No dia 12 de outubro, milhões de brasileiros voltam seus olhares e corações a Nossa Senhora Aparecida, a santa que se tornou símbolo de fé, esperança e união nacional. Padroeira do Brasil desde 1930, sua história começou de forma simples — nas águas escuras do rio Paraíba do Sul, no interior paulista — e transformou-se em um dos maiores fenômenos de devoção popular do país.
A história remonta a 1717, quando três pescadores — Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso — foram encarregados de garantir o peixe para um banquete em homenagem ao Conde de Assumar, então governador da Capitania de São Paulo. Depois de várias tentativas frustradas, João Alves lançou a rede e retirou do rio o corpo de uma pequena imagem de barro, sem cabeça.
Ao lançar novamente, encontrou a cabeça da imagem.
Após o reencontro das duas partes, as redes voltaram ao rio — e, segundo o relato dos pescadores, o milagre aconteceu: os peixes começaram a aparecer em abundância, enchendo os barcos.
A imagem, de 36 centímetros de altura, foi levada à casa de Filipe Pedroso, onde começou a receber orações, flores e velas. O pequeno oratório cresceu, transformou-se em capela e, mais tarde, em Basílica Nacional de Aparecida, hoje o maior santuário mariano do mundo, que recebe cerca de 12 milhões de visitantes por ano.
A força de Nossa Senhora Aparecida está em sua identidade popular e acolhedora. Negra, simples, encontrada nas águas por trabalhadores humildes, ela simboliza a mãe que acolhe todos os filhos, especialmente os mais pobres, esquecidos e aflitos.
Para os fiéis, Aparecida é mais do que uma imagem: é refúgio e consolo. Milhares de romeiros percorrem quilômetros a pé, de bicicleta ou a cavalo até o santuário, em promessas e agradecimentos. Outros se unem em casa, nas comunidades e nas paróquias, reforçando a ligação afetiva com a santa que — segundo a tradição — “apareceu para o povo, não para os poderosos”.
“Nossa Senhora Aparecida é o rosto materno de Deus para o povo brasileiro. Sua cor, sua história e seus milagres falam de um amor sem distinção”, resume o teólogo e padre José Augusto Ribeiro, especialista em religiosidade popular.
Mesmo longe das igrejas e do Santuário, há diversas formas de homenagear a padroeira no dia 12:
Monte um pequeno altar com flores, uma vela e a imagem de Nossa Senhora;
Reze o terço em família, pedindo proteção para o país, saúde e paz;
Ouça ou cante o hino da padroeira (“Dai-nos a bênção, ó Mãe querida…”), um dos mais conhecidos da fé católica;
Assista à Missa Solene transmitida ao vivo do Santuário Nacional, em Aparecida (SP), pelas emissoras de TV e redes sociais;
Pratique um gesto de solidariedade, doando alimentos, roupas ou tempo a quem precisa — um dos maiores ensinamentos de Maria é o amor ao próximo.
Para muitos devotos, o mais importante não é o lugar, mas o gesto de fé e gratidão. Em tempos de incerteza, Nossa Senhora Aparecida continua sendo, como dizem os romeiros, “a luz que guia o caminho do povo brasileiro”.
De um pequeno milagre no século 18 à grandiosidade da Basílica de hoje, a história de Nossa Senhora Aparecida é também a história do Brasil — um país que, apesar das diferenças, encontra na fé um ponto comum de encontro e esperança.
E enquanto o sino de Aparecida tocar neste 12 de outubro, milhões de vozes ecoarão o mesmo pedido simples e atemporal:
“Mãe Aparecida, rogai por nós.”
Curiosidades
A imagem original foi feita de barro paulista do Vale do Paraíba e mede apenas 36 centímetros.
Em 1930, o papa Pio XI proclamou oficialmente Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil.
A Basílica Nacional, inaugurada em 1980, tem capacidade para 45 mil pessoas e é o segundo maior templo católico do mundo, atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O dia 12 de outubro é também Dia das Crianças, por decisão do Congresso Nacional em 1924, unindo simbolicamente a pureza da infância à maternidade protetora da santa.
Em Bento Gonçalves, paróquias e comunidades católicas celebram o feriado com missas, procissões e terços comunitários, mantendo viva a fé em Nossa Senhora Aparecida, a mãe que, há mais de 300 anos, segue “aparecendo” no coração de cada brasileiro.