
A Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves deve ter uma sessão marcada pela tensão nesta terça-feira (28), às 10h. Tudo isso devido a um acalorado bate-boca entre o vereador Alcindo Gabrielli (MDB), e o presidente do Legislativo, Anderson Zanella (PP). A discussão, ocorrida na sessão do último dia 20, teve início durante o debate sobre a construção de um novo Centro Administrativo Municipal e evoluiu para uma disputa de interpretação do Regimento Interno, com troca de provocações e negativas de fala em plenário.
O impasse começou quando Gabrielli questionou os gastos da Prefeitura com aluguéis e estruturas temporárias, argumentando que os valores poderiam ser destinados à construção de uma sede própria para a administração municipal. “Estamos gastando quase R$ 400 mil por mês com aluguéis, locações e deslocamentos de funcionários. Em dez anos, esse montante seria suficiente para erguer o Centro Administrativo e ainda investir em educação e saúde. Queremos transparência e planejamento na gestão pública”, afirmou o vereador em seu pronunciamento.
Na sequência, o presidente Anderson Zanella foi até o púlpito e respondeu diretamente ao opositor: “Quando o senhor foi prefeito, deixou em caixa R$ 16,6 milhões. O vereador que me antecedeu poderia ter construído o Centro Administrativo, mas não o fez. É fácil falar quando não se está mais lá”. A fala acirrou os ânimos e deu início ao confronto verbal entre os dois parlamentares.
Gabrielli tentou diversas vezes intervir por questão de ordem, alegando que havia sido citado e que teria direito de resposta, mas o pedido foi negado pelo presidente. O episódio, considerado por Gabrielli um “excesso de autoridade” de Zanella, motivou o protocolo de um requerimento de esclarecimento dirigido à Mesa Diretora da Câmara.
No documento, o vereador cita que seu pedido de manifestação foi amparado no Regimento Interno e que foi impedido de exercer “um direito e uma prerrogativa inerente à função parlamentar”. Gabrielli argumenta que a negativa violou o artigo 98 da Resolução nº 225/2017, que assegura ao vereador citado o direito de se pronunciar por um minuto, mediante autorização da presidência, “sem direito a réplica”.
A assessoria da presidência, no entanto, rebateu o argumento, citando o artigo 95 do Regimento Interno, segundo o qual “enquanto o vereador inscrito estiver na tribuna, nenhum outro poderá invocar questão de ordem, exceto para comunicar que o orador ultrapassou o tempo regimental ou citou o nome de outro vereador”.
Gabrielli, por sua vez, afirma que sua manifestação foi legítima: “O senhor presidente impediu o exercício de um direito previsto no Regimento. Não foi um pedido de direito de resposta, nem de aparte. Foi uma questão de ordem que visava esclarecer um fato que envolvia meu nome. Houve um excesso de autoridade e um prejuízo às prerrogativas parlamentares.”
O requerimento será votado em plenário na 39ª Sessão Ordinária de 2025, marcada para esta terça-feira, no Plenário Fernando Ferrari. Nos bastidores, a expectativa é de uma sessão tensa e de discursos duros, com nova troca de acusações entre base e oposição.
O episódio reacende o debate sobre a condução das sessões legislativas e a liberdade de manifestação dos vereadores, temas que vêm ganhando destaque nos últimos meses diante de divergências políticas internas no Legislativo bento-gonçalvense.