
A tão famosa farra no presídio divulgada por boa parte da imprensa de Bento Gonçalves e que teria provocado a saída do diretor da penitenciária pode não ter acontecido. Documentos comprovam que o ex-dirigente da casa prisional, Evandro Simionato, tinha denunciado a má conduta de alguns agentes à Susepe e colocado seu cargo à disposição, caso nenhuma providência fosse tomada, antes mesmo do envio de denúncia dos servidores para a imprensa. Além disso, pelo menos uma das fotos utilizadas seria de uma festa de Dia das Crianças, repassada com o objetivo de induzir que havia um descontrole na casa prisional, com anuência do ex-diretor. O caso está sendo investigado pelo Poder Judiciário, sob segredo de justiça, e também pela Corregedoria da Susepe.
A existência da documentação foi confirmada pela titular interina da 7ª Delegacia Penitenciária Regional (DPR), delegada Marta Eliane Marim Bittencourt. Ela, assim como os demais envolvidos no caso, evita falar detalhadamente sobre o assunto. Simionato protocolou dois documentos na Susepe, datados de 16 de outubro e 24 de outubro. Nele está registrado que a existência de uma “Prefeitura” no interior da penitenciária é inexistente, bem como a falta de carne na comida para a maioria dos presos, segundo apuração feita pela administração.
Também ficou registrado no documento os problemas enfrentados com alguns agentes penitenciários, cujos nomes não serão revelados para prejudicar a sindicância da Susepe e também o inquérito em andamento no Ministério Público, onde alguns servidores teriam sofrido ameaça e o grupo estaria armando um boicote ao trabalho do ex-diretor. No documento, Simionato também deixou claro ao então delegado da 7ª DPR, Roniewerton Pacheco Fernandes, que caso nenhuma providência fosse tomada para conter a ação dos agentes, ele colocava seu cargo à disposição da Susepe e não continuaria na direção do presídio. O ex-diretor havia solicitado a transferência dos agentes para que o bom andamento do serviço continuasse.
Como os agentes não foram afastados do presídio, foi encaminhada a transferência de Evandro Simionato, que foi designado para trabalhar na cidade de Guaporé. Assim que a saída de Simionato foi anunciada pela imprensa, dezenas de familiares de detentos fizeram um abaixo assinado, encaminhado à Susepe, pedindo a permanência do diretor, que segundo o documento, teria humanizado o tratamento aos presos e também a seus familiares. Apesar da manifestação, a transferência foi mantida.
SUSEPE INVESTIGA CONTEÚDO DO DOSSIÊ
Somente após a denúncia feita pelo ex-diretor do presídio, Evandro Simionato, à Susepe, um documento montado por servidores do presídio foi encaminhado a dois órgãos de imprensa da cidade e também ao Ministério Público. Entre as alegações, mordomias a uma parte dos detentos e uma defesa prévia das denúncias feitas pelo ex-dirigente da casa prisional.
A Corregedoria da Susepe está fazendo uma análise de todos os documentos e busca resposta para algumas questões. Uma delas é saber os motivos que levaram servidores do presídio a entregar documento à imprensa e Ministério Público e não ter feito comunicação oficial para a superintendência. A superintendência também apura como a imprensa teve acesso a fotos do interior da casa de detenção. Uma informação interna dá conta que elas foram repassadas por agentes e tinham sido tiradas durante a realização da festa do Dia das Crianças, tentando caracterizar que os detentos tinham liberdade em demasia concedida pelo ex-diretor.
Além disso, a corregedoria quer saber como os agentes que estavam de serviço permitiam que alimentos não autorizados chegassem à cantina e nada foi registrado no livro de ocorrências existente na casa prisional, sendo que há informação de que este procedimento ocorria há mais de três meses dentro da penitenciária. A direção da Susepe informa que só irá se manifestar oficialmente após a conclusão das sindicâncias.
O ex-diretor do presídio, Evandro Simionato, foi procurado pela reportagem do Notícias de Bento, mas preferiu não se manifestar. Ele afirmou que está conversando com seu advogado e juntando provas para comprovar sua inocência. Após a conlusão deste levantamento ele garante que irá se manifestar oficialmente.