
A independência de uma mulher pode se tornar assustadora para alguns, então muitos ainda se seguram na violência ou nos preconceitos como o de que "mulher não sabe dirigir" ou de que "mulher precisa ficar em casa". Mesmo em 2023, muitas ainda não garantiram a sua Carteira de Habilitação, isso pode ser notado quando, entre mais de 68 mil condutores habilitados em Bento Gonçalves, apenas 26.895 são mulheres contra 41.564 homens. Há vários fatores que podem estar envolvidos nessa questão, porém, a necessidade e a força feminina sempre são maiores e um exemplo disso é Camila Cagliari, a “MÃETORISTA”, que além de dirigir, decidiu criar o próprio negócio de transporte com um diferencial: atender apenas mulheres, crianças e idosos.
A moradora de Bento Gonçalves, Camila Cagliari, de 47 anos, é mãe solo de duas meninas de 11 e 15 anos. Após passar por complicações pessoais, começou a pensar em como ganhar uma renda extra para os gastos mensais, então olhando para a própria realidade - sendo mulher e tendo duas filhas mulheres - e percebendo que a segurança está cada vez mais precária, decidiu abrir o seu próprio negócio de transporte particular na cidade com um diferencial: atender apenas mulheres, crianças e idosos. “Sou mãe solo e pra mim sempre foi muito difícil conseguir trabalhar fora em paz (faço parte das muitas mulheres que sofrem com abusos psicológicos e narcisistas pelos ex-companheiros), então além das outras atividades que exerço para gerar renda, essa foi outra ideia que tive para poder suprir os gastos: Unir o útil ao agradável! Como preciso levar, buscar e atender minhas filhas e minha mãe, eu pensei: por que não estender isso a outras pessoas? E minha ideia foi muito bem aceita,” destaca Camila.
Segundo Camila, seu serviço já foi muito elogiado e conta como surgiu o nome do transporte “Mãetorista”. “Recebi muitas mensagens dizendo o quanto o meu trabalho as ajudaria, pois conseguiriam trabalhar e ter uma pessoa com olhar de mãe para seus filhos, netos, e até para elas mesmas. Isso as faz se sentirem mais seguras e compreendidas. E o nome MÃETORISTA foi justamente para eu poder passar isso: Não sou apenas uma motorista! Sou MÃE! Ofereço um trabalho diferente, com zelo, cuidado e atenção,” explica Cagliari.
Além disso, a motorista frisa que decidiu trabalhar com a segmentação de atender apenas mulheres, crianças, adolescentes e idosos pela sua segurança e pela a de suas filhas. “Segurança contou muito – tanto que não trabalho com aplicativo nenhum – e por não encontrar algo nesse segmento quando também precisei para minhas filhas. Elas não se sentiam à vontade em usar táxi ou semelhantes. E conversando com outras pessoas elas também relatavam o mesmo problema com seus filhos, então pensei: Por que não?” diz Camila.
A “mãetorista” revela que para se sentir mais tranquila no trânsito toma alguns cuidados, mas que foca no trabalho e no que gosta de fazer. “Nunca me aconteceu nada, mas tomo minhas precauções como não trabalhar à noite e fazer corridas mais por aqui. Enfim, todos estamos propensos a qualquer coisa, se eu for ficar pensando muito nisso nem mandaria minhas filhas para escola mediante aos últimos acontecimentos, mas preciso trabalhar e gosto de me sentir ativa e útil,” frisa Camila.