Em 10 de agosto de 1919, um domingo, o primeiro trem chegava ao ainda jovem município de Bento Gonçalves, a dois meses de seu aniversário de 30 anos. Embora já desse grandes passos embalados pelo seu protencial empreendedor, a cidade ainda amargava a ausência da ferrovia, um símbolo de desenvolvimento à época, sobretudo para o escoamento da produção local, que sofria com a precariedade das vias de terra.
Até aquele momento, a linha férrea que vinha de Porto Alegre alcançava apenas Carlos Barbosa, tendo também um ponto final temporário instalado em Garibaldi um ano antes. Mas a reivindicação para que se trouxessem os trilhos a Bento era ainda mais antiga, como mostram documentos de 1895 apresentados no livro "Da Colônia Dona Isabel ao Município de Bento Gonçalves", de autoria das professoras Bernardete Schiavo Caprara e Terciane Ângela Luchese. Neles, empresários já se apresentam como parceiros para a construção da estrada de ferro, solicitando que o governo autorizasse, em contrapartida, a concessão da exploração da rota por três décadas. O pedido acabou sendo negado.
Alguns anos depois, o então intendente, Coronel Antônio Joaquim Marques de Carvalho Júnior, informa ao Conselho Municipal – em relatório de 1899 – que não iniciaria a construção do prédio da prefeitura enquanto não se definisse o traçado da ferrovia, para evitar a utilização de recursos públicos em uma obra que fosse instalada em local inapropriado. Em 6 de junho 1910, ainda sem uma resposta concreta a respeito do tão esperado empreendimento, Carvalho Júnior volta a cobrar uma posição do presidente do Estado, Carlos Barbosa Gonçalves. "Como Vossa Senhoria não ignora, a aspiração dos habitantes desta localidade e município é justíssima, pois a utilidade é manifestada. É este município o que mais exporta na região colonial povoada por italianos", diz o memorando.
Em 1916, com a implantação dos trilhos se aproximando de Carlos Barbosa, o intendente reconhece, em novo comunicado aos conselheiros, que cabe ao município executar melhorias estruturais para receber o novo modal. "Em breve será uma realidade, assim sendo, urge prover o município de boas estradas de rodagem, fazendo-se as respectivas obras de adaptação, como pontes, bueiros etc". Três anos depois, finalmente o trem fazia sua primeira parada na Estação localizada na região do bairro Cidade Alta, com uma locomotiva puxando duas diligências para passageiros.
Na data histórica, em telegrama remetido ao governo estadual, agora novamente chefiado por Borges de Medeiros, Carvalho Júnior informa que cerca de 3.000 pessoas presenciaram a inauguração. A partir daí, no entorno da Estação, passam a se fixar muitos "estabelecimentos industriais e casas comerciais (Alegretti e Cia, Dal Molin, Amedeo Arioli, Milani e Gava, Moschini, Albino Cunha, Gaspar Justo, Maragno e Cia, Moinho Pompéia, Renner e Cia, Antonio Milani), que dão ao planalto um aspecto de uniformidade militar, interrompido somente pelo transformador de energia elétrica", como narra um relato brevemente posterior trazido no livro das historiadoras.
Em 1976, o trecho Carlos Barbosa – Bento Gonçalves parou de operar viagens com passageiros, seguindo com o transporte de cargas até a metade dos anos 1990. Em 1992, a linha recebeu o trem turístico Maria Fumaça, por concessão à empresa Giordani Turismo. O trecho Bento Gonçalves – Linha Jaboticaba, que vai da zona urbana até as proximidades do Rio das Antes – construído entre as décadas de 1940 e 1970 pelo Batalhão Ferroviário e concedido à companhia Rumo Logística (antiga ALL) –, está inoperante há anos.