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Falta de ginecologistas deixa mulheres “à própria sorte” em Bento Gonçalves

Município está há mais de um ano sem atendimento especializado na rede pública, e pacientes relatam descaso e sofrimento diante da falta de assistência básica à saúde feminina.

Redação
Por: Redação Fonte: Jonathan Zanotto/Especial NB
03/11/2025 às 06h41
Falta de ginecologistas deixa mulheres “à própria sorte” em Bento Gonçalves

Bento Gonçalves enfrenta uma grave crise na atenção básica à saúde da mulher. Há mais de um ano, o município não dispõe de ginecologistas para atender a população nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). A ausência de profissionais tem deixado centenas de pacientes sem consultas, exames de rotina ou acompanhamento médico, obrigando muitas mulheres a recorrerem ao sistema particular ou simplesmente aguardarem indefinidamente por um atendimento.

Na Unidade Central, principal ponto de atendimento da cidade, as consultas estão suspensas há meses. A auxiliar de cozinha Aline Cenci de Carvalho do Amaral, de 35 anos, é uma das pacientes que sentem na pele os efeitos dessa falta de estrutura. Ela sofre de endometriose profunda, doença grave e progressiva, mas segue sem tratamento adequado pelo SUS.

“Marquei ginecologista no começo de 2024. A consulta foi remarcada quatro vezes. Em outubro do ano passado, recebi uma mensagem de cancelamento. Mesmo assim, continuei tentando e consegui ser atendida apenas em setembro deste ano. Fiz os exames e, quando voltei para mostrar o resultado, já não havia mais médica”, relata.

Aline conta que, após meses de espera, precisou pagar uma consulta particular, onde descobriu a gravidade do seu caso. “A médica me explicou que a minha condição não tem tratamento com medicação, apenas cirurgia. Estou tentando encaminhar o procedimento pelo SUS, mas não tenho condições de pagar particular”, lamenta.

Baixos salários afastam profissionais

Profissionais de ginecologia estão preferindo em atender em outras cidades do que em Bento Gonçalves

 

Segundo informações apuradas pela reportagem, a falta de ginecologistas está ligada aos baixos salários pagos pela Prefeitura de Bento Gonçalves. Muitos profissionais têm preferido atuar em municípios vizinhos, como Garibaldi, Pinto Bandeira e Carlos Barbosa, onde a remuneração é significativamente superior. Mesmo aumentando a remuneração de R$ 5,5 mil para R$ 8,8 mil, os valores pagos pela prefeitura de Bento não são atraentes como os dos demais municípios.

A última médica ginecologista contratada pela rede municipal atuou por apenas 30 dias, entre agosto e setembro deste ano, antes de se desligar e migrar para a cidade de Garibaldi. Desde então, nenhum profissional foi contratado para substituí-la.

Descaso generalizado e falta de respostas

Os relatos de abandono se repetem em diversas regiões da cidade. Moradores da Zona Sul de Bento Gonçalves também denunciam a ausência de especialistas e a falta de informações sobre quando os atendimentos serão retomados.

“Minha esposa esperou quase um ano para consultar com o ginecologista. Quando conseguiu, fez os exames, mas agora não tem ninguém para ver os resultados. Ligamos o tempo todo e não há previsão”, conta um morador, que pediu para não ser identificado.

A situação também atinge o Centro de Especialidades, que, segundo pacientes, “já não conta com nenhum ginecologista há meses”.

O que diz a Prefeitura

Em nota, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Bento Gonçalves afirmou que os encaminhamentos da atenção básica passam por análise da regulação ambulatorial municipal, seguindo protocolos estabelecidos pelo Estado.

Conforme o comunicado, o atendimento de ginecologia foi referenciado para o Hospital São Carlos, em Farroupilha, por meio do Programa Assistir, do Governo do Estado, no Ambulatório Ser Mulher. “A regulação e o agendamento são feitos conforme critérios de prioridade definidos pelos médicos do Estado”, informou a nota.

Apesar da explicação, a Prefeitura não detalhou quando o atendimento local será restabelecido nem quais alternativas imediatas as pacientes devem procurar.

O que é a endometriose profunda

A endometriose profunda é considerada a forma mais grave da doença, caracterizada pela invasão do tecido endometrial em mais de 5 milímetros de profundidade em órgãos pélvicos como o intestino, a bexiga e o ureter. Essa condição pode causar dores intensas, cólicas incapacitantes, aderências e cicatrizes internas, comprometendo a fertilidade e a qualidade de vida das mulheres.

Sem acompanhamento médico adequado, casos como o de Aline podem evoluir para situações de risco, exigindo cirurgias complexas e dolorosas.

Saúde feminina em segundo plano

Enquanto outras cidades da Serra Gaúcha ampliam o acesso à saúde da mulher, Bento Gonçalves se afasta cada vez mais do atendimento humanizado que o tema exige. Com a atenção básica fragilizada e a ausência de políticas efetivas para atrair e manter especialistas, as mulheres seguem à própria sorte — entre filas, cancelamentos e o silêncio do poder público.

“A mulher precisa ser ouvida, cuidada e respeitada. A falta de ginecologistas não é um problema técnico — é um problema de prioridade”, resume Aline do Amaral.

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