Um estudo divulgado pelo Instituto Fecomércio de Pesquisa (IFEP-RS) revelou que Bento Gonçalves é a quarta cidade do Rio Grande do Sul que será mais impactada pelo chamado “tarifaço” do presidente norte-americano Donald Trump, que pretende impor uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, que já provoca apreensão entre empresários da Serra Gaúcha, atinge diretamente o setor moveleiro, um dos pilares econômicos do município.
De acordo com o Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), os Estados Unidos representam quase 17% das exportações do polo moveleiro da cidade somente neste ano. Isso equivale a aproximadamente US$ 4,5 milhões, ou cerca de R$ 25 milhões em faturamento com destino ao mercado norte-americano. Em Bento Gonçalves, os móveis representam quase metade das exportações feitas para os EUA, tornando o setor um dos mais expostos à nova política comercial anunciada por Washington.
A sobretaxa, se aplicada de forma imediata, poderá inviabilizar as exportações de móveis para os Estados Unidos, conforme avaliação de empresários locais. Alguns fabricantes relatam que mais de 40% de sua produção é direcionada ao mercado americano, o que evidencia o risco não apenas à rentabilidade das empresas, mas também à manutenção de empregos na região.
“Essa medida nos atinge em cheio. Não se encontra substituto para o mercado norte-americano da noite para o dia”, afirma um empresário do setor. A avaliação geral é de que o tarifaço, embora focado nos EUA, pode gerar efeitos colaterais em negócios com outros países, ao afetar competitividade e planejamento logístico.
No último dia 15, a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) participou de uma reunião de emergência em Brasília, convocada pela Presidência da República e liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, para discutir os impactos da medida. Representando a entidade, o presidente Irineu Munhoz solicitou que o governo brasileiro busque, em caráter imediato, o adiamento da vigência da tarifa por ao menos 90 dias, a fim de permitir que o setor possa se adequar ou encontrar saídas alternativas.
Durante o encontro, também foi pedida uma atuação firme junto ao governo norte-americano, visando a revisão da medida de forma justa e em respeito aos princípios bilaterais de comércio.
Embora o cenário ainda seja de indefinições, o setor vê com preocupação a possibilidade de o tarifaço entrar em vigor nos próximos meses. Empresários e lideranças industriais alertam que a taxação, caso confirmada, poderá levar a uma queda abrupta nas exportações, afetando diretamente a geração de empregos, a arrecadação municipal e a sustentabilidade de pequenos e médios negócios.
Além de Bento Gonçalves, as outras cidades gaúchas mais impactadas pelas mudanças tarifárias, segundo a Fecomércio, são Canoas, Caxias do Sul e Santa Cruz do Sul, que lideram o ranking de exposição ao mercado norte-americano.
Com os olhos voltados para Brasília e Washington, empresários de Bento Gonçalves aguardam por desdobramentos diplomáticos que possam garantir a manutenção do fluxo comercial com um de seus mais importantes parceiros internacionais. Enquanto isso, cresce o alerta de que o impacto local pode ser profundo e imediato, se medidas de contenção não forem adotadas rapidamente.