Bento tem 5.121 pessoas na fila de espera por cirurgias, com casos desde 2016

Durante a audiência pública realizada na última terça-feira, dia 8, na qual se discutiu um projeto da prefeitura que pretende reduzir de 30% para 25% o mínimo investido em educação no município, um dado voltou a chamar a atenção da comunidade, mas na área da Saúde: atualmente, Bento Gonçalves tem 5.121 pessoas na lista de espera por alguma cirurgia eletiva.

Os dados foram apresentados pela própria secretária de Saúde, Tatiane Misturini Fiorio, que acabou sendo, no encontro, a principal carta jogada na mesa pela administração para tentar convencer os vereadores de que a redução no percentual é necessária justamente para redirecionar os recursos para outros setores – principalmente na Saúde.

Obviamente, a realização destes atendimentos foi bastante afetada pela pandemia de Covid-19, mas esse não é um problema que pode ser considerado como novidade na Capital do Vinho. Além de mais de 2.000 procedimentos de ortopedia, a fila também soma outros 938 pacientes que aguardam por cirurgias gerais (como no caso de hérnias, por exemplo), alguns desde 2017. Há, também, 331 procedimentos ginecológicos ainda sem marcação, acumulados a partir de 2016. Somam-se à lista 797 cirurgias de otorrinolaringologia, 126 de proctologia, 240 de urologia e 510 vasculares.

Muitos desses casos dependem do encaminhamento a outras cidades de referência, como Farroupilha (traumatologia), Caxias do Sul (cardiologia) e Feliz (oftalmologia). Contudo, tanto "fora" como em Bento, no Hospital Tacchini, as instituições hospitalares tem oscilado entre retomar as operações e estabelecer restrições aos serviços em função do aumento da proliferação do coronavírus. De acordo com a secretária, com a colocação em funcionamento do bloco cirúrgico, várias dessas operações poderiam, no futuro, ser feitas no próprio município. E é justamente esse possível avanço que vem sendo usado como argumento para a defesa da redução dos investimentos em educação, ainda que o governo não reconheça que os valores sejam necessariamente transferidos de uma pasta a outra, o que parece provável.

A prefeitura fala em uma "adequação" ao texto constitucional, que prevê os mesmos 25% como aplicação mínima – mas, por outro lado, não estabelece nenhum teto. Inevitavelmente, a presença de secretária de Saúde na audiência e a sustentação da necessidade de novas fontes de recursos para a Saúde, parecem deixar "claro" o objetivo do projeto. "Uma coisa é nós fazermos obras, a gente edificar, fechar e deixar o bloco pronto. Essa etapa já está acontecendo e tem prazo definido para ser concluída. Outra etapa, que é mais importante e muito mais difícil, é o processo de equipar e manter em funcionamento", afirmou Tatiane na audiência.

Segundo ela, uma equipe médica já elencou que tipo de especialidades poderão ser atendidas nas oito salas de procedimentos e agora está fazendo levantamentos e orçamentos. Mesmo assim, embora exista uma previsão de que as obras terminem entre o final de 2021 e o começo de 2022, não há uma definição de quando, efetivamente, esta nova ala entraria em funcionamento e se teria, a curto prazo, condições de ajudar a zerar a grande fila. "A gente tem praticamente um ano e meio de serviços represados. E, para esses serviços, infelizmente, já existia uma grande demanda. Isso não dá mais para admitir mais no município de Bento Gonçalves, temos plenas condições de realizar dentro da nossa estrutura", finaliza.