BENTO GONÇALVES (RS) – Há quatro anos, a rotina de Marlene Soares é a mesma: buscar incansavelmente uma vaga para cirurgia do filho, Ezequiel Soares Ismael, de 6 anos. Ele foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e tem hipertrofia das amígdalas e das adenoides, condição que provoca obstrução de 80% das vias respiratórias, conforme laudo médico de 2021.
Apesar do diagnóstico e da gravidade do caso – que afeta a qualidade da respiração, causa apneia, roncos constantes e infecções recorrentes –, Ezequiel ainda não foi encaminhado para o procedimento cirúrgico pela Prefeitura de Bento Gonçalves. A família afirma ter buscado todas as alternativas e se diz à beira do desespero. “Meu filho não consegue respirar direito. Ele dorme com a boca aberta, ronca muito e vive doente. Já teve várias crises de convulsão. Não quero ver meu filho morrer por falta de assistência médica”, desabafa Marlene.
O caso se agravou nesta semana. A criança precisou ser levada à UPA 24 Horas com febre alta e convulsões. “Foram três convulsões em um dia. Ele ficou na área vermelha. É revoltante, porque a cirurgia é considerada simples, mas estamos há quatro anos esperando. Nada acontece. É inacreditável que vão deixar meu filho morrer aos poucos”, denuncia a mãe, moradora do bairro Santa Marta.
Segundo laudo médico, Ezequiel apresenta sintomas compatíveis com obstrução severa das vias aéreas superiores, respiração predominantemente bucal, roncos noturnos e episódios frequentes de amigdalite. Em 2021, um exame de imagem mostrou o grau da obstrução e a necessidade da cirurgia. Desde então, o quadro só se agravou.
A pessoas que estão ajudando a família de Ezequiel, a Secretaria Municipal de Saúde de Bento Gonçalves reconheceu o atraso e alegou que o Hospital Tacchini tem realizado apenas cirurgias de urgência, em razão da superlotação. Ainda segundo mensagem repassada pela secretária de Saúde, Daiane Piuco, um novo convênio está sendo articulado com o Hospital São Pedro, de Garibaldi, e a expectativa é de que o procedimento possa ser realizado no mês de setembro.
A demora, no entanto, não acalma a família. “Setembro pode ser tarde demais. Estamos há anos esperando. Meu filho está sofrendo, vive com infecções e já teve convulsões. Ele não tem tempo para esperar", reforça a mãe.
A história de Ezequiel evidencia um drama que se repete em diversas cidades brasileiras: o colapso na atenção especializada infantil, principalmente para crianças com deficiência, e a dificuldade de acesso a cirurgias eletivas no SUS, mesmo com laudos comprovando a urgência do caso.
Enquanto aguarda, Marlene mantém a esperança viva. “Só peço que olhem para o meu filho com humanidade. Ele é só uma criança que quer respirar.”