No que depender dos moradores do residencial Novo Futuro, no bairro Ouro Verde, a mobilização para melhorar as condições de vida no local será ainda mais intensa a partir de agora. O primeiro resultado positivo da união de um grupo de famílias pode ser visto nesta semana: após seis dias sem água, uma comissão interna arregaçou as mangas e começou, de porta em porta, a pedir ajuda aos vizinhos para reunir os R$ 16 mil necessários para quitar a fatura da Corsan pendente. O valor foi conseguido e o abastecimento foi retomado ainda nesta terça-feira, dia 5.
O problema envolvendo a distribuição de água no local – que reúne 420 apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida" – é antigo. Como o projeto original não previu a instalação de medidores individuais e os índices de inadimplência, em alguns meses, passam até de 40%, os eventuais cortes de água atingem a todos, mesmo quem mantém suas contas em dia. Desde 2011, quando foi inaugurado, essa é uma reivindicação que tem se repetido, mas ainda não foi solucionada.
A vitória obtida pela comissão deve marcar, também, o início de um trabalho permanente de conscientização dos moradores, para evitar que situações como essa se repitam e projetar uma imagem cada vez mais positiva do Novo Futuro. “Fomos nós, os moradores, que conseguimos o dinheiro e pagamos a conta de água. Mas temos que pensar que isso pode acontecer de novo no mês que vem, e não podemos deixar”, destaca João Ramos, um dos integrantes. Além de reforçar a cobrança pela individualização dos registros de água, o grupo também focará em atividades ligadas à segurança, assistência social e saúde.
No próximo dia 26, uma assembleia geral ouvirá demandas dos moradores. “O próprio Novo Futuro está tratando de suas feridas. As coisas são bem diferentes do que muitos dizem lá fora, quando nos denigrem”,complementa Éderson Vieira de Oliveira, também membro da comissão.
Durante a manhã, representantes da Secretaria Municipal de Habitação e Assistência Social (Semhas) chegaram a visitar o residencial para informar que o prefeito Guilherme Pasin, em reunião com a diretoria da Corsan, teria obtido a garantia de religação da água. Os líderes da mobilização, entretanto, fizeram questão de ressaltar que a retomada do abastecimento só foi possível graças à ação da própria comissão e à participação dos moradores que aderiram à causa.
Antes disso, muitos deles transitavam por entre os blocos, ou vindos da rua, carregando bombonas de água. Vários residentes contaram que, entre os mais prejudicados pela suspensão no fornecimento de água, estavam idosos e até bebês de poucos meses. Alguns ainda revelaram que puderam contar com a ajuda de vizinhos de moradias das proximidades, que cederam água para que eles tivessem condições de cozinhar e até permitiram banhos em suas casas.
Segundo a comissão, o corte da água, inclusive, foi causado por um erro na informação repassada pela Semhas ao escritório responsável pela administração do condomínio. A falha na comunicação resultou no pagamento de uma outra fatura que já estava em renegociação junto à Corsan, e deixou em aberto o boleto que deveria ser quitado. Em função de outros atrasos, o Novo Futuro já mantém um parcelamento de R$ 300 mil que estavam pendentes e agora serão pagos em parcelas de R$ 6 mil mensais, junto com a conta normal.
Revisão do sistema
Um dos fatores que mais dificultam a troca para medidores individuais de consumo de água, assunto que já foi parar no Ministério Público Federal (MPF), é a necessidade de readequação de toda a rede. Entre as intervenções exigidas pela Corsan, estão a instalação de caixas de 10 mil litros em cada um dos 20 blocos, além de reservatórios menores e bombas. Mesmo assim, a comissão garante que esse é um dos temas que também deve gerar novas mobilizações internas.
Enquanto estava no local, a reportagem do Notícias de Bento também ouviu diversas reclamações quanto aos valores praticados na cobrança mensal do condomínio. Em um dos casos, uma residente afirma que, quando se mudou, pagava R$ 60,00, e agora o boleto já chegou a R$ 165,00. Esse aumento nas tarifas nos últimos meses também foi apontado por outras pessoas. Outra queixa constante é o distanciamento do Poder Público, que, conforme vários relatos, "virou as costas" para os moradores.