evento que colocou o município no cenário das artes da dança no Brasil. 

O bento-gonçalvense, professor de dança e teatro, Moacir Corrêa, de 55 anos, participou das 25 edições do Bento em Dança. Quando iniciou o festival, Moacir teve seu primeiro contato com a sua mestra, Cecy Franck, a qual ministrava aulas de Dança Moderna. Hoje, Moacir herdou o legado de sua mestra, dando oficinas aos jovens no evento. “Participei de todas as edições do Bento em Dança. Primeiro como bailarino, aluno das oficinas, logo depois com minhas coreografias através dos meus grupos e anos depois como professor convidado do Festival. 

Neste ano, Moacir ministrou aulas de Dança Moderna, Dança Afro e Preparação Física para Bailarinos. Sempre muito bem recebido e com todas as suas oficinas lotadas, o bailarino bento-gonçalvenses lamentou que tudo isso está chegando ao fim. “Tive uma ótima receptividade em todas as edições em que participei como professor convidado tendo sempre as minhas aulas lotadas. “É triste saber que este festival vai acabar por falta de apoio. O festival traz divisas para o município, projeta Bento Gonçalves a âmbito nacional e internacional. Incrementa o turismo, oportuniza o contato com profissionais de renome. Desenvolve o interesse pela arte, enfim, são tantos benefícios que Bento em Dança nos trouxe como munícipes que com certeza fará muita falta”, ressalta Moacir Corrêa. 

A bailarina bento-gonçalvense Gabriela Denardi Balzan, de 19 anos, a qual prática Ballet desde os 6 anos de idade, participou do evento nos dias 7 e 11 de outubro, entrando no palco com duas coreografias: a primeira um Dueto Sênior de Ballet Neoclássico e a segunda um Solo Sênior de Ballet Clássico de Repertório. Ela faz parte da Aplausos Studio de Danças de Bento Gonçalves, das diretoras Deise Ceccagno e Patrícia Larentis, e participa do Bento em Dança desde 2007. “O evento não me proporcionou só experiência de palco, não só isso, mas também trocas com escolas de outras regiões, escolas maiores, com pessoas com níveis mais altos, que nos fazem enriquecer muito, não só como bailarinos, mas também como pessoas”, comenta Gabriela. 

Segundo ela, o município vai perder um grande evento artístico e as pessoas, inclusive aquelas que estão ingressando agora no mundo da dança, não terão mais a oportunidade de conviver com profissionais da dança. “Vai ser uma grande pena, além de não termos mais esse contato com outras pessoas, a cultura vai estar menos presente na cidade. Já não é muito presente, pois  a região não incentiva a arte, então essa questão da extinção do Bento em Dança  será uma grande lástima para a comunidade artística bento-gonçalvense”, afirma a bailarina.