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"Crise moral do brasileiro é pior do que a crise econômica", diz Leandro Karnal

O historiador, professor e doutor em História Social ministrou a palestra “Ética, corrupção, empreendedorismo e liderança no Brasil”, e tocou em temas delicados, mas que servem de reflexão a todos nós.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Vértice Comunicação/Divulgação
15/12/2018 às 21h01
Divulgação

Quem participou da 26ª edição do Congresso da Movergs na quinta-feira, 30 de junho, teve a rara oportunidade de acompanhar um dos palestrantes que é sensação no Brasil na atualidade: o professor e doutor em História Social Leandro Karnal. Fenômeno das redes sociais e do canal youtube, Karnal falou para um público formado em sua maioria por empresários sobre ética, corrupção e empreendedorismo.

O palestrante iniciou falando daquilo que, segundo ele, está na cabeça de todos: a crise econômica. Mas, lembrou de outros momentos nos quais o País apresentava resultados tão negativos quanto. “Como historiador, eu preciso dizer, especialmente para os jovens, que, nem de longe, é a pior crise que nós já atravessamos, ainda que esta esteja em curso e possa piorar”, disse, e completou: “Para quem acha que 7% de inflação ao ano é muito, eu já peguei 84% ao mês, no último mês do governo Sarney. E, para quem acha que é muito, já peguei 220% ao ano, no último mês do governo Figueiredo, fim da ditadura militar”. 

Karnal destacou que a crise econômica é mais grave no setor de comércio, serviços e de produção, e menos em outros setores, como o do agronegócio. No entanto, para ele o que mais chama atenção no momento é algo inédito no Brasil: o tamanho da crise moral do brasileiro. “Em 1984, durante a campanha Diretas Já, eu estava em um comício em Porto Alegre, quando achávamos que a derrubada da ditadura e a chegada da democracia resolveria os problemas. Havia perspectiva. Mas veio o Sarney como resposta”, recordou, e continuou: “Quando combatemos Sarney, precisávamos de uma eleição direta e o Brasil precisava crescer de novo através da democracia. E veio o Collor!”

Entrando no cenário atual, o historiador pontuou que para quem não gostava de Lula, veio Dilma. Para quem tem críticas a Dilma, recebeu Temer. Se Temer cair ou se tanto ele quanto Dilma foram impugnados na chapa, sobe Maranhão ou Cunha. E se ambos forem impugnados, entra Renan Calheiros. “E passamos de um a outro sem sair da crise moral. Não há ideia de horizonte”, afirmou. 

Para o palestrante, o lado bom é que a crise testa a capacidade das pessoas e as leva a um questionamento sobre ética. “Todos são bons motoristas em uma estrada perfeitamente asfaltada, em tempo claro e sem carros. São poucos os que dirigem bem em uma estrada esburacada, com muitos carros, sob chuva e à noite. Ou seja, ser um bom comerciante em um mercado próspero é fácil. Ser bom comerciante em um mercado com dificuldades, é muito mais difícil”. 

De acordo com Karnal, se o brasileiro vive hoje um colapso ético é porque pais professores e patrões fracassaram na tarefa de educar eticamente. “Nenhum ser nasceu ético. Educar é mostrar para as pessoas que o mundo delas tem limite. E o limite delas é o outro. Educar é muitas vezes ser chato. É estabelecer princípios de que o outro não é o centro de nada, apenas uma parte de um todo. E nós somos capazes de adquirir e aperfeiçoar essa ideia”.  

Usando os exemplos comuns do dia-a-dia, quando alguém usa a vaga de estacionamento para idoso, após não encontrar uma livre, ele destacou que o ser humano é capaz de quebrar as regras de acordo com os seus desejos. “Existem uma tradição de acreditar que o mal está no outro. De achar que o problema está fora de nós. O mal está sempre fora”. Karnal afirma que não existe uma maneira correta de fazer algo errado. E vai mais afundo: a população tem o governo que merece. 

Segundo ele, ser 100% ético é uma utopia. Mas é a partir da utopia que se pode melhorar o real, e agora é o momento de se produzir algo bom. “O fato de não existir alguém plenamente ético, não quer dizer que tenhamos que ser pessoas que toleramos o plenamente não ético. Existe um caminho humano. Só que toda vez que eu errar ou deslizar eticamente, eu tenho que conhecer isso como um equívoco e tenho que arrumar. O que não pode acontecer e é o que acontece é o orgulho pela falta de ética, o orgulho pelo desvio o orgulho pela lei da vantagem”.

O historiador afirma que o que todos os brasileiros estão colhendo agora é o resultado negativo de uma falta de preocupação com a ética que durou quase toda a ditadura militar e o início da redemocratização. “Logo, uma decisão tomada hoje vai influenciar o futuro. Todas as mudanças são mudanças de médio e longo prazo”, explica.

Para Karnal, se todos fizerem uma revolução ética, quem vai sentir isso é a próxima geração, não a geração anterior. “Não vai ser de imediato, mas nós estamos dando passos para melhorar muito e essa melhora é notável neste momento. Essa preocupação geral com a ética política é o primeiro passo para nós transformamos as pessoas e as coisas”, finalizou.  



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