O estado do Rio Grande do Sul enfrenta, mais uma vez, a devastação causada pelas enchentes. Em meio à reconstrução lenta e cheia de entraves, o governo estadual decidiu investir recursos públicos no Carnaval do Rio de Janeiro. Enquanto isso, em Bento Gonçalves e região, quem precisa da ponte de Santa Bárbara continua à espera da obra de reconstrução daquela que foi levada pelas águas naquele longínquo setembro de 2023. Já se passam quase dois anos sem qualquer avanço concreto, mesmo com os recursos federais garantidos para a obra. Falta a contrapartida do governo gaúcho, que, ao priorizar eventos festivos em outro estado, evidencia o distanciamento entre a gestão estadual e as necessidades urgentes da população do interior. Uma obra tão importante como essa vai ter que esperar (como quase tudo no Brasil) o Carnaval passar.
Três anos de alagamentos, deslizamentos e nenhuma solução na Aristides Bertuol
A obra de ampliação da Rua Aristides Bertuol foi anunciada como avanço na mobilidade urbana, mas o que se viu foi um grave erro de planejamento. A movimentação de terra feita no local alterou a dinâmica de drenagem da área, afetando diretamente os moradores do bairro Eucaliptos. Desde então, a cada chuva forte, casas são invadidas pela água. Passados três anos, a prefeitura de Bento Gonçalves ainda não encontrou uma solução definitiva. A demora em corrigir o impacto ambiental da obra inicial revela descaso com a população local, que sofre prejuízos recorrentes sem qualquer perspectiva de alívio. O problema poderia ter sido evitado com estudos técnicos prévios mais rigorosos e com escuta às demandas da comunidade.
Disputa por protagonismo esvazia debate sobre o uso da ferrovia
Na Câmara de Bento Gonçalves, mais uma vez o foco se volta à disputa por protagonismo político em vez de resultados. A recente iniciativa do vereador Volmar Giordani (Republicanos), que elaborou um anteprojeto sobre o reaproveitamento da viação férrea, motivou críticas do colega Sidi Postal (PL). Em vez de aplaudir o avanço da pauta, Postal questionou a legitimidade da proposta, alegando que ninguém faz nada sozinho e que já tinha realizado reuniões diversas com representantes da Rumo Certo, empresa responsável pela ferrovia. A discussão escancarou o velho hábito da política local: debater quem será o pai da criança antes mesmo de o projeto sair do papel. Para a população, pouco importa quem assina primeiro; o que se espera é que as ideias avancem e saiam do campo da retórica. Quando a vaidade política supera o interesse público, o progresso fica em segundo plano.
Bento Gonçalves precisa de mais ação e menos disputa. As prioridades da gestão pública devem refletir as necessidades reais da população. O cidadão que espera por uma ponte, vive com a casa alagada ou torce por mais desenvolvimento com o uso da ferrovia quer resultados, não justificativas ou disputas de ego. É hora de menos palco político e mais compromisso público.