A aventura do casal de jornalistas de Bento Gonçalves, Carina Furlanetto e João Paulo Mileski, os quais pegaram a estrada em um Renault Sandero 1.0, no dia 3 de maio de 2021, para conhecer todos os Estados do país, foi concluída neste domingo (9). Após percorrer 64 mil quilômetros em 707 dias, eles cumpriram o desafio de passar por todas as unidades federativas ao chegar em Brasília-DF. 

O carro popular foi adaptado para ser a “casa” do casal. Eles tiraram os bancos de trás e improvisaram uma cama no veículo. Além disso, instalaram uma bateria extra para que pudessem preparar as refeições em uma panela elétrica. Ou seja, dormiam e cozinhavam no próprio automóvel. O banho, por muitas vezes, quando não se tinha lugar para fazê-lo, foi improvisado com uma garrafinha de água. 

A experiência em passar pelos quatro cantos do Brasil oportunizou a dupla de conhecer a diversidade cultural presente no país. “Foram quase dois anos para chegar até aqui. Saímos para conhecer um país e acabamos conhecendo muitos “Brasis”. É um país grande não só no tamanho, mas nas diferenças culturais, sobretudo”, explica João. 

Com uma vida alternativa, o casal pode conhecer diversas outras formas de viver completamente distintas das quais estavam habituados. “Estamos vivendo uma vida alternativa morando na estrada, mas existem tantas outras vidas, pessoas que moram na floresta, na beira dos rios, em casas de palafitas, em casas de taipa, em grandes centros, em cidades pequenas, onde dá para deixar a porta sem trancar”, relata Carina. 

Foram mais de 500 noites no próprio veículo, estacionado em postos de combustíveis, praças, praias, beiras de rios, estacionamentos de hospital, de supermercados, pontos de apoio de pedágio, entre outros locais onde se sentiam seguros. Além de conhecer pessoas, lugares e novos modos de vida, a viagem também serviu como autoconhecimento. “Aprendemos a viver com menos e a reclamar menos da vida, dar o valor ao pouco que a gente tem”, pondera João. 

As pessoas que mais nos ajudaram nessa jornada foram pessoas que menos tinham e não se importavam em dividir o pouco que tinham com a gente. O Brasil não é tão violento, tão perigoso como a gente vê nas manchetes. Os bons são maioria, não é que o mal não existe. Existe, mas comprovamos isso que os bons são a maioria”, destaca o casal. 

Durante a jornada, João e Carina tiveram que lidar com os diferentes climas que cercam o Brasil, o que se tornou um verdadeiro desafio em meio às limitações. O calor foi bem difícil, ainda mais para nós da Serra que estamos mais acostumados com o clima mais ameno. Alguns lugares do norte e nordeste chegavam a quase 40 graus, o que foi muito desafiador. Pegamos frio também, pegamos neve no Sul, chegamos a dormir no carro com -5 graus na serra catarinense. Enfim, o Brasil é um continente”, relata Carina. 

Embora o objetivo tenha sido alcançado, a jornada da dupla não parou por aqui. Eles vão percorrer durante cerca de três a quatro meses o trajeto para voltar para casa. “A viagem não termina aqui. Ainda temos meses de estrada até a volta para Bento Gonçalves e muitos “Brasis” ainda para descobrir nessa jornada de retorno. Vamos passar pelo Centro-Oeste e pelo Sul”, explica João. 

O casal já havia realizado uma viagem parecida entre 2019 e 2020, quando rodaram por 10 países da América do Sul a bordo do mesmo veículo, que na época não tinha adaptação. "Apenas baixávamos os bancos e dormíamos ali mesmo, como se fosse um ônibus leito", conta João. A viagem lá fora se transformou no livro "Crônicas na Bagagem: 421 dias na estrada - uma jornada de desprendimento pela América do Sul".

Assim que voltarem para casa, eles pretendem escrever um novo livro, agora sobre tudo o que viveram na expedição pelo Brasil. "Esse país é gigante não apenas no tamanho, mas nas diferenças, e é isso que nos fascinou tanto. Esperamos conseguir transmitir ao mesmo um pouco de tudo o que sentimos e aprendemos em cada cantinho por onde passamos", comenta João.