
A história de vida compartilhada por mais de seis décadas teve um desfecho comovente neste fim de semana em Caxias do Sul. O fotógrafo Vasco Ivo Rech, de 88 anos, e a esposa Iria Cristina Lorenzoni Rech, de 85, morreram com apenas 24 horas de diferença, após 66 anos de casamento. Ambos estavam internados no Hospital Virvi Ramos e faleceram em decorrência de complicações de saúde associadas à idade.
Vasco morreu na sexta-feira (19). O velório e a cremação do fotógrafo ocorreram no sábado (20), no Memorial Crematório São José. Já Iria faleceu no domingo (21), um dia após a morte do marido. O corpo foi cremado no mesmo local, no final da tarde deste domingo.
Segundo a família, Iria estava acamada havia 28 dias, enquanto Vasco estava internado há 17 dias. Uma das filhas do casal, Valquíria, relata que, cerca de 15 dias antes das mortes, os dois puderam se ver pela última vez no hospital. “Foi uma despedida silenciosa, depois de uma vida inteira juntos”, resume.
Casados desde a juventude, Vasco e Iria construíram uma família que hoje guarda a memória de uma união marcada pela parceria e pela cumplicidade. O casal deixa as filhas Valquíria, de 65 anos, e Márcia, de 62, além de quatro netos.
A proximidade das mortes reforçou a comoção entre familiares, amigos e pessoas que conviveram com a trajetória do casal, especialmente pela simbologia de uma relação que atravessou décadas e terminou quase ao mesmo tempo.
Figura reconhecida em Caxias do Sul, Vasco Ivo Rech construiu uma carreira que se confunde com a história da fotografia e do jornalismo local. Conforme registra o livro O instante e o tempo: a fotografia em Caxias do Sul, 1885-1960, de Sônia Storchi Fries, foi na década de 1960 que Rech passou a atuar como perito fotográfico da Polícia Civil e também para veículos de imprensa.
Ao longo de mais de 50 anos de carreira, Vasco registrou momentos decisivos da história da cidade. Foram mais de 500 assassinatos fotografados, além de acidentes de trânsito e outros episódios marcantes do cotidiano urbano.
Na imprensa, trabalhou para veículos como o Jornal Pioneiro, entre as décadas de 1960 e 1980, para Zero Hora e também para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, atuando em publicações como Correio do Povo e Folha da Tarde.
Seu trabalho ajudou a documentar transformações sociais, urbanas e humanas de Caxias do Sul, tornando-se referência para gerações de profissionais da comunicação.
A morte quase simultânea de Vasco e Iria encerra uma trajetória compartilhada por mais de seis décadas. Para familiares e amigos, fica a lembrança de um casal que dividiu a vida, o cotidiano e, por fim, a despedida — em um intervalo de apenas um dia, após 66 anos de união.