Durante esta semana, a divulgação de que a prefeitura de Bento Gonçalves pretendia vacinar contra a Covid-19 quase 1.500 idosos acima de 90 anos gerou dúvidas e contestações com relação ao número apresentado pelo Poder Público. A imunização da população do município nesta faixa etária ocorre nestes sábado e domingo, dias 13 e 14, na Fundaparque, em formato de drive thru.

Nesta sexta-feira, 12, a secretária de Saúde, Tatiane Fiorio, reconheceu que, após os questionamentos levantados, todos os cadastros foram revisados pela equipe da Secretaria, o que resultou em uma diminuição do contingente que poderá receber as doses dentro deste grupo específico. "Revisamos e até fizemos um esclarecimento ao Ministério Público a respeito disso. Algumas situações a gente tinha de casos duplicados, até por causa de uma letra no nome, que acabou sendo registrado duas vezes, por exemplo. E então, depois dessa revisão completa, chegamos a 1.223. Esse é o total de cadastros ativos que temos no município para pacientes acima de 90 anos", afirma Tatiane.

A base para o cálculo local partiu dos registros no sistema de Gestão Municipal de Saúde (Gemus). Por outro lado, as informações do Censo Populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que teve sua última edição em 2010, identificaram naquela época 222 moradores dentro desta faixa etária – a discrepância entre os valores, mesmo com o aumento populacional verificado ao longo da última década, foi o que gerou, inclusive, indagações e críticas de pelo menos um vereador do município (confira abaixo). A reportagem do NB também foi acionada por alguns cidadãos que tomaram como equivocado esse montante contabilizado pela administração.

Tatiane ressalta que ainda pode haver uma variação em função de idosos já imunizados em instituições de longa permanência, de alguns acamados que não consigam receber a injeção neste momento e de eventuais óbitos recentes. Entretanto, por mais que possa haver uma diferença a menor, a secretária entende se tratar de uma situação que pode ser administrada de forma positiva, já ampliando a vacinação a outra parcela da terceira idade, o que pode ocorrer durante este mesmo final de semana. "Amanhã (sábado), a gente abre a vacinação e monitora a procura pelas doses até as 16h. Dependendo de como for, podemos já estender para outras idades. Não vejo como um problema, tanto é que eu gostaria que de fato tivéssemos um número menor para já poder vacinar outras idades, porque também são pessoas vulneráveis", acrescenta. Os "retardatários" que por algum motivo perderem este chamamento poderão ser atendidos de forma concomitante em outras fases.

A secretária é cautelosa em fazer projeções a respeito de prazos para que a vacinação seja levada a todos os idosos e, em seguida, a outros grupos mais jovens. "Ainda é difícil trabalhar com uma programação mais detalhada porque não temos nem a certeza de quando vamos receber a próxima remessa de vacinas. O que posso garantir é que, tendo essas doses, nossa estrutura permitiria imunizar um grande número diário de pessoas em nossas 26 unidades de saúde. Hoje, como recebemos poucas unidades a cada entrega, ainda não é viável distribuí-las por toda a rede, por isso temos trabalhado de forma centralizada", destaca.

Após abertos os frascos, que contêm dez doses cada, o imunizante deve ser aplicado em até seis horas, ou precisa ser descartado, pois perde a validade. De acordo com a secretária, até aqui, não houve nenhuma perda.

"Falta transparência em todo o processo", critica vereador
O vereador Rafael Fantin, o Dentinho (PSD), já havia se manifestado há alguns dias cobrando da prefeitura a criação de um cadastro público para acompanhamento do plano de imunização no município, por meio de um Pedido de Informações que ainda não foi respondido pelo Poder Executivo. A listagem cobrada pelo parlamentar deveria ser atualizada diariamente no site da administração e conter dados discriminados de cada grupo prioritário e da execução da vacina, com lotes e datas, e indicar a função ou a condição da pessoa que recebeu o imunizante e também o local em que trabalha ou reside. "Consideramos que essa iniciativa permite enfrentar com transparência e lisura a maior crise sanitária da história do município, e, além de garantir o efetivo acompanhamento de toda a campanha, poderá servir como uma das formas de evitar o fenômeno dos fura-filas, o que já temos algumas notícias e denúncias", justifica.

Na avaliação de Dentinho, "falta transparência em todo o processo". "No modelo atual, a sociedade não tem acesso à lista de vacinados ou de quem faz parte dos grupos prioritários, além de não haver uma posição clara sobre os critérios que estabelecem quem faz parte dos grupos prioritários", complementa.

Em uma análise mais ampla com relação à gestão da pandemia realizada na cidade, Fantin aponta a preocupação com o volume de mortes associadas à Covid-19. "Proporcionalmente, o município de Bento Gonçalves está entre os que mais registram óbitos relacionados à doença, e este dado depõe contra a gestão da pandemia realizada no município. O fato de que não há uma avaliação deste fenômeno indica que as autoridades não têm respostas para justificar esses números. Hoje, são 161 óbitos relacionados à Covid-19, o que indica que a cidade registra um óbito a cada grupo de 750 pessoas", salienta.

Por fim, o parlamentar também entende que o governo bento-gonçalvense deveria ter buscado meios para priorizar a vacinação de idosos antes de profissionais da saúde que não estão na linha de frente do combate ao coronavírus. "Ainda que os protocolos sejam estabelecidos pelo estado e pela União, a falta de uma revisão desses critérios, ou mesmo a ausência de um debate ampliado com a sociedade sobre o tema, indicam que não há uma aproximação do Poder Público com os anseios e necessidades da população", conclui o vereador.