Descrever um sentimento em palavras, de fato, não é uma tarefa fácil. No entanto, o tamanho do amor de Eliane Cardozo de Siqueira, de 43 anos, para com o seu companheiro de vida, Luis Antônio Devitti, de 53 anos, pode ser dimensionado com exatidão. O morador de Bento Gonçalves sofreu dois Acidentes Cardiovasculares Cerebrais (AVCs), os quais o deixaram cego, sem movimentos e com apenas 40% do cérebro. A sua incapacidade atual, no entanto, não foi empecilho para que Eliane continuasse fiel ao lado de Luis, cuidando-o integralmente e continuando a oferecer muito amor e carinho.
Eliane e Luis se conhecem desde 1998 e moram juntos há 24 anos. Eles não chegaram a se casar, mas a expressão “na saúde ou na doença” é seguida à risca por Eliane que, depois do ocorrido, jamais pensou em deixá-lo sozinho. “Meu amor cresce cada dia mais porque ele tá bem, ele tenta interagir, ele se esforça para estar presente, para ficar bem, porque ele não quer desistir da vida, ele é um verdadeiro guerreiro por tudo que passou. Então não posso desistir dele”, ressalta.
Em 22 de junho de 2017, a família recebeu o diagnóstico de Luis, o qual possuía um tumor no cérebro. Antes, no entanto, ele já sofria de muita dor de cabeça e sentia falta de equilíbrio, porém, por conta do medo de hospital, pouco se consultava. Com o aumento da dor e com indícios de ataques de epilepsia, Luis foi consultado por um neurologista, que logo solicitou uma tomografia, que identificou o problema. A situação se agravou drasticamente e Luis foi direto para a cirurgia. Após a retirada do tumor, ele sofreu outros problemas como edema cerebral, dois AVCs, totalizando seis cirurgias no cérebro.
“Ele ficou dois meses entre a vida e a morte. No total foram 18 cirurgias entre um a dois anos. Hoje ele não enxerga, não se movimenta, mas escuta muito bem. O quão ele entende ou lembra a gente não sabe, pois ele só tem 40% do cérebro. Até os médicos não entendem como ele está vivo, mas ele resistiu, está forte. Cada pouco vem uma coisa ou outra, mas ele não desiste. Eu brinco com ele que ele não quer me largar de jeito nenhum”, detalha Eliane.
Desde então Eliane dedica sua vida a cuidar de Luis, que necessita de auxílio integral por conta de sua condição. Os filhos Vinícius e Felipe Devitti também ajudam, porém trabalham e estudam. Para não o deixar somente em casa, ela aprendeu como transportá-lo no carro para leva-lo passear no sítio, o qual foi adquirido cerca de seis meses antes do diagnóstico de Luis.
O medo de perder Luis foi o primeiro sentimento que tomou Eliane, porém abandoná-lo por conta de sua condição nunca foi uma possibilidade para ela. “Passou mil e uma coisas na minha cabeça, mas nunca de abandonar ele, e nunca vai me passar, pois arrumei um motivo para a minha vida. Disse para mim mesma que tenho que ser forte para cuidar dela. Desde então nunca mais fiquei doente”, relata Eliane, que anteriormente sofria de depressão.
O amor de Eliane para com Luis é traduzido, sobretudo, por meio de seus gestos de carinho no dia a dia. Ela não se limita em apenas cuidá-lo bem, mas se preocupa em transmitir o seu amor. “Ele sempre foi o amor da minha vida, pai dos meus filhos, sempre foi educado, sempre foi muito presente, que me respeitou. Não consigo parar de dizer ‘eu te amo’, pois falo para ele 20 vezes por dia, e vem espontaneamente. Ele não fala coisas bonitas, não me faz carinho, mas é o carinho que passo para ele que acabo me envolvendo com o meu próprio carinho”, comenta Eliane, que complementa: “O meu amor por ele triplicou, pois ele não me xinga, não me trai”, brinca.
Eliane também se preocupa com o autocuidado frente aos desafios diários. Para seguir forte em sua missão, ela não deixa de se arrumar para manter a boa autoestima. Além disso, a família busca também, na justiça, um homecare para cuidá-lo enquanto Eliane trabalha, uma vez que, até o momento, ela não consegue exercer nenhuma outra função no momento por conta dos cuidados integrais ao Luis.
Nos dois primeiros anos, a família contou com o atendimento do programa “Melhor em Casa”, o qual, posteriormente, foi retirado, deixando de prestar cuidados paliativos para Luis por entenderem que ele não necessitaria mais. No entanto, Eliane luta pelos direitos de Luis para que consiga novamente os atendimentos de fisioterapia, fonoaudióloga, entre outros, para que ele consiga, sobretudo, progredir e se manter forte.
Enquanto isso, Eliane não deixa de conversar todos os dias com Luis, de oferecer carinho e todo cuidado necessário para que permaneça bem e, sobretudo, não esquece de reverberar o quão o ama. Mesmo não a vendo, escutar essas palavras e ter todo o amor oferecido por quem sempre lhe amou pode ser a energia vital que faz Luis manter-se vivo e forte na luta pela vida.