Mais uma vez, produtores rurais do Caminhos de Pedra, no distrito de São Pedro, em Bento Gonçalves, denunciaram a morte em massa de abelhas em seus apiários. Entre a quinta-feira (27) e a terça-feira (30) de setembro, milhares de insetos apareceram mortos nas colmeias, levantando suspeitas de uso irregular de agrotóxicos em propriedades próximas.
De acordo com os apicultores, que pediram anonimato por medo de represálias, o veneno utilizado em lavouras vizinhas teria sido carregado pelo vento, alcançando as colmeias e provocando a mortandade.
Especialistas apontam que, em muitos casos semelhantes, estão envolvidos agrotóxicos de uso proibido no Brasil, como o Fipronil — inseticida altamente tóxico para abelhas — e outros produtos do grupo dos neonicotinóides, que atacam o sistema nervoso dos insetos.
Apesar das restrições legais, esses produtos ainda circulam de forma clandestina no país, sendo aplicados em culturas agrícolas para combater pragas. O problema é que, além de exterminarem insetos nocivos, acabam atingindo também os polinizadores, fundamentais para o equilíbrio ambiental.
A morte de abelhas preocupa não apenas os apicultores, mas todo o setor agrícola e ambiental. Estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) indicam que cerca de 75% das culturas alimentares dependem da polinização. Ou seja, a redução drástica das populações de abelhas pode comprometer a produção de frutas, grãos, hortaliças e sementes.
No caso da Serra Gaúcha, a vitivinicultura e as pequenas propriedades rurais também podem ser afetadas. Além disso, a perda de abelhas compromete a biodiversidade, já que elas têm papel essencial na manutenção dos ecossistemas.
As denúncias feitas pelos produtores devem ser encaminhadas à Secretaria Estadual da Agricultura, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e aos órgãos de fiscalização ambiental, como a Fepam, para investigação da origem dos produtos utilizados. O uso de agrotóxicos ilegais é crime e pode resultar em multas, processos criminais e até prisão.
Ainda assim, os produtores afirmam que a fiscalização é falha e temem que, sem uma ação firme das autoridades, novas perdas aconteçam nos próximos meses, especialmente com a aproximação da safra.
A mortandade de abelhas no Caminhos de Pedra não é um episódio isolado. Casos semelhantes vêm sendo registrados em diferentes regiões do Rio Grande do Sul e do Brasil, revelando um problema crônico no uso indiscriminado de venenos agrícolas.
Para especialistas, a situação reforça a urgência de um debate sobre práticas agrícolas mais sustentáveis, que protejam não apenas a produção, mas também a vida de polinizadores e o futuro da alimentação humana.