
Faltam poucas horas para o Natal. Nas ruas, o movimento aumenta; nas casas, o cheiro da ceia começa a tomar forma; nas redes sociais, multiplicam-se mensagens de afeto. Mas, longe dos cartões-postais e das fotos perfeitas, o Natal de 2025 chega marcado por contrastes profundos — alegria para uns, saudade para outros, e esperança para quase todos.
Em Bento Gonçalves e na Serra Gaúcha, a véspera é vivida de maneiras distintas. Há quem conte as horas para reunir a família em volta da mesa, quem enfrente o trânsito para chegar a tempo do abraço, e quem viva este Natal com cadeiras vazias, lembranças recentes e o silêncio que só a ausência explica.
Para muitas famílias, este será o primeiro Natal sem alguém que partiu ao longo do ano — vítimas de doenças, acidentes ou da própria passagem do tempo. Para outras, será o Natal da superação, depois de meses difíceis, perdas materiais ou incertezas financeiras.
“É um dia que mistura tudo: alegria, dor, gratidão e fé”, resume a psicóloga clínica Ana Martins Simonaggio, que atende famílias na região. Segundo ela, datas simbólicas como o Natal “potencializam emoções que ficaram guardadas durante o ano”.

Com o comércio funcionando em horário diferente nesta semana e as últimas compras sendo feitas às pressas, o Natal também escancara outro sentimento: o desejo coletivo de pausa. Mesmo em meio à correria, cresce a busca por momentos simples — uma conversa sem pressa, um telefonema inesperado, um gesto de reconciliação.
Igrejas realizam celebrações especiais, voluntários intensificam ações solidárias, e famílias se reorganizam para fazer “o melhor possível” com o que têm. Em muitos lares, o Natal deste ano não será sobre fartura, mas sobre presença.
Especialistas em comportamento apontam que, após anos de crises sanitárias, climáticas e sociais, o Natal tem assumido um significado mais essencial. Menos ostentação, mais vínculo. Menos cobrança por felicidade, mais permissão para sentir.
“O Natal não precisa ser perfeito para ser verdadeiro”, diz Ana. “Ele pode ser silencioso, simples ou até triste — e ainda assim cumprir seu papel de reconectar as pessoas consigo mesmas.”
Faltando um dia para o Natal, ainda cabem muitas coisas:
um pedido de desculpas;
uma visita inesperada;
uma mensagem que ficou guardada;
um prato simples feito com carinho;
ou apenas a decisão de não desistir do próximo ano.
Porque, no fim, o Natal não acontece apenas à meia-noite do dia 24. Ele acontece quando alguém escolhe olhar com mais cuidado, falar com mais gentileza e seguir com um pouco mais de esperança.
E isso, diferente dos presentes, não se esgota.