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Paciente com cálculos renais espera há dois meses por atendimento em Bento

Demora por vaga SUS expõe falhas na rede de saúde do município; após cobrança do NB Notícias, consulta e cirurgia são finalmente encaminhadas.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Jonathan Zanotto/Especial NB
21/11/2025 às 17h06 Atualizada em 21/11/2025 às 17h13
Paciente com cálculos renais espera há dois meses por atendimento em Bento
Após muitas tentativas, Cristian Santos finalmente será atendido na semana que vem - Foto: NB Notícias/Especial

A espera por atendimento virou risco de vida para Cristian Felipe dos Santos, 38 anos, consultor comercial que há mais de dois meses tenta, sem sucesso, acesso a um urologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Bento Gonçalves. Sofrendo com cálculo renal severo, com pedras acima de 1 cm e uma delas obstruindo a uretra, o paciente relata dores extremas, dificuldades para trabalhar e falta de respostas da Prefeitura e do Hospital Tacchini — responsável pelo atendimento referenciado.

A situação só começou a se movimentar após o NB Notícias questionar oficialmente o poder público, o que resultou no agendamento da consulta e encaminhamento cirúrgico, segundo o próprio Cristian.

“É uma dor terrível!”

Cristian convive com dores intensas desde agosto. No início de novembro, procurou novamente a UPA 24h, onde exames de sangue, urina e tomografia confirmaram dois cálculos renais, um em cada rim — sendo que o do lado esquerdo estava bloqueando a uretra, condição considerada grave e potencialmente danosa ao funcionamento renal.

É uma dor terrível! Não faz ideia do quanto dói”, relatou o paciente. Ele chegou a permanecer uma semana internado na UPA, mas a falta de previsão para avaliação com especialista e a negativa de leito no Hospital Tacchini o levaram a retornar para casa com atestado médico — o que, mais tarde, seria usado pela Prefeitura como justificativa para a interrupção do processo de regulação.

Falta de leitos, respostas desencontradas e impasse entre município e hospital

Conforme Cristian, a Secretaria de Saúde e o Tacchini passaram semanas atribuindo responsabilidades um ao outro, sem solução prática.

Nos contatos realizados, ele foi informado que:

O Tacchini não era referência para o procedimento solicitado.
Não havia leitos SUS disponíveis.
• O município teria como referência hospitals em Erechim — a mais de 200 km de distância.
• O atendimento via SUS teria previsão somente para início de 2026.

Durante esse período, Cristian enviou mais de 12 e-mails à Prefeitura e buscou ajuda também no gabinete do prefeito e na ouvidoria do hospital, sem retorno efetivo.

Eles vão esperar eu perder um rim para me avaliar? Estou há meses nessa luta”, desabafou.

Prefeitura afirma que houve evasão; paciente rebate

Em nota enviada ao NB Notícias, a Secretaria de Saúde afirmou que o atendimento não avançou porque o paciente teria “evadido da UPA”, o que encerraria o cadastro na regulação estadual.

Cristian contesta:

Eu não evadi, eu recebi um atestado médico para aguardar em casa. O médico me orientou a procurar a justiça. Se eu tivesse fugido, não teria atestado. Isso é papo furado da Prefeitura”.

Restrição de atestados agrava situação

Desde setembro, a Prefeitura implementou restrições à emissão de atestados na UPA, medida anunciada pelo prefeito Diogo Siqueira nas redes sociais — e criticada por médicos, servidores e pacientes.

Cristian, impossibilitado de trabalhar, sentiu na pele o impacto da decisão:

A UPA só dá atestado de um dia. Não consigo justificar minhas faltas”.

Judicialização seria o último recurso

Sem avanço na regulação, Cristian buscou documentos na Defensoria Pública para ingressar com ação judicial em busca do direito ao tratamento — prática cada vez mais comum diante da demora no SUS.

Eu ia entrar na justiça. Não tenho mais a quem recorrer”, disse.

Só após cobrança da imprensa, atendimento foi encaminhado

Depois da solicitação formal do NB Notícias por esclarecimentos à Prefeitura, Cristian recebeu contato da Secretaria de Saúde informando o agendamento da avaliação e o encaminhamento para cirurgia.

Só agora, depois que o NB pediu respostas, me retornaram. Estou só por essa cirurgia para parar de sentir dor”, finaliza.

Um caso que expõe a fragilidade do sistema

A situação enfrentada por Cristian evidencia um problema recorrente no SUS local:

Demora na regulação;
Falta de leitos especializados;
Comunicação falha entre Município e hospital contratado;
Pacientes sendo obrigados a procurar judicialização para garantir atendimento básico.

Enquanto isso, obras do futuro Complexo Hospitalar Municipal — o “Hospital do Trabalhador” seguem aguardando conclusão. A promessa é desafogar o sistema, ampliar leitos e garantir cirurgias para pacientes da região.

Até lá, casos como o de Cristian continuam revelando uma rede de saúde que, diante da dor e urgência do paciente, oferece como resposta apenas uma fila interminável — e, muitas vezes, silêncio.

 

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