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RELIGIOSIDADE: Conhecimento para romper barreiras e eliminar preconceitos

Evento intitulado "Vidas negras religiosas importam", que ocorre no próximo dia 20, em Bento Gonçalves, contará com a presença de representantes de diversas crenças, em um debate sobre respeito e tolerância na expressão da fé

18/11/2020 às 21h52 Atualizada em 21/11/2020 às 12h27
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Jorge Bronzato Jr.
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Jorge Bronzato Jr.
Jorge Bronzato Jr.

O Dia da Consciência Negra, celebrado na próxima sexta-feira, 20 de novembro, será marcado em Bento Gonçalves por um amplo debate que envolverá líderes de diferentes religiões em torno do tema "Vida Negras Religiosas Importam". Aberto à comunidade, o encontro, que ocorre no Auditório 2 da Fundação Casa das Artes, é mais uma iniciativa dos grupos locais de matriz africana que buscam, por meio da informação, romper barreiras impostas por séculos de preconceito e de ignorância com relação à forma como expressam sua crença.

O evento também será uma oportunidade para a apresentação do "Mapeamento dos Pontos de Referência Cultural dos Povos Tradicionais de Matriz Africana". O trabalho, coordenado pelo babalorixá Saul Júnior de Ogum Adiola, promoveu um levantamento dos pontos onde estes manifestos religiosos são realizados em Bento Gonçalves e na região da Serra Gaúcha, a fim de garantir melhores condições e mais liberdade para o culto das religiões afro e afro-brasileiras. "O que nós estamos buscando em Bento é o respeito. Não queremos afrontar ninguém, queremos garantir que também tenhamos nosso espaço", ressalta o babalorixá Sávio de Oxalá, um dos convidados para a mesa de conversa (confira mais detalhes ao final do texto).

Sávio destaca ainda que, muito embora isso nem sempre seja tão aparente, as religiões de matriz africana mobilizam um grande número de moradores de Bento Gonçalves. "Só aqui no município, de acordo com o último Censo, nós temos mais de 300 casas. Mas, em muitas delas, tudo é feito de forma mais restrita, discreta. Isso também é uma herança do tempo em que, para fugir das perseguições, os escravos precisavam manifestar sua fé escondidos", explica.

Outro aspecto pouco conhecido é a proximidade já existente com outras religiões, e que tem uma importante contextualização histórica, como é o caso da ligação com o catolicismo. Para poder cultuar seus orixás, sobretudo nos tempos da escravidão, os negros escondiam as representações deles dentro das imagens de madeira dos santos católicos e, assim, "disfarçavam" as suas manifestações. Essa necessidade gerou uma relação de respeito e de aproximação entre os dois lados, fazendo com que os santos tivesse os seus orixás equivalentes – o chamado sincretismo religioso. O padroeiro de Bento Gonçalves, Santo Antônio, por exemplo, é representado por Bará, o Senhor dos Caminhos, junto aos povos de matriz africana.

No outro extremo, o desrespeito que ainda persiste, em muitas situações, extrapola situações de críticas mais duras ou de ofensas verbais e chega a reações violentas, como agressões físicas aos praticantes e danos materiais aos espaços que eles ocupam. Com seu templo há 12 anos no bairro Ouro Verde, Sávio lembra que, nos primeiros meses de funcionamento, teve o telhado destruído com pedras que foram lançadas no local e quase atingiram frequentadores. "Muitas coisas melhoraram nos últimos anos, mas ainda seguimos lutando para não sofrer mais este tipo de ataques. A sociedade precisa nos entender, para poder quebrar esse paradigma", avalia o babalorixá.

Conhecimento x Intolerância
Um assunto polêmico que inevitavelmente vêm à tona quando se fala do exercício religioso dos povos de matriz africana é a questão dos sacrifícios de animais, rito que, em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional, mas que ainda é visto com bastante contrariedade por uma parcela da população. Nesse sentido, muito mais do que a simbologia da oferenda, há também uma congregação dos envolvidos em torno do alimento. "Nós alimentamos o nosso povo com essa carne, não estamos jogando fora", afirma Sávio.

Um dos caminhos mais certeiros para mudar esta realidade de intolerância, na visão dele, é a educação. "Se pudermos levar nossa cultura para as escolas, por meio de palestras, com certeza vamos ajudar a fazer com que esse preconceito diminua. Sabemos que nossa religião é vista dessa maneira por ser uma religião negra, então precisamos falar sobre esse racismo. Nossa intenção não é doutrinar ninguém. Queremos que as pessoas saibam quem somos e o que fazemos. Nós ajudamos muitas pessoas, também desempenhamos um papel social muito importante", acrescenta.

De forma paralela, o grupo também se mobiliza para alcançar conquistas que permitam desempenhar as atividades sem depender de tantas exigências burocráticas, como a necessidade de que os templos tenham CNPJ. "Nós não somos uma empresa, não somos comércio. Somos uma religião", defende Sávio. Outra batalha que tem se fortalecido é a busca por um espaço em meio à natureza no qual eles possam realizar seus rituais religiosos sem interferências negativas ou até ameaças, que são corriqueiras.

O evento desta sexta-feira conta com a participação do Movimento Negro Raízes, da Sociedade Educativa e Cultural 20 de Novembro, Akara Capoeira e Africanamente-BG Escola de Capoeira Angola. Todos os protocolos de distanciamento controlados serão respeitados pela organização.

VIDAS NEGRAS RELIGIOSAS IMPORTAM – Convidados:

– Mediador: Babalorixá Loui Dornelles D’Oxum
– Babalorixá Diba de Iyemonja
– Paulinho Do Xoroquê
– Babalorixá Rafael de Osala (Candomblé)
– Babalorixá Sávio de Oxalá (Batuque)
– Yalorixá Lisi de Iemanjá
– Padre Ricardo Fontana (Igreja Católica)
– Erci Grapiglia (Centro Espírita Lar da Caridade)
– Babalorixá Tiago de Bará – Onílú
– Vinicius Boniatti (Islamismo)

Onde: Auditório 2 da Fundação Casa das Artes (Sala dos Espelhos)
Quando: Sexta-feira, 20 de novembro
Horários: 10h – Mesa Redonda com líderes religiosos
13h30 às 16h – Apresentações de dança do grupo Ododuá Dança Afro, seguidas de Toques e Rezas de Alabês convidados
Informações: (54) 9.9616.9018, com Sávio

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