
A retirada acelerada dos trilhos da antiga malha ferroviária entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa voltou a gerar forte reação política no município. Mesmo após recomendação formal do Ministério Público Federal (MPF) para suspender imediatamente o desmonte da ferrovia, a concessionária Rumo Logística segue enviando carretas para remover o material metálico e transportar para Santa Catarina — movimento registrado diariamente por moradores da região.
À frente das cobranças públicas está o vereador Volmar Giordani (Republicanos), que protocolou pedido de informações ao prefeito Diogo Siqueira e enviou ofício à bancada federal do Republicanos, exigindo atuação urgente para impedir que a ferrovia gaúcha seja definitivamente desmontada.
Em pedido formal encaminhado ao Executivo, Giordani solicita que o prefeito informe quais medidas estão sendo adotadas para proteger a malha ferroviária local. O parlamentar reforça que o município pode estar assistindo, inerte, à retirada de parte importante do patrimônio público e histórico da Serra Gaúcha.
“A região do Vale do Taquari e da Serra Gaúcha reivindica a reconstrução e a reativação da malha ferroviária. Não podemos permitir que o material seja levado para outros estados enquanto aqui ainda lutamos para manter vivas nossas ligações ferroviárias”, escreveu o vereador.
Giordani alerta que, além do potencial turístico, a ferrovia é essencial para o escoamento da produção, especialmente após as enchentes de 2024, que destruíram pontes, estradas e trechos importantes da malha rodoviária do estado.
Segundo o vereador, as carretas continuam chegando e saindo de Bento Gonçalves carregadas com trilhos retirados da Malha Sul — mesmo após o MPF recomendar:
suspensão imediata do remanejamento dos trilhos e equipamentos, salvo em casos de risco comprovado;
entrega de relatório técnico completo sobre o material já removido;
apresentação, em 10 dias, das providências adotadas pela Rumo para atender às recomendações.
A concessionária teria ignorado o prazo e continuado a remover ativos ferroviários gaúchos para uso em trechos operacionais de Santa Catarina, prática que, segundo Giordani, pode caracterizar dilapidação de patrimônio público.
No documento enviado a Brasília, o parlamentar afirma que a ferrovia corre risco de não ser mais reativada, especialmente após a Rumo informar à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que pretende renovar apenas alguns trechos específicos do “Tronco Sul”, excluindo áreas atingidas pelas enchentes — exatamente o trecho da Serra Gaúcha.
Giordani lembra ainda que:
A concessão da Malha Paulista foi prorrogada até 2058, ampliando o prazo da empresa no país.
A concessão da Malha Sul vence em 2027, e a empresa tenta renegociá-la.
A retirada do material do Rio Grande do Sul, antes do fim do contrato, fere o dever de manter a ferrovia operacional e conservada, conforme cláusulas contratuais.
O vereador destaca que as enchentes de 2024 devastaram aproximadamente 700 quilômetros de ferrovia, e que a reconstrução depende da manutenção daquilo que restou após a tragédia.
“Se o pouco que sobrou está sendo levado embora, qual será o futuro da ferrovia gaúcha? O material precisa estar aqui, não em outro estado”, afirma.
A ferrovia liga regiões estratégicas do estado e sempre foi vista como alternativa para:
transporte de cargas industriais e agrícolas;
integração logística da Serra Gaúcha ao resto do país;
desenvolvimento do turismo ferroviário.
A retirada completa dos trilhos interromperia definitivamente qualquer possibilidade de retomada.
Giordani aguarda resposta do Executivo e articulação da bancada federal para impedir que o material continue sendo levado. Ele também defende:
intervenção da ANTT,
fiscalização reforçada do MPF,
e avaliação urgente do governo do Estado sobre o impacto logístico da retirada.
Enquanto isso, carretas seguem circulando, trilhos seguem sendo removidos e a população teme que Bento Gonçalves esteja assistindo ao fim de mais um capítulo da história ferroviária da região — desta vez, sem retorno possível.