Aavaliação dos dados da economia de Bento Gonçalves ao longo de 2015, detalhada na45ª edição da revista Panorama Socioeconômico confirmou o que vários fatores jáapontavam: o município não ficou de fora do quadro de retração verificado emnível estadual e nacional no ano passado. O amplo trabalho de pesquisa compilouinformações encaminhadas pelas empresas e colhidas junto a órgãos oficiais e,em uma abordagem geral, apontou queda no faturamento na ordem de 11,5%, nocomparativo com 2014. A pesquisa, desenvolvida anualmente pelo Centro daIndústria, Comércio e Serviços (CIC-BG) em parceria com a Universidade deCaxias do Sul (UCS), foi apresentada no dia 28 de novembro, em uma palestraalmoço na sede da entidade.
Quandocolocado lado a lado com os índices dos PIBs do estado e do país – que tiverambaixas respectivas de 3,4% e 3,8% no mesmo período – o número é ainda maisalarmante. A Indústria local foi a mais atingida, com uma redução de 13,3%;seguida do Comércio, com 11%; e dos Serviços, com 4,4%. “Em termos reais, aqueda de faturamento de 2015 fez com que voltássemos ao patamar de 2009. Semdúvida, isso repercutiu e vem influenciando na capacidade de investimento dasempresas, por envolver uma conjunção de queda das vendas com encarecimento docrédito. Tal ocorrência se deu também em outras cidades com setores industriaisfortes, mas, na comparação com municípios com características econômicassemelhantes, Bento apresentou melhor desempenho”, destaca o professor FabianoLarentis, integrante da equipe que coordenou a pesquisa e responsável pelaapresentação do material na última palestra almoço do CIC-BG neste ano.
Emborasejam traçadas perspectivas de melhoras para o ano que vem, a retomada dacondição de crescimento verificada em 2014 não deve ser uma realidade a curtoprazo. “Somos uma economia bastante dependente do cenário nacional.Identificou-se, em outras edições da pesquisa, que, de maneira geral, ocrescimento do município acompanha o nacional. Com isso, considerandoestimativas macro, é possível afirmar que começaremos a recuperar as perdassomente em 2017 e voltaremos ao patamar de 2014 apenas em 2021”, projetaLarentis. Em meio a um contexto preocupante, o destaque positivo de 2015 ficoupara o setor vinícola, o único dos segmentos industriais analisados aapresentar um crescimento real, que chegou a 1,7%.
Evolução dos MEIS
Outroaspecto que denota uma mudança estrutural no Panorama Socioeconômico municipalé o expressivo aumento do contingente de Microempreendedores Individuais(MEIs). Em 2014, eles representavam 8% do total de empresas da cidade. Em 2015,por sua vez, essa parcela chega a praticamente 30%. São 4.176 cadastros, do universo de 14.074 empresas – uma a cada oitohabitantes. Essa nova condição é associada principalmente à consolidação dafigura do microempreendedor individual, estabelecida por lei em 2008, junto àsociedade. Também devem ser destacados os esforços do Poder Público para incentivare facilitar a formalização destes profissionais, o surgimento de novasatividades e a busca por alternativas para quem perdeu o emprego.
Empregos caem 4,2%
Somenteo ramo de Serviços teve um saldo positivo na geração de empregos em 2015 e,mesmo assim, foi um avanço tímido, de 0,6% acima do ano anterior. Os demaisamargaram quedas e, nesse quesito, a Indústria também foi a grande prejudicada,com uma diminuição de 9,2% no total de vagas. O Comércio decaiu 2,1%. No geral,considerando os três setores, a baixa foi de 4,2%.
Pormais que o horizonte ainda seja de incertezas, inclusive no que se refere aofechamento de 2016 e, possivelmente, no primeiro semestre de 2017, a tradiçãoempreendedora de Bento Gonçalves e a solidez de muitos segmentos de suaeconomia – conquistada ao longo das últimas décadas – são elementos que permitemum olhar otimista para a busca da recuperação. “Não há dúvidas de queenfrentamos um momento extremamente delicado para a nossa economia. Os dados de2015 que agora temos em mãos, graças a esse magnífico trabalho de pesquisa eanálise, nos permitem ver com mais clareza o quanto a crise nos afetou e aindaafeta. O mais importante, entretanto, é o que faremos com essas informaçõesdaqui para frente, pois devemos avaliar profundamente cada um destes índices e,a partir disso, focar em alternativas que nos ajudem a voltar a crescer. Jáenfrentamos outros obstáculos e capacidade de aprender algo positivo emsituações complicadas como essa faz parte de nossa história de trabalho edesenvolvimento”, conclui o presidente do CIC-BG, Laudir Miguel Piccoli.
Alguns números do 45º PanoramaSocioeconômico
–O faturamento das empresas teve queda real (considerando o deflator do IBGE) de11,5%.
–O setor vinícola foi o único segmento industrial que apresentou crescimentoreal, de 1,7%.
–O percentual de Microempreendedores Individuais (MEIs) passou de 8% parapraticamente 30% de representatividade no total de CNPJs.
–A participação do Comércio na economia local subiu de 20% para 22%, enquanto osserviços evoluíram de 14% para 16%. A indústria recuou de 66% para 62%.
–A oferta de empregos, de forma geral, caiu 4,2% no ano passado. Somente osServiços tiveram saldo positivo, de 0,6%.