Após o sucesso do movimento em prol das causas da comunidade LGBTQIA+ em Bento Gonçalves, promovido pela Bento Pride, agora o município vai contar com um “Grupo de Escuta” para abordar pautas que permeiam o tema. A Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), por meio do Curso de Psicologia, abre as portas para pessoas que se identificam com a comunidade para expor suas cicatrizes e dificuldades e, sobretudo, para promover o empoderamento e a união no combate ao preconceito na sociedade.
Nos encontros, os participantes terão a oportunidade de compartilhar suas experiências e debater temas como os fatores de vulnerabilidade aos grupos LGBTQIA+, relações familiares, a garantia de direitos à saúde, à dignidade, à não discriminação, à autonomia e ao livre desenvolvimento, entre outras pautas que permeiam a causa.
Conforme a estudante de psicologia da FSG, Bruna Huppes, de 22 anos, que coordena o grupo ao lado de sua supervisora, a professora Sandra Giacomini, a ideia inicial era promover o grupo para adolescentes e aos pais. No entanto, posteriormente, o grupo se voltou ao público adulto, sendo colocado em prática logo após o sucesso da caminhada LGBTQIA+ na cidade.
Bruna salienta que a decisão em realizar o grupo de escuta na faculdade se deve ao intuito de demonstrar que a instituição é um lugar seguro e acolhedor para receber pessoas da comunidade. “É algo muito simbólico também, porque sabemos que há uma dificuldade da pessoa LGBT acessar o ensino superior, principalmente se for uma pessoa trans. Pensamos em trazer na faculdade para mostrar que estamos de portas abertas e que é um espaço inclusivo, amigável”, ressalta.
A ideia principal do grupo, de acordo com Bruna, é trazer à tona reflexões e pautas do dia-a-dia. “Será um espaço para falar o que é ser e ter a vivência de um LGBT, perpassando o trabalho, ciclo de amizades, como é que se sente em ambientes públicos, toda essa questão principalmente aqui em Bento e na região, que tem o preconceito muito enraizado ainda. Queremos trazer essa reflexão e no que isso implica na vivência de cada um dentro do seu espaço”, explica a estudante.
Por conta da pandemia, os encontros terão um número limitado de participantes. Bruna relata que, logo nos primeiros dias de divulgação do grupo de escuta, as vagas foram todas preenchidas, e há uma longa lista de espera. “Nos três primeiros dias das inscrições já fechamos o número de inscritos e abrimos uma lista de espera. Foi uma adesão muito boa e fiquei surpreendida”, relata.
Além de poder compartilhar suas vivências, as pessoas que participarem poderão promover a união da comunidade LGBTQIA+ em prol do combate ao preconceito e discriminação. “Aqui eles terão um lugar seguro para poder falar e ouvir, poder se identificar com o próximo e ver que não está sozinho”, comenta Bruna.
Para Matheus Henrique, vice-presidente do Bento Pride, o Grupo de Escuta terá um grande fundamento por, sobretudo, dar importância aos assuntos em pauta que pouco ou nunca foram discutidos em Bento Gonçalves em defesa da comunidade LGBTQIA+. “Uma das pautas é a discriminação no mercado de trabalho, que infelizmente está muito presente na nossa cidade, e é um assunto muito polêmico, pois a maioria tem medo de expor sua vivência sobre o assunto em questão de agressão ou sofrer ainda mais preconceito”, comenta Matheus, que complementa:
“A minha esperança com esse grupo de escuta é que ele seja uma porta de escape para que muitos jovens e pessoas vividas da comunidade LGBTQIA+ possam se abrir para o mundo sem medo de julgamentos, e principalmente possam expor suas cicatrizes e motivar outras pessoas a buscar apoio e um lugar de conforto com o grupo, pois ninguém está sozinho. Somos mais de 5 mil LGBTQIA+ espalhados por Bento Gonçalves”, pondera.
O primeiro encontro acontece no dia 31, às 18h, na FSG Bento Gonçalves. Conforme Bruna, nessa primeira ocasião serão definidos se o grupo de escuta terá encontros semanais, quinzenais ou uma vez por mês, e se será presencial ou virtual. Além disso, também devem ser debatidos sobre os temas que serão levantados, a possibilidade da participação de profissionais, entre outras combinações.
As regras de funcionamento e convívio são pactuadas e construídas com todos/as participantes. Os interessados em entrar para a lista de espera devem preencher o seguinte formulário: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfI_g2nlOdGYr6uJC_y_NCQXYYtYTdfyJIBMZAROG15OIcy1A/viewform. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail [email protected].
O que é LGBTQIA+?
LGBT é uma sigla que significa Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero. Em uso desde a década de 1990, o termo é uma adaptação da sigla LGB, que começou a substituir o termo gay em referência à comunidade LGBT mais ampla a partir de meados da década de 1980. A sigla representativa da comunidade já passou por diversas mudanças. Uma vez chamada de comunidade LGBT, atualmente ela já abrange mais letras, e hoje é correspondida pela sigla LGBTQIA+.
Essas mudanças na nomenclatura ocorrem porque a sociedade tem aberto cada vez mais espaço para a discussão em torno da representatividade. Veja o que cada sigla representa:
L: Lésbicas - Mulheres que sentem atração sexual e afetiva por outras mulheres.
G: Gays - Homens que sentem atração sexual e afetiva por outros homens.
B: Bissexuais - Pessoas que sentem atração sexual e afetiva por homens e mulheres.
T: Transexuais - Pessoas que assumem o gênero oposto ao de seu nascimento. Uma identidade ligada ao psicológico, e não ao físico, pois nestes casos pode ou não haver mudança fisiológica para adequação.
Q: Queer - É uma forma de designar pessoas que não se encaixam à heterocisnormatividade, que é a imposição compulsória da heterosexualidade e da cisgeneridade.
I: Intersexo - Pessoas que não se adequam à forma binária (feminino e masculino) de nascença. Ou seja, seus genitais, hormônios, etc, não se encaixam na forma típica de masculino e feminino.
A: Assexual - Pessoas que não possuem interesse sexual. Por vezes, esse grupo pode ser também arromântico ou não, ou seja, ter relacionamentos românticos com outras pessoas.
+ - O “mais” serve para abranger as demais pessoas da bandeira e a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero.