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Oncologista pediátrica esclarece dúvidas sobre câncer infanto-juvenil

A convite da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves, a médica Kárita Cristina Naves Corbellini explica o que é a doença, como funciona o tratamento e as formas de prevenção

22/10/2021 às 14h36 Atualizada em 22/10/2021 às 14h42
Por: Marcelo Dargelio
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(Reprodução)
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Na escola, entre amigos e brincando de forma saudável: essa é uma realidade imaginada para qualquer criança durante o período de crescimento. Porém, nem sempre esse cenário pode ser vivenciado pelos pequenos. Muitas famílias acabam sendo pegas de surpresa com o diagnóstico de câncer infanto-juvenil e, com isso, precisam interromper o curso natural de uma das fases mais importantes da vida.

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer estima que, até 2022, sejam diagnosticados 8.460 novos casos da doença nessa faixa etária anualmente – na Serra Gaúcha, são cerca de 25 crianças e adolescentes em tratamento. Segundo especialistas, enquadra-se como câncer na infância ou juventude pessoas de até 21 anos. Para a médica oncologista pediátrica Kárita Cristina Naves Corbellini, tumores em crianças e adolescentes possuem um comportamento bem diferente daquele constatado em adultos, o que exige cuidados específicos.

“A biologia do câncer infantil é diferente do câncer adulto, visto que geralmente são doenças que vem de células embrionárias. Os fatores de risco também não são os mesmos e, em alguns casos, mesmo se tratando da mesma doença (em nomenclatura) os tratamentos são diferentes devido às particularidades biológicas das crianças”, explica a coordenadora médica do serviço de oncologia pediátrica do Hospital Geral de Caxias do Sul, referência regional no segmento.

Linfomas e leucemias são os tipos de câncer mais prevalentes, de modo geral. Logo após, vem tumores cerebrais e neuroblastoma. Contudo, dentre os principais, estão tumores ósseos, sarcomas, retinoblastomas e tumores renais.

Para que a doença seja identificada precocemente, alguns obstáculos se apresentam na hora do diagnóstico. “O principal desafio no diagnóstico é a falta de especificidade dos sintomas. Por exemplo, a febre é consequência de uma infecção (muito comum nos pequenos), mas também pode ser devido à presença de um tumor. Outros sintomas comuns são prostração, dor articular, dores abdominais ou na cabeça, olho esbranquiçado, ínguas no corpo, tosse, roxos pelo corpo – e esses sintomas podem aparecer isoladamente”, pontua a médica.

Devido a essa amplitude, o avanço nas técnicas de combate à doença tem apontado melhores resultados, mas ainda estão longe do cenário ideal. “Hoje, o foco da oncologia está na medicina de precisão. A partir da avaliação genética do tumor, pode ser possível indicar algum imunoterápico específico ou até predizer se alguma medicação não fará efeito. Essa realidade é menos acessível às crianças, visto que nem todas essas medicações estão liberadas para uso pediátrico. Esses remédios também são caros e não estão disponíveis no SUS. Outra barreira é que ainda são exames caros e nem sempre se traduzem em mudança de tratamento”, detalha.

Reflexos da pandemia
O período de isolamento social pode, sim, ter efeito no desenvolvimento de casos mais graves de cânceres na infância, sugere a médica. Ela exemplifica fazendo um comparativo com a pandemia de H1N1, em 2003, quando Hong Kong fechou escolas. “Há estudos que sugerem que esse período de reclusão afetou negativamente as crianças, aumentando a frequência de leucemia posteriormente. É um estudo com uma população pequena, uma doença rara, então é uma hipótese que só confirmaremos em alguns anos. Diversas pesquisas afirmam que a exposição da criança e o desenvolvimento da imunidade (bem como parto natural, amamentação, alimentação adequada e evitar o uso de antibióticos desnecessários) podem ser cruciais para o desenvolvimento ou não da leucemia. Não há pesquisas que sugiram que o mesmo possa acontecer com os outros tipos de tumor”, relata.

Para ela, um fator preocupante no contexto atual é que muitas crianças deixaram de ter o atendimento de rotina com seu pediatra, terceirizando para as emergências o diagnóstico inicial. “No plantão, o olhar nem sempre tem o mesmo critério investigativo”, considera. “A escola também tem um papel importante na identificação dos primeiros sintomas, que levam ao diagnóstico”, complementa.

Há formas de prevenir?
De acordo com Kárita, existem alguns estudos que indicam uma menor chance de desenvolvimento da doença com parto normal, amamentação, dieta adequada e contato com o meio ambiente. Em contrapartida, alguns fatores também podem aumentar a chance de câncer, como exposição à radiação, uso de alguns medicamentos e produtos químicos. “Mesmo assim, não são correlações tão claras como aquelas já conhecidas nos cânceres de adultos, como o tabagismo e o câncer de pulmão, por exemplo. O que frisamos é que no câncer infantil não há prevenção, mas o diagnóstico precoce é possível estando atento aos sinais da doença”, argumenta.

Como lidar com o diagnóstico
O impacto da descoberta de um câncer na infância ou adolescência é enorme nas famílias acometidas. Nesses casos, é preciso de muito amparo psicológico e social. “Há muito estigma ainda em cima da doença. Na década de 50, toda criança com leucemia morria, pois não havia medicação para esta doença. Porém, com a evolução dos protocolos de tratamento, a taxa de cura chega a 90%”, esclarece a oncologista.

Por ser um tratamento difícil e desgastante, geralmente pelo menos um dos pais deixa de trabalhar para se dedicar exclusivamente ao paciente. Também é comum que as famílias não tenham a estrutura necessária para essa nova dinâmica familiar – e, nesse contexto, entidades de apoio se apresentam como fundamentais. Em Bento Gonçalves, a Liga de Combate ao Câncer direciona seu trabalho ao apoio dessas famílias, disponibilizando todo o suporte necessário – com medicações, apoio psicológico, mantimentos, estrutura para acomodação durante o tratamento, transporte, dentre outras formas de auxílio.

“O trabalho da Liga é sensível e muito cuidadoso em casos de câncer infantil. Sabemos que é uma situação complicada para o paciente, mas também para as famílias. Por isso, buscamos atuar para atender às necessidades de todo o contexto familiar envolvido, para que essas pessoas não se sintam sozinhas em um momento tão difícil”, destaca a presidente da Liga, Maria Lúcia Severo.

Para a médica, essa corrente de apoio tem papel crucial durante o período. “Nós temos que lembrar que o tratamento não é só o que acontece dentro do hospital. Por isso, as ligas são uma verdadeira rede de apoio para estas pessoas”, sintetiza.

Mais informações sobre o trabalho da Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves podem ser obtidas pelas redes sociais, telefone (54) 3451-4233 ou no site www.ligaccbg.com.br. A sede unificada da entidade fica na Rua Ramiro Barcelos, número 580, no centro da cidade, ao lado do Hospital Tacchini.

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