O dia 28 de junho é considerado e comemorado o Dia do Orgulho LGBT. Mas você sabe qual o motivo da escolha desta data? Na noite de 28 de junho de 1969 o inimaginável aconteceu num bar em Nova York, nos Estados Unidos. Uma rotineira batida policial não terminou. A reação segue viva até hoje. E está replicada nas Paradas do Orgulho LGBT que acontecem mundo afora, tem papel determinante na conquista de direitos de cidadania para esta população e fez desta data o Dia Mundial do Orgulho LGBT.
À época do acontecimento, a homossexualidade era considerada crime em quase todos os estados norte-americanos, com exceção de Illinois. E a polícia costumava dar "batidas" em lugares frequentados pelo público gay, lésbico e trans. Mas neste exato dia 28 de junho, há 50 anos, os policiais não encontraram a passividade costumeira. Ao levar para o camburão algumas drag queens e travestis que estavam no bar, chamado The Stonewall In, começaram a ser revidados. Para surpresa geral. Primeiro por elas, as prisioneiras, que faziam caretas e lhes remendavam. Reagindo à provocação das moças, os policiais aumentaram o grau de violência na coerção. A multidão que acompanhava o "Salve Geral" também reagiu e começou a jogar moedas nos policiais.
O espírito do levante estava posto, sem maiores explicações, e encontrou caminho fácil para vir à luz. Depois das moedas, garrafas e pedras passaram a ser arremessadas contra os policiais. E clientes e funcionários de bares vizinhos juntaram-se aos que já estavam no entorno de Stonewall.
O caldo engrossou. E transbordou. A viatura da polícia foi virada de cabeça para baixo. Trocando em miúdos, a situação se inverteu. Os policiais, eram nove, correram ao interior do bar em busca de abrigo e lá se entrincheiraram. Ao tempo em que só crescia o número dos que, do lado de fora, estavam dispostos a enfrentar, fisicamente, os policiais.
A partir deste instante, os relatos são de cada um. E são muitos. O fato inegável é que a Batalha de Stonewall, como ficou conhecido o episódio, durou três dias, com reforço de ambos os lados. "Demos uma resposta clara, um troco. Stonewall era um bar frequentado por gays, trans e lésbicas de baixa renda. Não eram apenas brancos de classe média. Eram negros, latinos que se rebelaram contra a violência policial recorrente", defende o cineasta René Guerra, diretor dos filmes Os Sapatos de Aristeu e Vaca Profana, que abordam a temática trans.
"Foi no corpo a corpo, no pedra a pedra, que Marsha (P. Johnson), e suas companheiras e companheiros conseguiram inaugurar amplamente algo muito maior que um movimento, a visibilização de um modo de existência", completa a jornalista e professora universitária Fabiana Moraes, citando a ativista negra e drag queen Marsha P. Johnson, uma das protagonistas da Batalha.
Já o roteirista e publicitário Tony Góes atenta para o ineditismo da reação da população. "Sempre vai ter quem diga que já havia ativismo gay antes do Levante de Stonewall. É verdade: na Europa e nos Estados Unidos existiam associações e revistas voltadas aos homossexuais desde, pelo menos, a década de 1940. Mas era tudo muito secreto, e quase sem nenhuma repercussão fora de um círculo muito pequeno. Stonewall mudou tudo isso. Foram três dias de revolta, com farta cobertura da imprensa e adesão de simpatizantes não-LGBT. Por isto o levante é considerado o marco zero da história da luta pelos direitos igualitários".
O Levante de Stonewall causou uma nova percepção identitária na população LGBT (que obviamente não tinha essa sigla) dos Estados Unidos e depois de outros países. Tanto que no ano seguinte, muitos foram às ruas no dia 28 de junho, e não só em Nova York, para celebrar o primeiro aniversário do episódio. Plantando a semente das Paradas do Orgulho LGBT que hoje acontecem em quase todos os países.