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HISTÓRIA DE VIDA: Morador de Bento faz de sua Kombi a terapia para lidar com o câncer

Hélio Zuleger Gerhardt, de 44 anos, fez da reconstrução de sua Kombi um passatempo para se distrair do tratamento. Agora, ele e a esposa almejam embarcar na “Kombenta” para novas aventuras pelo Estado.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio Fonte: NB Notícias
24/09/2020 às 20h20 Atualizada em 01/10/2020 às 12h52
HISTÓRIA DE VIDA: Morador de Bento faz de sua Kombi a terapia para lidar com o câncer
Kévin Sganzerla

Imagine você fazer o que gosta por anos e ver esse prazer se esvair repentinamente. Tal fato ocorreu com o morador de Bento Gonçalves, Hélio Zuleger Gerhardt, de 44 anos, agravado pela notícia do diagnóstico de um câncer. Com 15 anos de estrada, o caminhoneiro se viu preso ao tratamento, mas encontrou uma saída: a sua “kombenta”, nome que deu para sua Kombi, a qual foi reformada ao longo de um ano com o objetivo de voltar às estradas ao lado de sua esposa.

Foi no Mato Grosso que Hélio foi informado sobre o diagnóstico, em junho de 2018. A sua rotina nas estradas pelo Brasil, de repente, foi completamente interrompida. “Parar de viajar foi um baque. Renovei em janeiro minha carteira e quando olhei que a categoria baixou para a “B” foi um baque. Batalhei para tirar a categoria tanto “D” como a “E”. Para muitos a carteira de motorista não vale muito, mas para mim era meu orgulho, pois era a minha profissão, o meu ganha pão”, pondera.

Depois de seis meses após o diagnóstico de um Linfoma Não Hodking, Hélio voltou a Bento Gonçalves, onde foi acolhido pela Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan), a qual se tornou sua família na cidade, ajudando-o com medicamentos e apoio psicológico. Neste período de tratamento, Hélio encontrou no youtube uma vocação para enfrentar a luta contra o câncer. 

Ao assistir vídeos sobre “kombeiros” - pessoas que viajam pelo mundo em uma Kombi -, como Virando Mundo e o Casal Lavanda, Hélio decidiu resgatar um laço afetivo que esteve muito presente na sua vida, uma vez que aprendeu a dirigir justamente em uma Corujinha. “Como não tinha condição de comprar uma boa, então comprei uma que veio de guincho. Quase apanhei da mulher”, comenta Hélio em tom de humor. 

De fato, a sua esposa, Neusa Freitas, inicialmente não aprovou a ideia. Porém, ao observar a significativa melhora que a Kombi proporcionou a ele, agora não vê hora de realizar longas jornadas pelas estradas ao lado do seu marido. “Eu dizia que era loucura ele fazer isso, pois ele não estava bem, mal andava. Sabia que o problema dele era grave. Ele teve problema de pulmão e de coração, devido ao linfoma, e me preocupei com isso. Mas ele teimou e fez. Agora está aí, sorridente. Para ele foi uma terapia. E estamos ansiosos para poder sair e viajar com ela”, relata. 


Ao mesmo passo que Hélio realizava o seu tratamento para combater o câncer, ele reconstruia a sua Kombi aos poucos, dentro de suas limitações, uma vez que a doença afetou as quatro últimas vértebras da sua coluna vertebral. “Foi feito toda a parte de mecânica, depois comecei toda a parte da lataria, conforme eu conseguia. Não tinha condições de trabalhar direto, tanto é que levou um ano para completar”, explica Hélio. 

Ao conciliar o tratamento com a sua paixão pela estrada e, em específico, por Kombis, comprovada pelos inúmeros quadros espalhados pela casa, Hélio conseguiu superar as dificuldades enfrentadas na luta contra o câncer. 


“A Kombi foi um escape para não entrar totalmente em depressão. Foi aquele momento de sair de dentro de casa para trabalhar na garagem. Nem que eu trabalhasse uma hora só, mas era aquela uma hora mudava a cabeça, virava o disco. Às vezes ficava sentado só olhando para a Kombi, pois não tinha condição de trabalhar, mas distraia, imaginava quando ela estaria pronta”, relata.  

A reforma: 

Hélio não sabia pintar e pouco entendia de mecânica. Assim como surgiu a ideia da Kombi, foi também através do youtube que o caminhoneiro aposentado foi aprendendo o básico  para reconstruir a “Kombenta”. 

“Comprei o documento e a carcaça, o resto foi feito”, assim relata Hélio, que a transformou em um novo veículo. “Nunca fiz chapeação. Já trabalhei com muitas coisas antes de ser caminhoneiro, mas chapeação nunca tinha feito. Assisti no youtube e fui aprendendo. Assistia o pessoal ensinando a pintar, a passar massa, a lixar.. Fiz uma restauração a “la italiano”: Vá massa. Minha Kombi não é mais alemã, é italiana agora. É só massa”, explica Hélio, com muitas risadas. 


A primeira etapa foi concluída. Mas Hélio explica que ainda restam mais alguns meses de trabalho para finalizá-la para iniciar as suas jornadas pelas estradas do Brasil. “A minha esposa diz que sou muito detalhista. A Kombi não ficou como eu queria. Ficou pintada, bonita, mas mais adiante vamos mexer de novo. Porém antes vamos queimar ela um pouco na estrada”, salienta com um largo sorriso no rosto. 

Com muito orgulho do seu trabalho, Hélio está prestes a concretizar o seu objetivo de voltar às estradas, desta vez não simplesmente a trabalho, mas sim para vivenciar novas aventuras pelo Rio Grande do Sul ao lado de sua esposa, embarcando na Kombenta e se tornando o mais novo “kombeiro viajante” de Bento Gonçalves. 

Mesmo restando ainda os últimos retoques, Hélio já pensa em aumentar a família. “A Kombi vem há anos na minha vida e chegou a vez dela entrar na minha vida. Se tudo der cedo ela não sai tão cedo, só vai aumentar a família”, pondera.  

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