
A Brigada Militar apreendeu, na tarde deste domingo (14), um adolescente de 17 anos por ato infracional análogo ao tráfico de drogas, no bairro Progresso, em Bento Gonçalves. A ação foi realizada por uma equipe da Força Tática, durante patrulhamento em uma região marcada por recorrentes ocorrências ligadas ao comércio e ao consumo de entorpecentes.
Com o jovem, os policiais localizaram uma quantidade significativa de cocaína, que foi apreendida. O adolescente foi conduzido à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para os procedimentos legais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O caso, no entanto, vai além de uma ocorrência isolada e reforça uma tendência preocupante observada pelas forças de segurança: a adesão cada vez mais precoce de menores de idade ao tráfico de drogas, muitas vezes utilizados também em crimes violentos, incluindo execuções e homicídios.
Segundo especialistas em segurança pública, o crime organizado recruta adolescentes por uma combinação de fatores: vulnerabilidade social, ausência de oportunidades, promessa de dinheiro rápido, além da sensação de pertencimento e poder oferecida pelas facções. Outro fator decisivo é a percepção de menor punição penal, já que menores respondem por atos infracionais e não por crimes, o que os torna, para os traficantes, uma mão de obra descartável e estratégica.
“Os adolescentes são colocados na linha de frente do tráfico porque assumem riscos maiores, enquanto os líderes permanecem protegidos”, explica um policial ouvido pela reportagem. Em muitos casos, esses jovens começam como olheiros ou entregadores, mas acabam envolvidos diretamente em disputas territoriais, cobranças de dívidas e ações violentas.
A presença de adolescentes no tráfico também está diretamente relacionada ao aumento da letalidade. Em investigações recentes na região, forças de segurança identificaram menores envolvidos não apenas na venda de drogas, mas também na execução de rivais, como forma de “provar lealdade” às organizações criminosas.
Esse ciclo, segundo especialistas, encurta drasticamente a expectativa de vida desses jovens, que passam a viver sob ameaça constante, tanto de grupos rivais quanto do próprio sistema criminal.
A Brigada Militar afirma que tem intensificado operações em bairros com maior incidência de tráfico, como o Progresso, buscando coibir a circulação de drogas e desarticular pontos de venda. No entanto, autoridades reconhecem que a repressão, sozinha, não resolve o problema.
“O enfrentamento ao tráfico que envolve menores exige ações integradas, com políticas públicas voltadas à educação, assistência social, esporte e geração de oportunidades”, destacou um agente da área de segurança.
O caso deste domingo evidencia um problema estrutural, que extrapola a atuação policial e exige respostas do poder público, da sociedade e das famílias. O aliciamento de adolescentes pelo tráfico não apenas compromete a segurança pública, mas também rouba o futuro de jovens que, muitas vezes, encontram no crime a única alternativa visível.
A ocorrência segue sob responsabilidade da Polícia Civil, enquanto o adolescente permanece à disposição da Justiça. A Brigada Militar reforça que seguirá atuando de forma ostensiva e preventiva para conter o avanço do tráfico e proteger a comunidade de Bento Gonçalves.