A pandemia do novo coronavírus exaltou o sentimento de angústia e preocupação nos negócios e impactou diretamente na economia do país. No entanto, a motivação para encontrar alternativas para superar os desafios e a união de esforços se sobressaíram. Em meio às dificuldades, empresas não titubearam em encontrar soluções para manter as boas vendas. É o caso da Multi Arte Estofados e da loja Mundo do Presentes, que conseguiram driblar as adversidades em meio às limitações.
Multi Arte Estofados – A união faz a força
A Multi Arte Estofados, empresa que está em atividade há 15 anos em Bento Gonçalves, encarou e continua enfrentando um grande desafio: os significativos reajustes nos valores e a falta de matéria-prima. De acordo com os sócios Loreni da Rosa e Paula Lavadoski Faccio, a demanda posterior ao fim do Lockdown inicial foi surpreendente.
No entanto, a alta nos valores e a falta de matéria-prima impactou na oferta. Segundo Paula, a espuma, um dos principais insumos utilizados pela empresa, teve um aumento de 160% no valor; o tecido e o plástico contaram com 10% de alta, enquanto que o papelão teve 143% de aumento.
Por conta da falta de espuma, a empresa teve que, inclusive, paralisar as atividades por alguns dias. “A escassez do material foi por diversos motivos: a alta do dólar: muitas empresas acabaram exportando em maior quantidade e deixando aqui para o mercado nacional uma quantidade pequena; outra por essa questão das empresas, como nós, terem enxugado suas plantas, suas fábricas e, no momento que reabasteceu, tiveram que acelerar de uma forma de onerar os seus custos”, explica.
Loreni comenta que, neste período, ocorreu algo inédito em sua empresa. Enquanto que nos anos anteriores a Multi Arte trabalhava para ir ao encontro das vendas, neste período no qual a demanda está expressivamente maior que a oferta, os sócios se viram obrigados a dizer “não” aos clientes. “Na nossa história sempre corremos atrás de vendas, e chegamos num momento que tem a venda, o lojista quer comprar, o consumidor quer comprar, e você tem que dizer não. A maioria das empresas teve um momento em setembro que tiveram que segurar ou cancelar as vendas. Não tinha o que fazer”, relata.

Paula explica que a demanda aumentou consideravelmente pelo fato de as pessoas se manterem em suas residências neste período, as quais passaram a investir em maior conforto. “Temos a empresa há 15 anos. Nunca a demanda foi tão maior que a oferta como está sendo agora. A demanda está fora do comum. Levamos em consideração o seguinte fato: nosso produto específico é estofado. Todo mundo ficou em casa, muitas pessoas seguem trabalhando em seus lares, então essas pessoas acabaram investindo dentro de suas residências para ter maior conforto”, analisa a sócia.
A busca por alternativas:
A principal alternativa que a empresa encontrou para superar o momento de crise proporcionada pelo atual cenário de pandemia foi transformar o showroom em uma loja de fábrica. “No nosso caso, desde abril para cá, nós temos uma loja para a indústria e agora também estamos atuando no comércio, com uma loja de fábrica na região, foi uma alternativa que buscamos e que pretendemos manter”, ressalta Loreni.
Além disso, para não deixar nenhum cliente sem material, a empresa distribuiu os produtos para a sua rede de clientes. “Para não deixar nenhum cliente sem material nós dividimos um pouco para cada um. Talvez não conseguíamos atender 100% o nosso cliente, mas não deixei ele sem ter o produto na sua loja. Temos que abastecer toda nossa rede de clientes o máximo possível, não deixar ninguém sem o nosso produto”, pondera Paula.
Também, no setor de vendas, a Multi Arte procurou fazer parcerias para ampliar o seu mix de produtos na loja de fábrica, a exemplo das cadeiras e salas de jantar. A intenção dos sócios é cada vez mais ampliá-la com novas parcerias. “Além da indústria, a loja passou a ser para a Multi Arte um ponto de apoio e segurança, atendendo toda a Serra Gaúcha”, exalta Loreni. “A loja foi um ponto muito forte para a nossa adaptação ao novo normal”, complementa Paula.

