A AIDS segue crescendo cada vez mais nos últimos anos no município e no país. Em Bento Gonçalves, assim como em um âmbito geral, a doença ainda afeta mais os homens do que as mulheres. Segundo dados da Vigilância Epidemiológica do município, 58,6% dos casos novos ocorrem no gênero masculino. Entretanto, a taxa de mulheres com AIDS tem aumentado expressivamente nos últimos anos.
De acordo com o coordenador da Vigilância Epidemiológica, José Antônio Rodrigues da Rosa, a incidência feminina aumentou 31,9% nos últimos 17 anos. “Na década de 90, existiam 28 homens para cada 10 mulheres com AIDS no município, razão de 2,8 homens para uma mulher. Nos sete primeiros anos da década atual, a relação homem x mulher caiu para 11 homens para cada 10 mulheres doentes, uma razão de 1 homem para cada 1 mulher, demonstrando a tendência da feminização da doença.
Nos casos de 2010 a 2015, 52% das pessoas que contraíram AIDS eram do sexo masculino, já 48% era do sexo feminino. Segundo o coordenador, a feminização da AIDS está associada a fatores biológicos, socioeconômicos e comportamentais. “As mulheres são mais vulneráveis à infecção pelo HIV do ponto de vista biológico. A superfície da mucosa vaginal exposta ao sêmen é relativamente extensa, e o sêmen tem uma concentração de HIV (livre e no interior das células) significativamente maior do que a secreção vaginal. Além disso, a penetração da vagina durante o ato sexual frequentemente causa micro lesões na mucosa vaginal, o que facilita a entrada do vírus HIV na corrente sanguínea da mulher, aumentando o risco de infecção.
Questões comportamentais e socioeconômicas também estão associadas a possíveis causas do crescimento da doença no gênero feminino. “Também é necessário considerar que, em nosso meio, ainda se observa a submissão da mulher às decisões e desejos dos cônjuges, seja porque são economicamente dependentes de seus parceiros, seja porque são culturalmente compelidas a engravidar para desempenhar o papel social de mães. Além disso, muitos homens acreditam nas falsas crenças de que a sua virilidade sexual é tanto maior quanto maior for o número de parceiras com as quais mantém relações sexuais, e que usar camisinha diminuiria o seu “prazer”. Isso aumenta substancialmente o risco dos homens se infectarem e transmitirem o vírus para suas parceiras”, ressalta José.
A grande parte dos casos da doença ocorre em uma faixa etária de 20 a 39 anos de idade. “Os dados do município mostram claramente que as mulheres bento-gonçalvenses que se infectam com o vírus da AIDS são jovens e adultas jovens, heterossexuais e que se contaminaram com o vírus HIV através de relações sexuais sem o uso de preservativo. O aumento do número de casos de AIDS entre as mulheres está eminentemente associado à susceptibilidade feminina no tocante às questões sexuais e de gênero, colocando-as como principal alvo da infecção”, comenta o coordenador da Vigilância Epidemiológica.
José também afirma que é necessário realizar ações para conscientizar as pessoas sobre as formas de prevenção e as consequências que elas podem ter em não usar camisinha em seus atos sexuais. Além disso, aconselha que as mulheres precisam ser encorajadas e ter o seu direito de prevenção com o seu parceiro. “Um dos grandes desafios na área da Saúde Pública e da Educação é o de conscientizar a população sobre as formas de prevenção da AIDS e das doenças sexualmente transmissíveis. Isso implica em desenvolver ações que ajudem a reduzir a transmissão do vírus HIV, como o uso da camisinha, o adiamento da iniciação sexual e a prevenção ao uso de drogas. É essencial, também, que as mulheres sintam-se imponderadas e exijam o uso da camisinha dos seus parceiros”, afirma o coordenador.