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Bento é uma das 10 cidades do RS que mais agridem pessoas LGBTQIAPN+

Capital do Vinho ocupa o oitavo lugar, segundo dados da Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio
23/10/2025 às 07h21
Bento é uma das 10 cidades do RS que mais agridem pessoas LGBTQIAPN+
Pessoas LGBTQIAPN+ sentem a falta de políticas públicas para atendimento de seus relatos - Foto: Reprodução/Especial

Bento Gonçalves, conhecida como Capital do Vinho, aparece em um ranking que contrasta com o prestígio turístico e econômico do município. Segundo dados da Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a cidade ocupa o oitavo lugar entre os municípios do Rio Grande do Sul que mais registraram violência contra pessoas LGBTQIAPN+ ((Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais e Não-binários) em 2025.

Entre janeiro e setembro deste ano, foram 36 ocorrências envolvendo discriminação, agressões, exploração sexual, maus-tratos e até tráfico de pessoas. O dado coloca Bento Gonçalves à frente de cidades de porte semelhante e reforça uma realidade preocupante: a ausência de políticas públicas estruturadas para atender e proteger a diversidade sexual e de gênero.

Homofobia velada e preconceito cruzado

Os relatos reunidos pela Ouvidoria apontam que boa parte das denúncias está relacionada à chamada “homofobia recreativa” — ofensas e piadas usadas para ridicularizar a identidade de pessoas LGBTQIAPN+. Além disso, há casos de preconceito cruzado, em que homofobia e racismo se somam em situações de discriminação múltipla.

“Essas violências cotidianas não deixam marcas físicas, mas causam traumas profundos. O problema é que o preconceito aqui muitas vezes se disfarça de brincadeira”, afirma uma ativista local que preferiu não se identificar por medo de retaliações.

Em alguns casos, as agressões incluem tentativas de invalidação da identidade da vítima, com o uso do nome morto — anterior ao nome social — ou atitudes que buscam descaracterizar pessoas trans e não binárias.

As 10 cidades gaúchas com mais registros de casos em 2025

Porto Alegre – 395 casos
Caxias – 124
Sapiranga - 48
Santa Maria - 45
São Leopoldo – 41
Pelotas – 41
Cachoeirinha - 41
Bento Gonçalves - 36
Passo Fundo – 30
Canoas - 24

Atendimento ainda limitado

A Prefeitura de Bento Gonçalves informou, por meio de nota, que o Centro de Referência da Mulher Revivi realiza o acolhimento de vítimas de violência em relacionamentos homoafetivos, além de mulheres trans e travestis. Após o atendimento inicial, os casos são encaminhados à rede de segurança pública.

Ainda segundo o município, as políticas públicas são aplicadas de forma igualitária para todos e as denúncias podem ser feitas diretamente nos órgãos de segurança ou no próprio Revivi.

No entanto, especialistas afirmam que a igualdade no papel não se traduz em equidade na prática. “Falta um olhar específico, com profissionais capacitados e campanhas educativas contínuas. As pessoas LGBTQIAPN+ não se sentem seguras nem para denunciar”, avalia a socióloga Mariana Frizzo, pesquisadora de políticas de diversidade no RS.

Ferramentas estaduais e o desafio local

Em nível estadual, o governo gaúcho lançou em outubro de 2024 a Delegacia de Polícia Online da Diversidade (DOL Diversidade), um canal virtual para registrar crimes de intolerância e discriminação, incluindo os motivados por orientação sexual, identidade de gênero, religião e raça. A criação do serviço foi considerada um avanço, mas a adesão ainda é tímida fora da capital.

“A tecnologia ajuda, mas muitas vítimas sequer sabem da existência desse recurso. Outras têm medo de se expor em cidades menores”, explica Gabriel Rocha, integrante de um coletivo de direitos humanos que atua na Serra Gaúcha.

Entre o medo e o silêncio

A falta de políticas específicas deixa lacunas no acolhimento psicológico, na proteção jurídica e no acesso à informação. Em Bento Gonçalves, onde a cultura conservadora e religiosa ainda é predominante, o medo da exposição e o silêncio social continuam sendo os maiores inimigos.

“Há quem prefira se mudar para Caxias do Sul ou Porto Alegre por não se sentir aceito aqui”, relata um jovem de 23 anos, vítima de agressão verbal em um bar local.

Enquanto o país discute avanços legislativos e medidas de inclusão, a Capital do Vinho enfrenta o desafio de romper o preconceito enraizado e transformar discursos de igualdade em ações concretas.

 

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