Parcerias e a união entre o setor:
Deixar a concorrência de lado e fortalecer laços entre as fábricas do setor: essa foi uma relevante solução que as empresas de estofados encontraram para superar juntas o período de dificuldade em decorrência da pandemia. Segundo os sócios, as parcerias e a união entre o setor foram preponderantes e se tornaram uma das consequências positivas ao enfrentar um cenário totalmente inédito de adversidade.
O fortalecimento de vínculos é uma das soluções que Paula exalta entre os aprendizados que vieram à tona neste período: “As parcerias foram um dos pontos mais fortes em meio a essa pandemia. Com os fabricantes de estofados aqui da região nos reunimos, formamos um grupo para discutir ideias, ver algumas soluções, dividir experiências, a pandemia serviu muito para enriquecer esse tipo de relação até com os próprios concorrentes. Quanto mais tivermos esse tipo de coisa, não só nesse período, acho que sempre vem para ajudar e somar. Tivemos essa experiência e podemos comprovar que realmente dá certo”, pondera.
Dentre os exemplos citados pelos sócios, houve uma significativa ajuda mútua entre as empresas no compartilhamento de insumos, para que nenhuma empresa tivesse prejuízos expressivos pela falta deles. “Não se pode ver o colega do lado, que tem as mesmas dificuldades que você, como um adversário. Não se pode vê-los só como concorrência, e sim como parceiros, como colega”, afirma Loreni. “Já tem tanta coisa ruim acontecendo, se você ficar sozinho e se isolar é pior ainda. Quanto mais gente unida para um mesmo propósito todos saem ganhando”, complementa Paula.
Loja Mundo do Presente – Para tudo há uma alternativa
Assim como a empresa Multi Arte, a Loja Mundo do Presente também não deixou a pandemia desanimar e desmotivar o negócio, procurando incessantemente alternativas e soluções para encarar o desafio inédito de enfrentar o cenário de pandemia. Em meio ao período de Páscoa, em pleno confinamento, a loja teve uma sacada inteligente para manter as vendas ativas.
O sócio Evandro Jauer explica que a loja encontrou nas vendas pela internet, por telefone e WhatsApp e através das tele entregas uma medida para confrontar o impacto da crise e manter as boas vendas, conforme as limitações. “O período inicial da pandemia foi bem conturbado para nós, pois nos deparamos com uma situação totalmente nova, que não se tinha ideia do que podia acontecer. Principalmente a primeira parada em março, que foi o primeiro lockdown de 15 dias, aquilo trouxe um choque para nós, uma agonia, mas tivemos que buscar uma forma de reinventar esse trabalho”, explica.

Na Páscoa, em meio ao Lockdown, a loja Mundo do Presente conseguiu alcançar bons resultados das alternativas colocadas em prática. “Tivemos que nos reinventar nesse período e já conseguimos coletar resultados ali, através da venda pela internet, por telefone, por tele entrega, tudo isso começou a surgir naquele momento. Depois, com os protocolos, tentamos nos adaptar. A partir de julho, quando voltamos ao trabalho dentro de todas aquelas normas de segurança impostas pelo governo, conseguimos retomar uma quase que normalidade de vendas dentro do setor de brinquedos”, pondera.
Do período de julho em diante, quando aos poucos o comércio foi normalizando os atendimentos dentro dos protocolos impostos pelo governo, Evandro relata que as vendas logo voltaram à normalidade. “De julho, quando conseguimos voltar a trabalhar, em diante tivemos praticamente uma retomada da normalidade de vendas. Hoje temos um público infantil e tivemos datas em outubro e dezembro, no dia da criança e no Natal, nos quais há um aumento da compra de brinquedos principalmente, então não estamos sentindo tanto essa crise, o impacto dessa crise. Estamos vendendo dentro do padrão do ano passado”, analisa.
Apesar de não manter todas as alternativas buscadas especificamente durante a pandemia, o desejo dos sócios é implementar algumas delas em um futuro próximo para fomentar cada vez mais as vendas da loja no segmento. “Foi uma alternativa que buscamos especificamente durante a pandemia. Hoje não estamos trabalhando mais com isso, mas há uma possibilidade de implantarmos esse sistema em definitivo agora num futuro próximo em função de ter dado certo, pois não imaginávamos. Na Páscoa foi muito interessante trabalharmos desta forma”, destaca Evandro.