
Uma policial civil do Rio Grande do Sul denunciou ter sido vítima de assédio sexual por parte do delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, fato que gerou grande repercussão na corporação e na sociedade. A inspetora, que preferiu não se identificar, relatou os episódios que a levaram a registrar uma ocorrência policial, culminando no indiciamento de seu superior. O caso, que ficou sob segredo de justiça até novembro de 2025, levanta sérias questões sobre a segurança e o ambiente de trabalho dentro da Polícia Civil.
De acordo com o relato da policial, o assédio começou logo no seu segundo dia de trabalho, em fevereiro de 2024, quando o delegado a convidou para uma reunião em sua residência, em Imbé. A inspetora se mostrou desconfortável com a situação e recusou o convite, afirmando que não achava apropriado se encontrar na casa do superior. "Ele não gostou daquela minha resposta", afirmou a policial, evidenciando a pressão que sofreu desde o início de sua carreira na corporação.
Um segundo episódio ocorreu em julho de 2024, quando, durante uma visita à Delegacia de Polícia de Cidreira, o delegado a chamou em seu gabinete e tentou puxá-la para um beijo. "Como assim, delegado?", questionou a inspetora, que se sentiu ameaçada e decidiu procurar a Corregedoria para registrar a ocorrência. Após o incidente, ela foi transferida para a Região Metropolitana a pedido, buscando evitar mais interações com o delegado.
O chefe de polícia, Heraldo Chaves Guerreiro, afirmou que a corporação agiu com celeridade e encaminhou o caso ao Judiciário. No entanto, não houve sanção administrativa interna, o que gerou críticas de representantes da UGEIRM — Sindicato dos Policiais Civis. A diretora do sindicato, Neiva Carla Leite, questionou a proposta inicial de transação penal oferecida pelo Ministério Público, que sugeriu um valor de apenas um salário mínimo para resolver o caso. "A dignidade de uma mulher vale R$ 1,5 mil?", indagou Leite, ressaltando a fragilidade das medidas contra o assédio na corporação.
Após o indiciamento, a proposta de transação penal foi reajustada para R$ 5 mil, mas o Ministério Público não comentou sobre os valores, afirmando que a oferta é uma obrigação legal em casos que atendem aos requisitos. A inspetora, por sua vez, revelou estar em tratamento psicológico e fazendo uso de medicamentos, expressando sua frustração e insegurança diante da situação. "Hoje eu consigo falar um pouco sem chorar sobre isso, em função de medicamentos e tudo mais. Mas é difícil", concluiu.