
O Vale dos Vinhedos está diante de um dos momentos mais decisivos de sua história. Após mais de um ano de estudos, audiências e reuniões com representantes de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, foi apresentado o Plano de Gestão e Desenvolvimento da Paisagem do Vale dos Vinhedos (Plan-Vale) — um projeto que busca garantir o crescimento ordenado e sustentável de uma das regiões mais simbólicas da vitivinicultura brasileira.
O plano, coordenado pelo arquiteto Vinícius Ribeiro, da empresa GO Soluções em Projetos, foi entregue oficialmente aos prefeitos dos três municípios e agora depende da aprovação nas Câmaras de Vereadores. “O que entregamos não foi apenas um documento técnico, mas um pacto entre o território e o tempo, para que o Vale cresça sem perder sua alma”, afirmou Ribeiro, em entrevista ao NB Notícias.
Com uma visão voltada à preservação da identidade e da paisagem local, o arquiteto enfatizou que o verdadeiro luxo do Vale dos Vinhedos está na simplicidade. “O Vale não precisa copiar ninguém. Não quer ser Gramado ou Canela. O Vale tem sua própria essência. O luxo está no silêncio da paisagem, no ritmo tranquilo da vida, na convivência entre vizinhos e na pureza do solo. Essa é a verdadeira riqueza desse território”, destacou.
A proposta do Plan-Vale é resultado de um extenso processo participativo, que envolveu agricultores, empresários do setor vitivinícola e turístico, representantes de entidades culturais e ambientais, jovens rurais e o Ministério Público. O objetivo foi construir um consenso sobre o que pode e o que não deve ser permitido no território.
“Os empreendimentos são bem-vindos, mas dentro de regras claras e coletivas. O plano autoriza atividades de moradia, cultivo, vitivinicultura, hospedagem de pequeno e médio porte e iniciativas culturais e turísticas que respeitem a paisagem e a comunidade local”, explicou o arquiteto.
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O documento define parâmetros técnicos rigorosos — como testada mínima dos terrenos, taxa de ocupação, permeabilidade do solo e número máximo de edificações por lote. A prioridade é proteger as áreas rurais e evitar construções de grande porte que possam descaracterizar o perfil do Vale.
“Atividades de grande porte só serão admitidas quando diretamente ligadas à vitivinicultura. O restante deve seguir o princípio do equilíbrio: gerar renda e desenvolvimento, mas sem romper com o que o Vale tem de mais valioso — sua identidade”, afirmou Ribeiro.
A elaboração do Plan-Vale mobilizou nove encontros qualitativos, três audiências públicas e dezenas de reuniões intermunicipais. Agora, o desafio é político: garantir que as três Câmaras Municipais aprovem o mesmo texto, preservando o caráter unificado do território.
“É um desafio aprovar um plano territorial em três municípios, mas acreditamos na sensibilidade dos vereadores e na capacidade de entender que o Plan-Vale é fruto de um trabalho técnico e afetivo. Ele nasce do encontro entre o conhecimento e o amor pelo território”, declarou.
Segundo Ribeiro, o projeto não é engessado e poderá evoluir conforme novas demandas surjam. “Se houver necessidade de ajustes no futuro, que sejam feitos coletivamente, sempre mantendo o espírito democrático e participativo que guiou a construção desse plano.”
O Plan-Vale surge após anos de disputas e debates sobre o zoneamento da região, que chegou a permitir construções verticais de até 31 metros de altura. A reação da comunidade e do Ministério Público motivou a criação de um estudo técnico capaz de propor regras mais equilibradas e permanentes.
“Modificá-lo é alterar a alma do Vale. O Plan-Vale não é uma barreira ao progresso — é um guia para garantir que o desenvolvimento aconteça sem que percamos aquilo que nos torna únicos”, concluiu Ribeiro.