A falta de leitos de UTI gerou, há cerca de um mês, uma breve crise que acendeu o alerta na rede pública de saúde de Bento Gonçalves: no mesmo dia, pelo menos dez pacientes aguardavam a destinação de vagas em hospital, mas não havia disponibilidade. A situação foi contornada em pouco tempo, mas evidenciou a dificuldade que o governo local – assim como outras cidades gaúchas – vem enfrentando, que é a dependência da regulação por parte do Estado.
O problema foi verificado de forma praticamente simultânea em vários municípios, que passaram a trocar informações e debater o tema de forma conjunta. Um grupo de gestores foi criado para levar a demanda à Secretaria Estadual de Saúde, que recentemente se reuniu com os representantes . Na ocasião, ficou claro um dos fatores responsáveis pela instabilidade no gerenciamento do serviço no Rio Grande do Sul. "São cerca de 100 hospitais cadastrados, mas não existe um sistema online para monitorar todos os leitos. Então, eles fazem um levantamento manual, que começou justamente na crise daquela semana", destaca o secretário municipal de Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira.
Diariamente, a Central de Regulação atualiza os dados por telefone ou e-mail, o que burocratiza o processo e pode fazer com que não sejam apresentadas as informações em tempo real. Em Bento Gonçalves, por sua vez, há um censo completo da ocupação, indicando que paciente está utilizando determinada vaga e aqueles que estão na fila.
Na primeira reunião da nova Câmara Técnica de Análise da Distribuição de Leitos de UTI no RS, realizada em Porto Alegre no final de junho, ficou definido que este será o modelo adotado pelos municípios, que repassarão os levantamentos atualizados para as Coordenadorias Regionais de Saúde. Estas, por sua vez, farão com que os relatórios cheguem à Central. "Isso vai dar um panorama muito melhor daquilo que a gente tem para oferecer. Talvez não resolva, mas já é um bom avanço. A linha de trabalho é controle e informação. Tendo as estatísticas na mão, temos condições de melhorar", avalia Siqueira.
O principal objetivo é evitar que ocorra uma nova sobrecarga no atendimento, tanto em Bento quanto nas demais cidades que já enfrentaram a adversidade. Assim como o Hospital Tacchini acolhe internações de pessoas de diversos pontos do Rio Grande do Sul, há muitos moradores locais que também acabam sendo encaminhados para outras regiões, conforme os critérios de gravidade e tempo de espera.
Ampliação de vagas
Ainda durante o encontro, o Governo do Estado garantiu que tentará aumentar o número de leitos dos hospitais já cadastrados, mas descartou a possibilidade de novas parcerias, por falta de recursos. De acordo com Siqueira, a principal preocupação no município é a questão das vagas de UTI para adultos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que atualmente são 13.
Entretanto, setores como a psiquiatria e os leitos clínicos, que são regulados pela prefeitura e têm 15 e 76 lugares, respectivamente, sempre estão operando praticamente no limite, e também exigirão alternativas a médio prazo. A saída, nesse caso, seria o próprio município se preparar para aumentar a oferta. "Ou nós criamos por conta própria, ou as coisas realmente podem piorar", salienta. Uma das esperanças de amenizar esse quadro é a conclusão da Unidade de Internação erguida atrás da UPA 24h, obra que deve ser retomada nos próximos meses.