Em meio ao fenômeno da urbanização, o Vale dos Vinhedos foi pauta de diversas discussões envolvendo o plano diretor de Bento Gonçalves nos últimos meses, cujo projeto foi retirado no mês de setembro após pressão popular. No entanto, o tema promete voltar à tona futuramente visando a definição de diretrizes na região para a sua preservação que, segundo a especialista em Patrimônio Cultural Urbano, Marilei Elisabete Piana Giordani, é preponderante para a proteção do legado histórico e cultural do local.
A arquiteta e urbanista bento-gonçalvense, que se dedicou a pesquisar a respeito da transformação do Vale do Vinhedos enquanto área geográfica, em decorrência da evolução da área urbana, defende a proteção da paisagem cultural do local para que continue sendo valiosa como patrimônio cultural e histórico. “Temos uma região específica de grande valor, não só o Vale dos Vinhedos, mas como as outras regiões vitivinícolas. O Vale dos Vinhedos só terá o seu valor enquanto uma região preservada. Isso não quer dizer que os agricultores não possam continuar cultivando. Podem e devem, mas precisam manter a sua história, a sua memória e a sua identidade própria”, pondera Marilei.
O Vale dos Vinhedos enquanto Denominação de Origem (D.O.) para vinhos engloba três municípios, os quais têm por responsabilidade gerir a preservação da paisagem cultural vitícola. A especialista pondera que a proteção não tem como objetivo apenas manter a produção de vinhos de qualidade na região.
“Há que se considerar a cultura. Temos a nossa cultura brasileira, entremeada principalmente aqui através da cultura familiar, que é, na maior parte, dos imigrantes italianos. Os turistas vêm aqui para ver e conhecer a identidade local. Se é para vir aqui e conhecer uma cópia da França, eles vão para lá conhecer o original. Nós temos que exaltar a nossa cultura, a nossa identidade própria. É necessário também que que cada família valorize a sua cultura para que, desta forma, ela esteja expressa no território”, comenta.
Por isso, conforme a especialista, alguns empreendimentos que estariam sendo implantados no Vale dos Vinhedos foram barrados, uma vez que poderiam promover significativa transformação na paisagem cultural do local. Desta forma, há a necessidade de implementar medidas de proteção e preservação para que a área geográfica do Vale dos Vinhedos não perca a sua identidade.
De acordo com Marilei, um exemplo a ser seguido é o caso dos Caminhos de Pedra, cujo território turístico possui o seu próprio “plano diretor”. De acordo com a pesquisadora, a preservação do patrimônio cultural é viável e pode ser provada através de exemplos de territórios que são protegidos pela UNESCO, a exemplo da região do Alto Douro, em Portugal, onde são produzidos os famosos vinhos do Douro.
Segundo a especialista, Bento Gonçalves é um expoente tratando-se de patrimônio cultural com suas paisagens paradisíacas e que chamam a atenção e turistas do mundo inteiro. No entanto, é preciso debater como preservá-las em meio ao processo eminente de urbanização. “Patrimônio cultural é a preservação da cultura. Nesse sentido, é muito importante para Bento Gonçalves, porque é um expoente, é a Capital Brasileira do Vinho. Os últimos debates, que foram públicos, verificou-se que se não fosse as comunidades se levantarem e a população dizer não, nós não queremos, não teríamos a paisagem cultural preservada. E a população tem todo esse direito e deve exercer o seu direito de cidadania”, destaca.