Futebol em um território de 6,8 km²: a experiência de um barbosense em Gibraltar

Para se deslocar de uma ponta para outra deste lugar, a distância percorrida é a mesma que sair da área central de Bento Gonçalves até o centro de Garibaldi. Com uma área de 6,8 km², Gibraltar é um dos menores territórios independentes do mundo, que pertence ao Reino Unido e está localizado no extremo sul da Península Ibérica, fazendo divisa com a Espanha. Com cerca de 33 mil habitantes, conta com apenas dois estádios em seu território, porém existem 11 equipes que disputam o campeonato nacional de futebol, a Gibraltar National League. 

Dentre os clubes está o FC Bruno’s Magpies, que conta com o meia barbosense Edenilson Bergonsi, de 34 anos, que iniciou sua carreira no Esportivo. Ele ajudou o clube, que há nove anos era apenas um time de amigos que bebiam no “Bruno’s Bar & Restaurant, a conquistar de forma inédita uma das vagas para disputar uma competição continental, a Conference League. 

Mas como cabem tantas equipes de futebol em um território tão pequeno? O próprio jogador responde: “Gibraltar possui dois estádios somente na pequena península, mas todos os clubes e, inclusive, a seleção, jogam somente em um estádio, o Victoria Stadium, que fica praticamente dentro do aeroporto. Você está jogando e vê os aviões pousando, porque atrás de uma das goleiras é a pista do aeroporto, a cerca de 50 metros”, explica. 

Se não bastasse um aeroporto tão próximo ao estádio, a pista literalmente "corta" a península de um lado até o outro, sendo considerado um dos mais perigosos do mundo. “Moro na Espanha, a cinco minutos a pé da divisa. Para ir aos jogos atravesso a divisa e a pista do aeroporto, porque a principal rua de Gibraltar passa pelo meio da pista do aeroporto. Quando um avião vai decolar ou pousar, a rua é trancada por uns 10 minutos até o pouso e depois é reaberta”, relata Edenilson. 

O campeonato gibraltino tem suas peculiaridades. Conforme o meia, é obrigatório o time ter em campo cinco jogadores locais. “Isso é para fortalecer os jogadores e a seleção. Porém tem muitos atletas espanhóis que jogam a liga, pois fazem fronteira, mas tem também brasileiros, argentinos, italianos, ingleses”, comenta. 

Como não há espaço para construir campos de futebol, a maioria dos clubes treina em centros de treinamentos localizados na Espanha. 

Primeira temporada em Gibraltar:

Após jogar o Gauchão 2022 pelo São Luiz, Edenilson recebeu o convite do diretor do Bruno’s Magpies, que o viu jogar na Espanha em 2017 e se interessou pelo jogador. “Ele me fez o convite para ajudar a reerguer o time que naquele momento estava mal na Liga, com a colocação em 9⁰ lugar, mas o intuito do clube era ficar entre os quatro primeiros para chegar as Ligas Europeias. Ele estava contanto comigo para isso, então aceitei o desafio”, explica. 

E a meta foi atingida com a ajuda do experiente meio-campista gaúcho. Se não bastasse o 4º lugar na competição nacional, garantindo vaga à competição continental, o Bruno’s Magpies alcançou a final da Copa de Gibraltar, perdendo na final para o Lincoln Red Imps, detentor de 33 títulos nacionais. Nas eliminatórias da Conference League, o time vai encarar o Crusaders, da Irlanda do Norte. 

“O meu sentimento é primeiramente de dever cumprido, pois fui contratado para levar o clube às Ligas Europeias e eu consegui atingir esse objetivo juntamente com meus companheiros. Momento muito feliz e orgulhoso, nos últimos quatro anos fui para minha quarta final em quatro países diferentes”, comemora o jogador. 

A temporada 2022/2023, portanto, será histórica para a equipe do Bruno’s Magpies, fundado em 2013. Os confrontos válidos pelas eliminatórias da Conference League ocorrem nos dias 7 e 14 de julho, que abrem o início de competições do clube. 

Outras curiosidades sobre o pequeno território:

Gibraltar é um território ultramarino britânico, portanto, a língua oficial é a inglesa. No entanto, Edenilson relata que todos falam espanhol também. A península é rodeada de praias, com um clima mais quente em relação ao restante da Europa, principalmente no inverno. Além disso, pela sua localização no mar mediterrâneo, é possível ver o continente africano, que fica a alguns quilômetros atravessando o mar.

“Quando entramos em Gibraltar parecia que você entra em uma mini Inglaterra, é tudo muito parecido. Possui uma montanha muito bonita, na qual habita uma das maiores colônias de macacos da Europa. Às vezes alguns descem para a cidade para fazer um ‘tour’”, relata Edenilson.