O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, reconhecido como um dos maiores nomes da fotografia documental do século XX e XXI, morreu na manhã desta sexta-feira, 23, na França, aos 81 anos. A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, organização fundada por ele e por sua esposa, a curadora Lélia Wanick Salgado. A causa da morte não foi divulgada.
Referência global na arte de documentar realidades invisíveis, Salgado foi um ícone do fotojornalismo humanista. Por meio de suas lentes, expôs as desigualdades sociais, o sofrimento humano e a devastação ambiental em mais de 40 países. Seu olhar sensível e rigor técnico o colocaram entre os artistas mais respeitados do mundo.
Nascido em 1944, na vila de Conceição do Capim, em Minas Gerais, Salgado formou-se economista antes de migrar para a fotografia, profissão que adotou nos anos 1970. Seu trabalho logo ganhou projeção internacional com reportagens fotográficas que uniam estética refinada e denúncia social.
Obcecado pela luz natural e pelo contraste do preto e branco, Salgado revelou com lirismo a realidade de refugiados, trabalhadores rurais, povos originários e populações marginalizadas. Seu estilo marcou profundamente o imaginário da fotografia documental contemporânea.
Em 2024, Salgado havia anunciado sua aposentadoria do trabalho de campo. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, mencionou questões de saúde como motivo da decisão. Mesmo afastado das viagens, manteve-se presente por meio de exposições e entrevistas recentes.
Na véspera de sua morte, concedeu entrevista à Forbes sobre a mostra em cartaz no centro Les Franciscaines, em Deauville, na França. A exposição reúne mais de 400 obras e segue aberta ao público até 1º de junho. Segundo ele, a mostra era “um passeio por sua própria vida”.
Salgado deixa uma obra vasta e reverenciada. Seu livro “Trabalhadores”, publicado em 1993, é um dos marcos da fotografia social. As imagens da série voltam ao público no próximo dia 30, na Casa Firjan, no Rio de Janeiro, em exposição com 149 fotos que retratam o trabalho manual ao redor do mundo.
Com curadoria de Lélia Wanick, a mostra reafirma o compromisso do fotógrafo com a dignidade do trabalho humano, tema que atravessa toda a sua trajetória. O projeto reforça o impacto do artista na forma como o mundo vê e discute direitos humanos e preservação ambiental.
Ainda nesta sexta-feira, instituições culturais e personalidades das artes visuais passaram a homenagear o fotógrafo nas redes sociais. Diversos museus internacionais destacaram o papel de Salgado como “cronista visual das injustiças do nosso tempo”.
O Instituto Terra, que seguirá em funcionamento sob a direção de sua esposa, reafirmou o compromisso com a recuperação ambiental do Vale do Rio Doce, uma das maiores iniciativas de reflorestamento do País, idealizada pelo casal.