Em épocas de crise, infelizmente é comum que muitos boatos sejam espalhados por pessoas irresponsáveis, sobretudo através de redes sociais e aplicativos de mensagens, alarmando ainda mais a população. Como o Rio Grande do Sul vem encarando um momento de estiagem, a preocupação com o fornecimento de água em muitas cidades começa a aumentar, dando margem para a divulgação de notícias inverídicas, como ocorreu ao longo dos últimos dias com relação ao abastecimento em Bento Gonçalves.
Uma imagem circulou recentemente no meio virtual indicando que o município teria à sua disposição, para captação e tratamento, somente o volume de água relativo a 15 dias. A situação não confere com a realidade, de acordo com o gerente da unidade local da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Marciano Dal Pizzol: segundo ele, mesmo com a Barragem São Miguel estando três metros abaixo do nível de extravasamento, não há risco de racionamento em um prazo como o divulgado na fake news. “No caso de São Miguel, a barragem tem uma profundidade de aproximadamente 12 metros. Então, nossa estimativa é de que só entraríamos em uma situação de caos se não tivéssemos chuva pelos próximos 40 dias. Isso não significa que não seja necessário manter o consumo consciente, que deve prevalecer o ano inteiro, justamente para ajudar a evitar situações mais complicadas”, salienta Dal Pizzol.
Conforme o gerente, atualmente, 75% da água que é tratada e, posteriormente, chega às casas da população bento-gonçalvense, vêm da Barragem São Miguel. Os outros 25% são provenientes do arroio Barracão, que está passando por um processo de desassoreamento – que é a remoção de lodo e outros sedimentos do fundo – e terá sua capacidade de captação ampliada significativamente. Nos últimos anos, o Barracão chegou a ter pontos em que estavam disponíveis não mais do que 30 centímetros de água. Com o trabalho que está sendo executado, e que pode ser finalizado em cerca de 30 dias, esse nível pode chegar até a 2,5 metros.
Mesmo com as restrições causadas pela pandemia do Coronavírus (Covid-19), o quadro de servidores responsáveis pela gestão do tratamento de água está completo e operando 24 horas por dia, garante a Corsan. No caso dos funcionários que fazem as manutenções na rua, a situação é um pouco diferente, já que, em virtude de alguns afastamentos temporários, apenas quatro das sete equipes estão atuando neste momento.
Vazamentos e regulagem da pressão
Nos últimos dias, moradores de vários bairros relataram falta de água em suas moradias. A várias destas demandas, conforme as famílias, a Corsan respondeu não haver registro de corte no abastecimento, mas Dal Pizzol explica que uma das ocorrências mais frequentes atendidas pela companhia tem sido os chamados vazamentos invisíveis. Em sua maioria, estas perdas são ocasionadas pela grande variação de pressão verificada por causa da topografia acidentada – assim, em comunidades mais baixas, a água chega com uma força bem maior do que a normalmente suportada pela rede, provocando os danos na tubulação.
A solução empregada pela Corsan tem sido instalar válvulas reguladoras de pressão nos locais mais problemáticos. Até 2018, Bento Gonçalves contava com apenas 18 destes equipamentos em todo o território municipal. Hoje, já são 60. “Esse é o nosso principal desafio aqui em Bento, em função do relevo da cidade”, pondera o gerente. A previsão é de que, durante os próximos meses, mais 30 dessas válvulas sejam implantadas em lugares estratégicos, na tentativa de minimizar os problemas desse tipo.