Enfrentar a Covid-19, embora tenha sido um duro desafio, não foi a única batalha que o agricultor Almir Barella, de 64 anos, morador do bairro São Roque, teve que encarar ao longo dos últimos meses. Desde 8 de março, quando os sintomas de contágio pelo coronavírus começaram a debilitar sua saúde, ele iniciou uma verdadeira luta pela vida, que ao meio-dia desta sexta-feira, 18, tem uma importante etapa encerrada com sua saída do Hospital Tacchini e a volta para casa.
Na primeira semana, foram várias idas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h), no bairro Botafogo. Mas, a partir de 15 de março, com a piora no quadro, ele precisou ser internado junto com sua mãe, Hermínia, de 89 anos, que vivia com ele e também foi diagnosticada com a doença.
Essa fase já iniciou de forma bastante tensa: três dias depois de dar entrada, com seu estado considerado grave, foi transferido para um leito de UTI no Tacchini, necessitando de ventilação mecânica e de cuidados com o coração, que já havia sofrido um infarto há alguns anos.
No dia seguinte, 19 de março, dona Hermínia faleceu. A família, com medo da reação de Almir, preferiu não contar sobre a perda naquele momento, para evitar que sua situação piorasse. "Com muita dor no coração, a família optou por omitir a informação nesse momento tão delicado", explicam, em relato escrito enviado ao NB Notícias.
Primeiros 43 dias na UTI
Em 20 de março, com muitas dificuldades para respirar, Barella também tomou uma decisão bastante difícil: com seu consentimento, e sem comunicar previamente os parentes, ele foi intubado. Otimista, disse aos médicos, antes do procedimento, que seguiria lutando pela vida, e assim o fez.
Do lado de fora, os familiares enterravam a sua mãe e também conviviam com outro temor, já que a esposa de Barella, Zuleide, também havia sido diagnosticada com Covid-19. Família, amigos e vizinhos se uniram em uma corrente de positividade e orações e, passados 43 dias na terapia intensiva, Almir finalmente voltou para o quarto. Já era mês de maio e ele se mostrava confiante que, no dia 12, poderia estar em casa para celebrar o seu aniversário.
Quis o destino que o agricultor ainda tivesse mais algumas provações e não pudesse comemorar a passagem para os 64 anos da forma tranquila que desejava. A primeira delas foi a descoberta de sete pedras nos rins, do tamanho de um grão de feijão, o que as impedia de passar pelo canal urinário e exigia uma cirurgia. Começava aqui a segunda batalha. Mesmo ainda estando muito fraco e com os pulmões trabalhando com apenas 25% da capacidade, a operação foi bem sucedida e, logo, se renovaram as esperanças de poder retornar ao lar.
Bactéria e nova intubação
Infelizmente, foi justamente em meio ao seu momento de recuperação que uma bactéria se alojou no organismo, agravando sua condição e trazendo febre, complicações respiratórias e cardíacas. A terceira batalha: Barella voltou para a UTI e foi novamente intubado, depois de passar por uma parada cardíaca de quase oito minutos. Na ocasião, os médicos alertaram a família que esperasse um milagre, dada a gravidade do quadro e os exames que não deixavam criar muitas expectativas.
Foram mais 21 dias de UTI, e um novo obstáculo ainda precisaria ser superado, após uma breve volta para o quarto: uma intercorrência em sua traqueostomia faria Almir regressar para a terapia intensiva por mais dois dias, antes de retornar definitivamente para o quarto, de onde sai nesta sexta. As próximas semanas ainda exigirão alguns cuidados especiais, como o uso de oxigênio e a realização de algumas sessões de hemodiálise. Nada que não possa ser vencido por Barella com o apoio da família, agora ainda mais próxima. "Nosso guerreiro volta pra casa, vencendo uma guerra difícil, com pouquíssimas ou nenhuma sequelas após passar por tudo isso. Com a perda de sua mãe, mas com a vitória de ter a sua vida de volta", finaliza o relato encaminhado pelos familiares.
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