
A espera por atendimento virou risco de vida para Cristian Felipe dos Santos, 38 anos, consultor comercial que há mais de dois meses tenta, sem sucesso, acesso a um urologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Bento Gonçalves. Sofrendo com cálculo renal severo, com pedras acima de 1 cm e uma delas obstruindo a uretra, o paciente relata dores extremas, dificuldades para trabalhar e falta de respostas da Prefeitura e do Hospital Tacchini — responsável pelo atendimento referenciado.
A situação só começou a se movimentar após o NB Notícias questionar oficialmente o poder público, o que resultou no agendamento da consulta e encaminhamento cirúrgico, segundo o próprio Cristian.
Cristian convive com dores intensas desde agosto. No início de novembro, procurou novamente a UPA 24h, onde exames de sangue, urina e tomografia confirmaram dois cálculos renais, um em cada rim — sendo que o do lado esquerdo estava bloqueando a uretra, condição considerada grave e potencialmente danosa ao funcionamento renal.
“É uma dor terrível! Não faz ideia do quanto dói”, relatou o paciente. Ele chegou a permanecer uma semana internado na UPA, mas a falta de previsão para avaliação com especialista e a negativa de leito no Hospital Tacchini o levaram a retornar para casa com atestado médico — o que, mais tarde, seria usado pela Prefeitura como justificativa para a interrupção do processo de regulação.
Conforme Cristian, a Secretaria de Saúde e o Tacchini passaram semanas atribuindo responsabilidades um ao outro, sem solução prática.
Nos contatos realizados, ele foi informado que:
• O Tacchini não era referência para o procedimento solicitado.
• Não havia leitos SUS disponíveis.
• O município teria como referência hospitals em Erechim — a mais de 200 km de distância.
• O atendimento via SUS teria previsão somente para início de 2026.
Durante esse período, Cristian enviou mais de 12 e-mails à Prefeitura e buscou ajuda também no gabinete do prefeito e na ouvidoria do hospital, sem retorno efetivo.
“Eles vão esperar eu perder um rim para me avaliar? Estou há meses nessa luta”, desabafou.
Em nota enviada ao NB Notícias, a Secretaria de Saúde afirmou que o atendimento não avançou porque o paciente teria “evadido da UPA”, o que encerraria o cadastro na regulação estadual.
Cristian contesta:
“Eu não evadi, eu recebi um atestado médico para aguardar em casa. O médico me orientou a procurar a justiça. Se eu tivesse fugido, não teria atestado. Isso é papo furado da Prefeitura”.
Desde setembro, a Prefeitura implementou restrições à emissão de atestados na UPA, medida anunciada pelo prefeito Diogo Siqueira nas redes sociais — e criticada por médicos, servidores e pacientes.
Cristian, impossibilitado de trabalhar, sentiu na pele o impacto da decisão:
“A UPA só dá atestado de um dia. Não consigo justificar minhas faltas”.
Sem avanço na regulação, Cristian buscou documentos na Defensoria Pública para ingressar com ação judicial em busca do direito ao tratamento — prática cada vez mais comum diante da demora no SUS.
“Eu ia entrar na justiça. Não tenho mais a quem recorrer”, disse.
Depois da solicitação formal do NB Notícias por esclarecimentos à Prefeitura, Cristian recebeu contato da Secretaria de Saúde informando o agendamento da avaliação e o encaminhamento para cirurgia.
“Só agora, depois que o NB pediu respostas, me retornaram. Estou só por essa cirurgia para parar de sentir dor”, finaliza.
A situação enfrentada por Cristian evidencia um problema recorrente no SUS local:
• Demora na regulação;
• Falta de leitos especializados;
• Comunicação falha entre Município e hospital contratado;
• Pacientes sendo obrigados a procurar judicialização para garantir atendimento básico.
Enquanto isso, obras do futuro Complexo Hospitalar Municipal — o “Hospital do Trabalhador” seguem aguardando conclusão. A promessa é desafogar o sistema, ampliar leitos e garantir cirurgias para pacientes da região.
Até lá, casos como o de Cristian continuam revelando uma rede de saúde que, diante da dor e urgência do paciente, oferece como resposta apenas uma fila interminável — e, muitas vezes, silêncio.